É de conhecimento de todos os 32 leitores do Pista 1 a preferência deste jornalista por sons “tortos, estranhos e obtusos”. Por isso mesmo ficamos entusiasmados com a notícia que chegou por e-mail: o surgimento da produtora Avant South, a partir do encontro entre a gravadora e o estúdio paulista Dissenso e do selo mineiro Essence Music – o primeiro dá uma mão para a crescente cena de música experimental brasileira, e o segundo, há dez anos, se dedica ao lançamento de artistas internacionais que o mundo deveria conhecer mais, caso de Boris, Acid Mothers Temple e Circle.
O início das atividades da Avant South será celebrado com a turnê brasileira do duo canadense Nadja – leia entrevista abaixo –, que mostra seu ambient metal no espaço DamaDame, em Curitiba, no dia 30 de novembro. A abertura é com a banda curitibana Black Sea — veja o serviço completo logo ali.
Ambient metal? É. Ou dreamgaze — termo cunhado pela dupla. Ou ainda acid noise, você escolhe. Aidan Baker (guitarras, vocais, eletrônicos) e Leah Buckareff, sua esposa, responsável por baixo e vocais, criam paisagens sonoras com a ajuda de percussões eletrônicas, vocais esparsos e atmosféricos, porém com acordes lentos e processados provenientes de uma guitarra penetrante e improvável — pense numa banda de pós-rock mais barulhenta do que o convencional batendo um papo com Tool. Os efeitos, como Aidan conta, podem ir da hipnose à catarse: “Em algumas vezes, as pessoas sentam no chão, fecham seus olhos e ficam bem meditativas. Em outras, o público fica bem ativo, dançando e se movendo.”
Projeções visuais instigantes serão o pano de fundo e irão compor a experiência digamos, extra sensorial das apresentações da banda, que durante sua primeira turnê pela América Latina lança o disco Queller.
Aidan e Leah formaram o Nadja em 2003, têm mais de dez discos lançados e participações em festivais dedicados à música experimental e de vanguarda, caso de Roadburn (Holanda), Experimentaclub (Espanha), SXSW (EUA) e Moving Noises (Alemanha). Agora é a vez de Curitiba, em um espaço igualmente aberto a novas experiências. Ao papo:
O que vocês estavam fazendo antes de responder a essa entrevista?
Eu estava trabalhando nas gravações de uma nova colaboração com o baterista Jakob Thiesen para um cassete que estamos lançando juntamente com uma tour no próximo ano.
Qual foi a última música que você ouviu?
Acabei de ouvir o álbum “Elizium” do Fields Of The Nephilim.
Como sua formação clássica esbarrou nessa cena dreamgaze?
Na mesma época em que eu estava estudando música clássica, na minha adolescência, comecei a ouvir punk e noise rock, em grande parte como algo para contrapor meu trabalho no gênero clássico. Escutar punk e música mais agressiva me levou, mais tarde, a sons mais experimentais, barulhentos e pesados do metal e noise.
Quais as expectativas para a primeira vez no Brasil?
Para ser honesto, nós não temos ideia do que esperar, pois será nossa primeira vez na América do Sul. Até agora, tivemos uma boa recepção dos fãs, então espero que haja grandes e entusiasmadas plateias.
Geralmente, como o público reage ao show de vocês?
As reações variam de lugar para lugar, cidade para cidade, então é difícil descrever uma reação padrão… Em algumas vezes, as pessoas sentam no chão, fecham seus olhos e ficam bem meditativas. Em outras, o público fica bem ativo, dançando e se movendo. Eu acho que experimentar nossa música é bastante subjetivo e as pessoas têm respostas amplas em relação a isso.
Como o barulho, o silêncio também é importante no seu trabalho?
Talvez não silêncio completo, exatamente, uma vez que raramente permitimos silêncio total em nossa música. Mas certamente sons dinâmicos, “quietos” e pequenos são importantes se para contrastar com as partes altas e pesadas.
O que você já pode dizer sobre o disco Queller?
Pensamos no Queller como nosso álbum new-wave/post-punk. Como tal, é um pouco mais calmo e estruturado do que outros discos, pegando influências de bandas como Killing Joke, Joy Division e Wire e reinterpretando seus sons através do espectro do Nadja.
Como é viver em Berlim, uma cidade intensa artisticamente e muito criativa em termos de música?
Existe muita arte e música em Berlim, sim. Algumas vezes tanta que é demais, o que, é claro, não é necessariamente uma coisa ruim. Mas é cansativo acompanhar tudo o que acontece lá. Berlim é uma cidade “pobre”, entretanto, e as pessoas não têm muito dinheiro. Então, enquanto alguém pode tocar regularmente ou produzir muito material, é difícil viver de arte somente, como nós. Então somos obrigados a fazer turnês e nos apresentar em outros lugares. O custo de vida em Berlim é mais barato do que na maior parte das cidades da Europa e ela é localizada no centro do continente. Serve como uma boa base para viver e viajar para outros lugares.
Serviço:
Show: Nadja (Canadá) + Black Sea (Curitiba)
Local: DamaDame – R. Tapajós, 19 – Mercês
R$20. Dia 30/11, a partir das 20h.
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