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Brasileiros em Shenzhen, Edvan Fleury

SÉRIE BRASILEIROS EM SHENZHEN

Ni hao,

Vocês acreditam que o “Família Brasileira na China” está virando referência para quem está vindo para estas bandas trabalhar, estudar ou passear? Nossa, gente, legal demais! Mas o melhor é que, por conta disso, tenho tido a honra de conhecer brasileiros destemidos, desbravadores e, diria eu, até meio maluquinhos, que vieram se aventurar pela China.

Enfim, chegou a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor! E vamos a eles!

Nosso primeiro convidado é o Edvan Fleury, manauense, 23 anos. Sonho: conhecer a Ásia.

Chris

Há meses atrás, recebi um email do Edvan dizendo, basicamente, o seguinte:

“Sou Jornalista, tenho 23 anos e faz algum tempo que eu era chefe de comunicação de uma pequena empresa aqui em Manaus. Um belo dia resolvi “chutar o pau da barraca” e disse para mim mesmo que o mundo era pequeno demais para não abrir a porta e explorá-lo. Nesse mesmo instante fui a mesa do meu chefe e disse que eu estava me demitindo porque eu iria “explorar” o mundo antes dos 30. Eu fiz uma lista de 4 coisas que eu iria ter antes do final do ano.

Foram elas:
• Emagrecer 14 quilos;
• Mudar de vida;
• Fazer algo completamente diferente do que eu já fiz aqui no Brasil;
• Me permitir viver uma grande paixão (esse item inclui apenas para dar mais emoção na história caso minha vida vire um filme HAHAHAAHAH);
Então estava eu, um desempregado gordo, sem a menor pespectiva de como eu iria conseguir isso. Até que me inscrevi em um programa de estágios através de uma ONG de estudantes. Me matriculei na academia e comecei a pesquisar lugares. Pois bem, fiz o contato com várias empresas e a maioria me rejeitou pelo fato de eu ser homem (acredite se quiser) e um belo dia abro meu email e recebo uma proposta para trabalhar em uma pequena escola de idiomas de um americano que mora aí na sua cidade.”

Sem querer agourar nada e com base em outras histórias que vi acontecer por aqui, pedi ao Edvan que tomasse extremo cuidado com este tipo de contrato aqui na China para não ser passado para trás, no que ele replicou:

“Meu estágio é pela AIESEC,uma organização estudantil presente em 111 paises, onde os estudantes podem se inscrever em programas de intercâmbio entre países com o objetivo de aprimorarem habilidades técnicas e humanas. No meu caso, eu escolhi um programa chamado GIP (Intercambio Corporativo entre Empresas).”

Enfim, a proposta de trabalho parecia bastante profissional e o Edvan, além de extremamente determinado, mostrou ter um senso de humor especial o que, aliás, foi a sua salvação na China.

Sim, porque as coisas não aconteceram bem do jeitinho que ele imaginou.

Logo na chegada, em Hong Kong, Edvan não conseguiu se comunicar com o, segundo ele, “único motorista de taxi da cidade que não falava inglês”e, por conta disso, quase perdeu a barca para Shenzhen.

Mas isso era apenas a ponta do iceberg.

O emprego do Edvan, meus amigos, não era nada daquilo que parecia. O dono da escola de inglês, um americano casado com uma chinesa, mudou as atribuições do Edvan no meio do caminho, não pagou o que disse que ia pagar e ainda tripudiou do pobre coitado: “Aqui na China é assim mesmo. Você não vai conseguir mudar a China”’.

Só que ele não sabia do que um brasileiro é capaz. Ainda mais um amazonense acuado, sem lugar para morar e sem dinheiro para comer.

O bichinho não deixou barato. Depois de uma crise histérica igual a da “Morena de Salve Jorge” (não tinha a menor ideia de quem ele estava falando), ele tomou as rédeas da situação e disse para o americano metido a chinês: “Eu posso não mudar a China, mas pelo menos vou mudar você!”

Resumindo uma história longa, que envolve até policial da imigração procurando por ele, Edvan fez o cara pagar pelo menos parte do que estava no contrato e ainda se retratar perante aos pais dos alunos. Yes! 1×0 Brasil!

Desempregado, prestes a voltar para a Manaus, Edvan viu um emprego no site shenzhenparty.com e saiu procurando uma tal de Anber, no 5º andar de um tal número 51 que ninguém sabia onde ficava. Com seu super google tradutor em mãos, Edvan se fez entender e hoje está trabalhando no departamento de comunicação, de uma empresa de e-commerce chinesa, como responsável pelas atividades de Maketing e Relações Públicas para todo o mercado brasileiro. Uau! Que volta por cima!

Nos últimos meses, empregado e com dinheiro para morar, comer, beber e fazer yoga, Edvan continuou usando e abusando do direito de se meter em encrencas na China.

Um dia, em busca de seu remédio para queda de cabelos chamado Finasterida, Edvan mostrou para o atendente da fármacia a tradução do Google para “manipulação de remédio”. Bom, advinhem o que aconteceu? Os caras acharam que o Edvan queria saber onde comprar drogas e chamaram a polícia. Por pouco não foi preso… de novo!

Outro dia, Edvan foi ao dentista fazer um curativo que, poucos dias depois, caiu. Voltou à clínica e tentou explicar o que tinha acontecido. A atendente insistia que ele nunca tinha estado naquela clínica, que ele era um charlatão e, advinhem, acabou chamando a polícia (não, de novo?!) para prender o Edvan por “perturbar a ordem”!

Edvan, mais uma vez acuado, finalmente lembrou que tinha uma foto no celular do dentista que o atendeu. E por que cargas d’água ele tirou a foto de um dentista? Vejam vocês mesmos aí embaixo. Enfim, tudo esclarecido, Edvan queria mandar a polícia prender a tal atendente já que era ela quem estava “perturbando a ordem”, mas foi dissuadido por sua grande amiga e anjo da guarda chinesa. Deixa disso, Morena!

Edvan Fleury

Querem mais? Outro dia, Edvan chegou ao trabalho e foi recebido com parabéns para você, cartão de aniversário, balões e tudo mais. Ele ficou tão feliz e emocionado que não teve coragem de contar que… não era aniversário dele. O que aconteceu foi uma confusão com a formato da data de nascimento (dia/mês x mês/dia) em seu contrato de trabalho. Bom, um mesinho de diferença não vai matar ninguém né?

Apesar de tudo o que vem acontecendo, Edvan adora a China! Segundo ele, três pontos fazem a diferença entre Manaus e Shenzhen: a segurança, o baixo custo de vida e a valorização do seu trabalho. Além da receptividade dos chineses. Aqui, ele se sente especial!

Especial mesmo. Acho que o Edvan é mais do que um brasileiro desbravando a China. Ele é um ser humano que se recusa a renunciar ao próprio sonho. Enfim, um sujeito inspirador!

Para quem quiser conhecer outras histórias do Edvan, ele mantém um blog muito divertido que eu recomendo a leitura.

Zai Jian

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