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A Lava Jato me fez ter orgulho de ser brasileiro

O Datafolha mostrou na semana passada que nunca houve tanta gente com vergonha de ser brasileiro. Já são 34% da população, quase quatro vezes mais que em 2010. A corrupção é uma das prováveis causas para esse crescimento.

Pois eu sinto contrário. Por causa da luta contra a corrupção, estou sentido orgulho de ser brasileiro.

Veja: sempre me pareceu cafona essa coisa de se orgulhar por ter nascido deste ou daquele lado da fronteira. Concordo com a frase de Samuel Johnson: “O patriotismo é o refúgio dos canalhas”. Acho até que negar as próprias raízes é um passo essencial para a maturidade.

Mas a Operação Lava Jato amaciou meu coração até então empedrado a questões nacionais. Tentei esconder o sentimento, tive dele uma pontinha de vergonha, mas é orgulho, puro orgulho do Brasil.

É um privilégio viver num país em que tanta gente está presa por corrupção. É de se aplaudir um país que trata corruptos bilionários como como criminosos comuns. É emocionante saber que homens entre os mais poderosos do país (o ex-presidente da Câmara, o ex-chefe da Casa Civil, o marqueteiro e o tesoureiro do maior partido) estão dividindo beliches em celas sem janelas em Curitiba.

Quando acordo depois de uma noite mal dormida e prevejo um dia ruim, penso, para me alegrar: Marcelo Odebrecht está preso. Eduardo Cunha está preso. João Santana está preso. Alguns já estão livres e outros serão soltos, mas pelo menos tiveram que por o rabo entre as pernas e se explicar com a Justiça. Esses homens perderam. As instituições venceram.

Não considero os procuradores do Ministério Público Federal cavaleiros alados que nunca erram; concordo com o ministro Gilmar Mendes, para quem a Lava Jato abusou das prisões preventivas e cometeu outras “extravagâncias jurídicas”. Mas o tanto que a Operação já conseguiu até aqui é espetacular, é maravilhoso. Deveríamos criar um feriado nacional em homenagem à Lava Jato.

O governo do PT ajudou a corromper o capitalismo no país. Impérios financeiros se formaram no balcão de privilégios, e não no jogo honesto de oferecer produtos melhores ou mais baratos que a concorrência. Empresas davam propinas e verbas de campanha a políticos que as recompensavam com contratos superfaturados ou medidas provisórias para afastar concorrentes. Sabe-se se lá onde esse círculo vicioso nos levaria se os procuradores não o contivessem. A Lava Jato salvou o capitalismo no Brasil.

Nelson Rodrigues dizia que cada época tinha um Homero, um Camões à mão para entupir um fato de rimas e torná-lo grandioso; já nós teríamos os jornalistas concentrados em retratar os fatos com uma seca objetividade. Precisávamos de um Dante ou um Camões para dar à Lava Jato sem devido valor e ungir os brasileiros de orgulho e histerismo cívico.

Há muitos motivos para ter vergonha de ser brasileiro. Mas a luta contra a corrupção é uma bela razão para sentir orgulho deste país.

 

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