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A gripe chega à igreja
| Foto:
Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Padre Leocádio, da Barreirinha, mandou cortar a água benta.

Aqui em Curitiba, o pároco da Barreirinha mandou tirar a água benta da pia e suspendeu algumas práticas que os fiéis costumavam realizar durante as missas, para reduzir o risco de contaminação com o vírus da gripe A(H1N1), a popular gripe suína. O “abraço da paz” foi suspenso, bem como as mãos dadas na hora do Pai Nosso. Além disso, o padre agora só dá a comunhão na mão das pessoas.

Como provavelmente todos os leitores do blog sabem, eu sou católico de missa dominical, e conheço bastante as normas litúrgicas da Igreja. Água benta é o de menos, pois o padre pode abençoar água para cada família usar em casa. O abraço da paz na missa é facultativo, mas eu acho ótimo que desapareça, porque normalmente as pessoas acham que virou um “liberou geral” e saem abraçando e beijando todo mundo, a um ou cinco bancos de distância; o padre desce do presbitério para cumprimentar meio mundo, enfim, o abraço da paz vira aquele momento de amnésia coletiva em que se ignora a presença da Eucaristia lá em cima do altar. As mãos dadas no Pai Nosso são outra história. Esse tipo de gesto não é permitido pelas normas da Igreja – para quem é familiar com o assunto: tudo que é possível fazer na missa está previsto ou no Missal Romano ou na Instrução Geral. Se não está lá, é porque não pode. Então, fico contente por terem acabado com as mãos dadas no Pai Nosso, mas lamento que a motivação para isso seja medo de doença, e não o respeito às normas litúrgicas.

Mas o que intriga mesmo é o lance da comunhão. Primeiro que absolutamente nenhum padre pode se negar a dar a comunhão diretamente na boca do fiel – é um direito dos católicos, como diz uma recente instrução do Vaticano (confiram no número 92). Se até agora a Congregação para o Culto Divino (o órgão que regula as normas litúrgicas em Roma) não se pronunciou, padre nenhum pode dizer “não” a quem abre a boca para receber a Eucaristia. Mais interessante é o que me contou uma amiga, bióloga com doutorado, a respeito dos riscos de contaminação, em um texto que já está na blogosfera católica: a pessoa chega à igreja, possivelmente de ônibus. Senta-se nos bancos onde outras pessoas já sentaram, apoiando as mãos no banco da frente. Pega em jornaizinhos que foram utilizados anteriormente por outras pessoas. Pega em dinheiro na hora do ofertório. Aperta as mãos de cinco ou seis pessoas durante o abraço da paz. Dá as mãos durante o Pai Nosso. Depois de tudo isso, sem lavar as mãos, ela vai receber a Eucaristia e, pegando-A com as mãos sujas, leva-A à boca! É muito mais razoável que o sacerdote, com as mãos lavadas antes da Santa Missa e durante o ofertório, coloque diretamente a hóstia sagrada na boca dos comungantes, bastando que ele distribua a comunhão como deve fazer, isto é, sem tocar nos lábios dos fiéis. Claro, isso depende de o padre ter a habilidade para tanto (deveria ter). Fica ainda mais fácil (digo por experiência própria) se o comungante estiver ajoelhado diante do padre, que só precisa “deixar cair” a hóstia dentro da boca da pessoa.

Bom, aí temos a avaliação de uma cientista sobre a questão da distribuição da Eucaristia. Que outros argumentos científicos poderiam ser elencados, considerando a ameaça da gripe suína, para favorecer a comunhão na mão ou diretamente na boca?

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