Para entender um pouco mais sobre o Natal na China (afinal de contas, as ruas estão todas decoradas), conversei com as minhas duas grandes fontes de informação: a Liu, que vocês já conhecem, e a Tina, minha professora de chinês a qual vocês serão apresentados em breve.
No caso da Liu, cuja família mora no interior, o Natal simplesmente não existe. Sua filha, que tem 16 anos, provavelmente vai sair com algumas amigas e só.
Para Tina, que mora em Shenzhen, uma cidade repleta de estrangeiros, o Natal é uma data do calendário ocidental que está sendo, aos poucos, incorporada ao calendário chinês.
Desde que ela está no primário, ou seja, há quase 30 anos, que o natal faz parte da sua vida. Seus pais nunca montaram uma árvore, mas acabam sempre fazendo um jantarzinho especial.
O nome em mandarim para natal é “shèng dàn jié” que significa Festival do Nascimento Sagrado.
Perguntei, só para testar, “nascimento de quem?”, mas ela não tinha a menor ideia até eu explicar que era de Jesus. “yesu” ela sabia quem era: o tal cara pendurado na cruz.
Por mais que a gente saiba que o cristianismo é muito pouco difundido por aqui (segundo a Wikipédia, apenas 8,6% da população da China), ainda assim é muito estranho imaginar que alguém possa não saber quem foi/é Jesus.
O fato é que o Natal é uma mistura de Halloween com Dia das Mães/Pais/Crianças: as casas, lojas e ruas são decoradas, como no Halloween, e compram-se presente para algumas pessoas mais próximas como no dia dos namorados.
Enfim, uma grande oportunidade do comércio alavancar suas vendas, tirando proveito da imensa capacidade de incorporação dos hábitos ocidentais pelos chineses.
Segundo o Hera, o Pizza Hut fica com filas enormes no dia 25 de dezembro. No entanto, todas as vezes em que o dia caiu no meio da semana, ele foi obrigado a trabalhar normalmente.
Este ano, participei da festa de natal do Jardim de Infância onde ele trabalha. Para quem já teve filho em creche, tudo parece muito igual ao Brasil.
Aqui em Shenzhen, e imagino que Pequim e Xangai também, há decoração natalina por todos os lugares e de todos os tipos. Todos mesmo! Deem uma olhada nas fotos de alguns locais próximos a nossa casa.
O preço para decorar sua própria casa é irrisório, para nós brasileiros. Minha árvore e seus enfeites custaram 280 RMB ou a bagatela de R$ 70,00.
Nossa família, eu diria, é bastante ecumênica. A família do Luiz é judia e a minha é uma mistura de católica com espírita. Tudo isso para dizer que, no nosso caso, o Natal simboliza o momento de união da família, não importando quem acredite no que.
E, estando tão longe dos nossos pais, irmãos, primos, sobrinhos e amigos, nosso Natal está meio “solado”. Sem amigo oculto, presentes de baixo da árvore ou planos para a ceia da meia noite.
Ainda assim, não podemos deixar de celebrar a união do nosso pequeno (pequeno?) núcleo familiar. Estamos todos passando por grandes desafios na China e, exatamente por isso, nunca estivemos tão juntos. Nós brigamos sim, mas sabemos que todos estão segurando bem firme uns nas mãos dos outros.
E, entre tapas e beijos, vamos passar o natal em Beijing, curtindo temperaturas abaixo de zero, nas Muralhas, na Praça da Paz Celestial e na Cidade Proibida.
E, com certeza, em vez de peru e tender, teremos os famosos espetinhos de escorpião e barata em nossa ceia da natal.
Feliz Festival do Nascimento Sagrado para todos, da Família Brasileira na China!