Ni Hao,
Olha, está muito difícil manter o blog atualizado. Shekou, onde moramos, está no maior clima de fim de festa. No final do ano letivo (que aqui acontece em julho), as famílias de estrangeiros ou vão passar as férias de verão em seus países, ou voltam de vez para casa. Todos os dias as crianças trazem um novidade triste: fulano vai embora, está é a última semana de sicrano na China…
Esta sexta-feira as crianças receberam o Year Book. Sabe aquele livro que a gente vê nos filmes americanos, com as fotinhos de todos os alunos da escola? Esse mesmo. Só que com uma grande diferença: as fotos são de alunos de todos os lugares do planeta!!! Crianças cujos pais viajam mundo a fora por conta de seus empregos. Crianças que, como aprendi recentemente numa palestra sensacional da Dra. Josephine Kim, são chamadas de Third Culture Kids (Crianças da Terceira Cultura).
Desculpe, mas eu vou dar uma de mãe coruja e tietar a filharada.
A Dra. Josephine foi uma dessas crianças. Uma coreana que, com 9 anos de idade, foi morar nos Estados Unidos. Como na América ninguém sabia onde ficava a Coreia, ela foi chamada de japonesa, de chinesa, sem saber que esse já era o início da sua perda de identidade.
Depois de passar um ano tirando notas baixas em todas as matérias, ela resolveu acabar com a palhaçada e decidiu que seria uma americana de verdade. E conseguiu, a ponto de um dia se olhar no espelho do banheiro junto com as amiguinhas e levar um susto: Quem é essa aí de olhinhos puxados, cabelo preto e liso? Eu deveria ser loira de olhos azuis!
Quatro anos mais tarde, o pai precisou voltar para a Coreia e lá foi a futura Dra. Josephine de volta para o seu país. Ou melhor, de volta para um país onde ela não sabia mais os códigos culturais. Na Coreia, mascar chicletes, colocar as mãos nos bolso e olhar um adulto nos olhos são faltas gravíssimas. E ela, como boa americana, cometeu todas. Dra. Josephine, aos 13 anos, já havia se transformado numa criança da terceira cultura.
Olhem que engraçado a foto aí embaixo: os emoticons (aquelas carinhas que colocamos em nosso e-mails) utilizados pelos asiáticos são diferentes dos utilizados pelos ocidentais. Nós expressamos as emoções através da boca, porque falamos tudo que sentimos. Os coreanos, na maior parte das vezes, não têm liberdade de falar o que pensam, por isso seus emoticons usam os olhos para expressar sentimentos.
Mas o que são crianças da terceira cultura? São aquelas que passaram a maior parte dos anos do desenvolvimento de sua personalidade longe do país dos pais. Ou aquelas, como meus filhos, que vivem 3 culturas simultaneamente. A da casa brasileira, a da escola americana e a do país chinês.
Essas crianças desenvolvem, ao longo do tempo, a capacidade de trocar de códigos culturais dependendo de com quem estão se relacionando. São crianças globalizadas e, segundo ela, os futuros líderes mundiais.
Aqui na China, nós estamos tendo a maravilhosa oportunidade de conviver com essas crianças. E desconfio, sinceramente, que nossos filhos já estão começando a se transformar em uma delas.
Vejam só, os melhores amigos do Dudu são o Owen, o Ido, o Takato e o Jack. O Owen nasceu nos Estados Unidos, saiu de lá com 3 meses e foi morar na Tailândia. De lá, veio para China onde está até hoje. O Ido é israelense e vive em Shenzhen há anos. O Takato é japonês e está aqui há pouco tempo como nós. O Jack é coreano, mas morou praticamente a vida toda na China. Aliás, Dudu acabou de voltar da festinha de aniversário do Nicholas (pai canadense e mãe chinesa) cujo brinde foi um pacotinho de alga seca!
Marcos, para cumprir sua carga horária de serviços comunitários da escola, hospedou (hospedei, né!) dois meninos que moram em Guangzhou que vieram participar de um torneio de vôlei em Shenzhen: um indiano e outro coreano.
Como eles fizeram para se entender? Games! Games! Games! Sem dúvida, a linguagem universal da garotada.
Mas o que dar de breakfast para meninos que comem arroz apimentado pela manhã? Na dúvida, fiz um delicioso chocolate quente com torrada e manteiga que os meninos mandaram ver!
Os coreanos, aliás, são uma espécie à parte. O menino da foto abaixo (assim como todos os coreanos que conhecemos) levanta todos os dias às 6h da manhã, come seu arroz e pega o ônibus para escola. Fica lá até às 16h, volta para casa e vai para outra escola. Às 18h volta para de novo casa, janta e faz dever até meia noite. Todos os dias!!!! Se ele é triste e estressado? Não mesmo! É conversador, ativo e até um pouco atacado demais para o meu gosto!
A Mari que, aliás, tem levantado de manhã e comido arroz com shoyu em vez de café com leite, tem um grupinho de amigos bastante, digamos, universal. Pedi para fazer uma listinha e ela levou o trabalho bastante a sério. Olhem só:
Olivia – Americana
Maartje – Holandesa
Chantelle – Autraliana
Camila – Boliviana
Ditte – Dinamarquesa
Shauna – Francesa
Sasha – Checoslovaquia
Lulu – Finlandesa
Taco (Gerardo) – Mexicano
Julian – Colombiano
Ricardo – Colombiano
Alejandro – Mexicano
Eric – Taiwanês
Raul – Mexicano
A Dra. Josephine termina a palestra dizendo que só conseguiu se casar com um coreano que, assim como ela, passou a infância nos Estados Unidos.
O mais irônico de tudo foi que, ao abrir para perguntas, um senhor coreano levantou o dedo e disse: Minha filha está começando a querer namorar. Como eu faço para evitar que ela namore meninos não coreanos?
É, gente, nós adultos ainda temos muito que aprender com essa criançada! E aproveito para dedicar este blog a meus filhotes que estão nos surpreendendo cada vez mais a cada dia. Good job, kids!
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