Pois saiba que o frescor de Glowe está no encontro de uma guitarra semivirtuosa com batidas eletrônicas discretas e elegantes. É uma espécie de synth pop progressivo. Há profundidade, traduzida em riffs tortuosos como os ouvidos em “Forgotten And Sunken in the Lake Blue House”, uma viagem de 9 minutos e 32 segundos que abre o EP de seis faixas.
Em “Fake Interaction”, um cowbell pinga de maneira intermitente em uma camada sonora densa, que poderia facilmente virar uma ambient music xoxa, não fossem alguns loops bem-vindos e um solo de guitarra com um timbre doce e fantasmagórico.
“Bullshit” entrega sua verve roqueira — David ouve Portishead e Björk, e ao mesmo tempo é guitarrista da banda Movie Star Trash, convidada do último Psycho Carnival.
Ousado, o EP viaja aos anos 1980 e presta uma homenagem a Joy Division em “Disorder (Curti’s Dream)”. “É uma releitura de algo que me influenciou muito na adolescência”, diz Davi.
O toque brasileiro, mesmo que em forma de surf music, está em “A Praia”, única faixa com título em português.
Outra faceta interessante da coisa toda: para divulgar seu trabalho, Davi procurou o coletivo Atlas, site cuja função é catapultar bandas e projetos bacanas. Outro detalhe, quase paradoxal, é sua relação com redes sociais. “Não, não tenho Facebook”, revelou o músico. “Toma muito tempo. Se tivesse, não teria conseguido gravar o EP.” Novos tempos, e há gente por aí sabendo como aproveitá-los.