Ni Hao,
Shenzhen é uma cidade de apenas 30 anos e “um dos principais centros financeiros, urbanos, culturais e administrativos da China atual”. Por conta disto, a maior parte da cidade está repleta de prédios grandiosos e imponentes, incluindo o local onde moramos.
No entanto, Shenzhen conserva alguns lugares bem característicos que possuem tudo aquilo que imaginamos quando pensamos em China. A duas quadras aqui de casa, no bairro de Shekou, há duas ruazinhas que abrigam a “verdadeira China”. Elas são chamadas pelos estrangeiros de Old Shekou (velha Shekou), mas a brasileirada apelidou logo de Baixaria. Quando alguém diz que vai à Baixaria, ele certamente está indo comprar alguma coisa barata e de baixa qualidade.
Um passeio pela Baixaria é sempre surpreendente. As lojas, que ficam abertas 7 dias por semana, de manhã até de noite e às vezes de madrugada, são também os lares dos chineses que lá trabalham. Nos fundos das lojas, a gente consegue ver um quartinho ou uma salinha e, não raro, um sofá velho no meio da loja.
Às 6 da tarde, é hora de jantar e dar comida para a criançada recém-chegada da escola. Os “baixarenses” não se apertam: comem em cima do balcão, num cantinho qualquer da loja ou em mesinhas improvisadas no meio da rua. Dá até certo mal estar de interromper o momento sagrado da refeição para perguntar o preço de alguma mercadoria.
E que tipo de loja a gente encontra na Baixaria? Todos os tipos! Artigos esportivos, eletrônicos, souvenires, sapatos, alfaiatarias, papelarias, lojas que vendem as famigeradas motinhos elétricas, dezenas de lojas de ferragem (se loja de ferragem no Brasil é uma coisa pequena, feia e suja, imaginem na Baixaria!).
Outro dia, passeando com o Dudu cheio da grana depois do aniversário de 10 anos, louco para gastar o dinheiro, ele parou na frente de uma das lojinhas e me perguntou interessadíssimo: “o que é sex toys?”
A Baixaria também abriga diversos restaurantes. Na rua de trás que é menor e mais mal ajambrada, há uns que não existe a menor possibilidade de um estrangeiro se aventurar. Outros, na rua da frente, como o dos chineses mulçumanos (nós dizemos “vamos no Muslin”), servem pratos deliciosos apesar da aparência duvidosa. Macarrão feito em casa com vegetais, cogumelos, arroz frito… e a um preço inacreditável: 10 rmb ou 3 reais!
As barraquinhas que vedem espetinhos e panquecas sempre me atiçam a vontade de experimentar, mas confesso que ainda não tive coragem.
Os salões de cabelereiro também têm seu lugar garantido na Baixaria. O que eu acho interessante é o hábito que eles possuem de secar as toalhas do lado de fora. Não sei se isso é uma estratégia de marketing ou falta de varal mesmo.
Aproveitei para tirar uma foto de umas das dezenas de manicures que existem por aqui. Elas não têm muita experiência em tirar cutícula, mas queridas leitoras, olhem bem para estas poltronas gigantes!!! Aqui, não precisamos ficar sentadas naquelas cadeirinhas desconfortáveis dos salões brasileiros. Aqui, a gente afunda num poltronão e, se pagar, ainda recebe uma massagem no pé daquelas de não querer nunca mais voltar para casa!
De noite, segundo o Fernando que frequenta a Baixaria depois da balada, algumas lojinhas passam a vender cerveja e os chineses trocam o chá pela cachaça chinesa (mai tai), usando a mesma mesinha e o mesmo copinho de porcelana decorado. Além disso, é possível comer uma pizza gigante, deliciosa e barata vendida numa birosca encravada entre outras duas lojas.
A Baixaria é realmente uma baixaria, mas tenho que confessar. Eu e Luiz já sentamos num desses pé sujos num domingo à noite, roupa molhada de suor, tomando uma cerveja quente, apreciando a chinesada passear com a família e… nos sentimos estranhamente em casa.
Olhando para o fresco do Luiz, que não vive sem ar condicionado, que detesta sujeira e cerveja quente, cheguei à conclusão de que essa identificação toda só pode ser coisa de outra encarnação!
Zai jian
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