Em 1990, quando o Plano Collor deu em água e a inflação ressurgiu, a Polícia Federal começou a prender gerentes e donos de supermercados por causa do reajuste dos preços. A ação era um completo absurdo, pois comerciantes têm o direito de fixar o preço que quiserem e não eram eles que causavam a inflação, e sim o próprio governo. Mas uma pesquisa mostrou que 84% dos brasileiros apoiavam as prisões.
Neste fim de semana, o Datafolha informou que 70% dos brasileiros são contra a reforma da Previdência. E 60% acreditam que a reforma trabalhista e a terceirização beneficiam os patrões.
O que essas pesquisas mostram é que não é bom confiar nas opiniões econômicas do povo. A massa dos eleitores facilmente cai no equívoco de apontar um culpado pelos desastres da economia. Judeus, especuladores, atravessadores, imigrantes, a elite em geral: bodes expiatórios não faltam na história.
O povo também costuma ser vítima da “ilusão dos direitos”. Acredita que benesses no trabalho são grátis, ou melhor, que são pagas pelo patrão.
Considere, por exemplo, o deputado que propuser uma lei criando 14º salário e determinando meio-expediente às sextas-feiras. Teria um enorme apoio popular. Quem não quer um salário a mais por ano e começar antes o fim de semana?
O que pouca gente enxergaria é que quem pagaria essas benesses seriam os próprios trabalhadores. Com o trabalho mais caro, menos patrões contratariam. Os trabalhadores, tendo que competir entre si por menos vagas disponíveis, aceitariam ganhar menos. Teriam 14º salário e tardes livres na sexta-feira, mas pagariam por isso com um salário menor.
É como a taxa de condomínio de um apartamento. Não adianta o proprietário falar que quem paga é o inquilino. Se a taxa for alta demais, o apartamento ficará pouco atraente para os novos inquilinos. O proprietário terá que baixar o valor do aluguel para compensar o aumento do condomínio. Ou seja: vai bancar parte da taxa.
Mas esse cemitério de consequências não-intencionais é oculto – pouca gente relaciona um salário baixo a “direitos” aprovados por deputados. Políticos sabem muito bem disso. Não se cansam de vender privilégios e benesses para aparecer por aí como defensores dos trabalhadores.
É por isso que é tão fácil aprovar leis trabalhistas e tão difícil derrubá-las. Oferecer almoços que parecem grátis rende mais votos que contar a verdade aos eleitores.