O encolhimento da calota polar é o parâmetro que os cientistas mais usam para medir o aquecimento global. Por isso, todo mês de setembro, quando é verão no Hemisfério Norte e o gelo do Ártico chega a sua menor concentração no ano, climatologistas ficam de olho nas medições do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA.
Como essa instituição monitora a área de gelo desde 1979, é possível acompanhar a evolução da calota polar – e, assim, do aquecimento do planeta. Os dados que o centro libera nesta época costumam motivar mensagens alarmistas de ambientalistas – ou, como ocorreu neste ano, notícias repletas de omissões.
O WWF, maior organização ambientalista do mundo, disparou uma nota à imprensa informando que o “nível de gelo no Ártico em 2017 é a oitavo menor da história”. A nota ressalta que a calota, com 4,64 milhões de km2, está 1,58 milhão de km2 abaixo da média de 1979 até hoje.
Eis um daqueles casos em que depende da nossa avaliação determinar se o copo está meio cheio ou meio vazio. As informações do WWF são verdadeiras: de fato, o copo está meio vazio. Mas seria mais honesto se a ONG não omitisse razões para acreditarmos que o copo está meio cheio, como estas:
– A calota polar fechou este verão 10% maior que em setembro do ano passado. São 500 mil quilômetros quadrados a mais – o equivalente ao território da Espanha.
– A área mínima de gelo do Ártico em 2017 é a quarta maior dos últimos onze anos. Perde para 2009, 2013 e 2014, ganha dos demais.
– Em relação ao verão de 2012, quando chegou ao menor valor da história (3,39 milhões de km2), a área atual é 1,25 milhão de km2 maior – o equivalente ao estado do Amazonas.
– O tamanho atual contraria diversas previsões de ambientalistas, como a de que não haveria mais gelo nos verões do Ártico em 2013.
As idas e vindas da calota polar dificultam qualquer afirmação contundente sobre seu encolhimento ou crescimento. Simplesmente não dá para ter certeza sobre o que está acontecendo por ali.
O WWF, entretanto, joga para baixo do tapete a dificuldade de interpretação dos dados e considera a estatística atual uma prova irrefutável do aquecimento do planeta. “Isto é a realidade”, diz, na nota à imprensa, Alexander Shestakov, um dos diretores da ONG. “As emissões, tanto de gases de efeito estufa quanto de carbono negro do aumento do transporte marítimo do Ártico, estão criando uma verdadeira tempestade no Ártico.”
Não dá para evitar a sensação de que essa declaração do diretor do WWF já estava pronta antes mesmo da estatística sobre o gelo do Ártico ser liberada.