Ni Hao,
Este fim de semana eu e Luiz fomos usufruir do presente de aniversário que dei para ele: uma viagem à vila de Tai O em Hong Kong.
Para quem está aí no Brasil, tudo aqui parece tão longe e inacessível, não é mesmo? Comigo também era assim, até que vim morar em Shenzhen. Agora, ir a Hong Kong é quase como ir do Rio a Niterói, com a diferença de que temos que passar pela imigração e carimbar nossos passaportes. Brasileiros e várias outras nacionalidades não precisam de visto, mas os chineses sim, não é bizarro? Ir a Hong Kong é uma rotina na vida dos residentes de Shenzhen; rotina compartilhada tanto pelos expatriados como pelos chineses para desespero dos “honguikonguineses”. Mas este assunto rende um post inteiro… fica para outra vez.
A vila de Tai O na ilha de Lantau me foi indicada por uma amiga israelense. Ela, como arquiteta, se apaixonou pela história do hotel, Tai O Heritage , e me recomendou o passeio. Entrei no site , achei tudo lindo e reservei uma noite, com direito a um passeio de barco ao por do sol.
No entanto, dois dias antes de irmos, descobri que: Um, minha amiga nunca tinha ido lá, apenas ouvido falar. Dois, para chegar, era preciso 4 horas de viagem entre barcas, ônibus e metrô. Três, a previsão do tempo era de muita chuva. Comecei a achar que meu presente chinês estava ficando com cara de presente grego. Mas nada disso tirou o bom humor do Luiz e lá fomos nós!
Depois de 3 horas de viagem, já no terminal de ônibus da vila de Tai O, pegamos um último barquinho para chegar ao hotel, embora pudéssemos ter ido a pé. Antes, no entanto, o piloto deu uma voltinha no que é para ser o grande ponto turístico de Tai O e parte do meu presente para o Luiz: a vila de pescadores. Olhem vocês mesmos:
Pronto!, pensei, Luiz vai pedir a notinha e trocar o presente. Que roubada! Levar o marido para conhecer a favela da maré de Hong Kong foi muita incompetência de minha parte!
No entanto, como sempre temos que fazer aqui na China, mudamos a chave mental de Ocidental para Oriental, nos liberamos de nossos preconceitos, e começamos a tentar entender o que era tudo aquilo. A guia, durante o passeio ao por do sol, embora sem sol e com uma leve garoa, nos disse que todo mundo que mora ali é muito bem de vida. Alguns são até ricos!
As casas foram herdadas de geração para geração e ninguém tem que pagar nada por ela. Apesar de parecerem feitas de folhas de metal, elas são de madeira pintada de prateado para esquentar no inverno e resfriar no verão. Algumas pessoas moram efetivamente nessas casas à beira do mar.
Seus filhos possuem escola gratuita assim com assistência médica no pequeno hospital local. Mas, se eles ficarem muito doentes e o hospital não puder atendê-los, um helicóptero vem busca-los por apenas 100 Hong Kong dollar ou menos de 30 reais… Não ia ser má ideia simular uma crise de apendicite para fazer um passeio destes…
Voltando, para algumas pessoas, as casas são apenas de veraneio. Nos fins de semana e feriados, eles saem da rotina estressante de Hong Kong e voltam às origens. No feriado do Dragon Boat há uma corrida de barcos estilizados que, segundo a guia, é imperdível!
As madeiras das palafitas vêm diretamente de Macau e, quando molhadas, se tornam mais rígidas e resistentes. As casas possuem ar-condicionado, TV, Internet…. algumas já estão ligadas a rede de esgoto. Outras ainda trabalham com uma ligação direta privada-mar.
Ou seja, nossas primeiras impressões estavam muito longe da realidade. Tai O está mais para Veneza, segundo a guia, do que para a favela da Maré. Ok,ok, não é a favela da maré mas, Veneza Chinesa, também exagerou, né?
Para nossa alegria, o hotel era muito bom! Em 2008, eles recuperaram uma estação de polícia que atuava na época em que Hong Kong era colônia inglesa, ou seja, até 1997. Era por aquele marzão em frente ao hotel que chegavam os imigrantes ilegais que eram devidamente detidos. Nossa cela era super aconchegante ao estilo ocidental de ser, graças a Deus!
O resto do passeio foi o de sempre. Coisas estranhas, comidas esquisitas, cheiro de peixe podre e alga mofada, chineses simpáticos nos oferecendo ajuda, etc. Apesar do meu desejo ocidental de comer um peixinho frito com uma cervejinha gelada em frente ao mar, diante das escolhas que se apresentavam, tive que almoçar batata assada no restaurante de um inglês casado com uma filipina, que mora na China há mais de 20 anos.
Essa é a magia deste tipo de viagem. A gente conhece pessoas inacreditáveis (o que fazia aquele inglês alto de olhos azuis com sotaque britânico servindo mesa na vila de Tai O na ilha de Lantau?), se desvencilha dos preconceitos e acrescenta novas referências em nossas vidas. Uma sensação deliciosa de dominar o mundo! Dominar o mundo? Aff, acho que a megalomania chinesa está começando a me contaminar!
Leitores, este é o último post de 2012. Desejo a vocês um fim de ano cheio de comidinhas, bebidinhas e presentinhos que alimentam e acalentam nossas almas, nos dando a sensação de segurança e de pertencimento os quais só nos damos conta quando estamos longe de casa.
A família brasileira passará o Natal juntinha, apinhada que nem pinguim em tempestade de neve, tentando abafar, entre nós mesmos, as saudades que esta época do ano traz de nossos pais e amigos.
2013 eu volto!
Xin nian kuai le!