“Lampedusa” me pergunta se parei com as respostas da fundação John Templeton. Agora que eu vi, foram quase dois meses sem comentar nenhum ensaio! Muita coisa ao mesmo tempo… mas vamos até o fim, agora com a nona resposta, de mais um ateu militante.
Victor Stenger: sim
Curiosamente, ele é o único dos 13 autores que disse apenas “sim” – e apenas mais um lascou um “sim”: foi Steven Pinker, lá no começo, mas colocando condições. Totalmente convicto do que diz, Stenger vai encerrar seu ensaio dizendo que não apenas a ciência torna a crença em Deus obsoleta, mas também a torna incoerente. Então tá, vamos ver por quê.
Stenger é físico e astrônomo, e é por essa linha que ele vai raciocinar, embora comece o ensaio falando de William Paley e Charles Darwin. Na parte que interessa, Stenger diz que, antes do século XX, acreditava-se que a mera existência de matéria no universo era prova de que havia um criador. Afinal, de onde vinha a matéria? Mas, diz o físico, Einstein mostrou que a matéria podia vir da energia. O que não ajuda muito a causa ateísta, pois de onde veio a energia?
A resposta de Stenger: “Essa questão permaneceu sem resposta por quase um século até que observações precisas com telescópios determinaram que há um balanço exato entre a energia positiva da matéria e a energia negativa da gravidade. Então, não foi necessária energia para produzir o universo. O universo pode ter surgido do nada.”
Se você achou que “o universo pode ter surgido do nada” é uma afirmação esquisita, não está sozinho. Agora, convenhamos: se Stenger realmente aposta suas fichas nisso, eu admito que ele é um sujeito que tem mais fé que eu ou que qualquer crente. Afinal, embora não haja evidência laboratorial de que Deus criou o universo (como também não há evidência laboratorial de que o universo surgiu do nada), pelo menos nós temos alguns argumentos filosóficos para defender uma criação. Stenger não tem nem mesmo a filosofia como apoio: é fé em seu estado puro! No capítulo 11 de A Verdade sobre o Cristianismo, Dinesh d’Souza bate em Stenger citando o cético David Hume: “Nunca defendi uma proposição tão absurda quanto a de que qualquer coisa pode surgir sem uma causa”, escreveu o filósofo escocês em uma carta.
Stenger (que, aliás, é autor de vários livros, dos quais o mais recente é God: The Failed Hypothesis. How Science Shows That God Does Not Exist, não traduzido no Brasil) também menciona o Big Bang – aliás, teoria proposta por um padre – em seu apoio. Diz ele que o universo “começou num estado de desordem máxima. Ele continha a máxima entropia para uma minúscula área, equivalente a zero de informação. Então, ainda que o universo fosse criado, ele não conservaria a memória dessa criação ou das intenções de um possível criador”, afirma. Mais para a frente, Stenger diz que se Deus quisesse ter algum controle sobre os eventos da criação de modo a realizar algum plano cósmico, ele teria de intervir no meio da bagunça, mas, diz o físico, não há evidência disso. “O universo e a vida se mostram, para a ciência, do mesmo jeito que deveriam se mostrar se não tivessem sido criados ou planejados”, afirma. O problema desse raciocínio é deixar de lado a questão das leis da natureza. Por que a “intervenção” que Stenger pede não poderia estar nelas? Parece que ele escreveu um livro sobre a origem das leis da Física. Confesso que não li, mas, considerando que para Stenger o universo pode ter surgido do nada, não seria nada surpreendente se ele argumentasse que as leis físicas vieram do nada também.
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Mais sobre Victor Stenger:
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