Ni Hao,
Nesta semana temos mais um feriado aqui na China e como vocês já sabem, mais um fim de semana com aulas na Shenzhen University para compensar os dois dias que serão enforcados. Tudo bem, já estou acostumada a ter aulas fim de semana e nem reclamo mais.
Aliás, eu falo tanto de feriado neste blog, que resolvi postar o calendário dos feriados oficiais da China caso vocês resolvam vir me visitar. Em resumo, evitem estas datas em que os chineses entopem ônibus, trens e aviões e os preços das passagens vão lá para cima.
Mas este blog não tem a ver com feriado. Tem a ver com uma realidade deliciosa que vivemos aqui na China e que já nem nos damos mais conta. Em Shenzhen, nós não pertencemos a uma comunidade específica. Em Shenzhen, nós somos cidadãos do mundo! Querem ver só?
Desde que o feriado começou, ou seja, ontem, Dudu não para de reclamar que os amiguinhos viajaram e ele não. Dois deles foram para o Camboja e dois para Tailândia. Coitadinho do Dudu! Neste feriado, ele só vai poder ir a Hong Kong comprar um skate novo. Hong Kong, que saco! Ainda bem que ele teve uma festa de aniversário de uma amiguinha espanhola para aliviar a encheção de paciênica sobre a gente.
Parece até que estou sendo pedante, não é mesmo? Mas é que para nós, passar o feriado no Camboja, Vietnam, Tailândia, Filipinas, Malásia, Macau é o mesmo que ir para Búzios, para quem está no Rio, ou Balneário Camboriú, para quem está em Curitiba.
Hong Kong, então, nem se fala. É só atravessar a ponte! Eu e Mari estamos nos programando para ir à praia lá neste feriado. A gente vai ter que pegar uma barca, um metrô e um ônibus e viajar mais de 3 horas para dar um mergulhinho no mar. Meio longe para quem morava em Copacabana, mas nesta vida tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. E até agora, a balança está bem mais pesada para o bom!
E não para por aí.
Ontem, fomos dançar no nosso local preferido em Shenzhen: o The Terrace. Na realidade, fiquei devendo um almoço de boas vindas para o Otto, mais um estudante brasileiro que ajudei a matricular na Universidade de Shenzhen e que, como todos os outros que estão aqui, se apaixonaram pela cidade. Resolvi tornar a gentileza mais divertida e pagar minha dívida em cerveja.
Enfim, o Otto, um fortalezense muito querido, chegou com mais um brasileiro, o Pedro, um curitibano de 23 anos que falava fluentemente o mandarim. Como assim? Estou aqui há mais de dois anos e ainda não passei do Nível Elementar? Bom, o Pedro, outro cidadão do mundo, já morou aqui quando tinha 16 anos. Hoje, ele está de volta à China para estudar e viajar pelo país. Quando eu tinha 23 anos, meu universo se resumia ao Rio de Janeiro e…melhor nem falar.
Mais tarde um pouquinho, chegaram as duas mais lindas irmãs mineiras que tive o imenso prazer de encontrar em Shenzhen: Gabriela e Fabiola. Logo depois, outra mineirinha chegou, mas esta é casada há 25 anos com um escocês, e junto com ela, uma balinesa e uma chinesa.
Em seguida, mais dois amigos do Otto: um coreano e um equatoriano que me pareceram meio intimidados pela animação brasileira ou pela diversidade de idades do grupinho que ia de 17 (da Mariana que apareceu lá de surpresa) a 50 (não vou falar de quem!).
Ao som da banda filipina, fomos dançar todos juntos na pista cheia de chineses que, a esta hora da noite, já estavam para lá de Marrakesh. E, como aqui as regras sociais são diferentes, foi um tal de dançar homem com homem, mulher com mulher, homem dos outros com mulher dos outros…
A Fabiola, animadíssima, pediu para o DJ chinês tocar música brasileira e ele, na melhor das intenções, selecionou uma série de músicas latinas e caribenhas, devidamente intercaladas com Michel Teló. Michel Teló na China? Assim você me mata!
A noite de sábado teve alguns pontos altos. O primeiro foi a performance da nossa amiga balinesa. Ela veio se comportando durante os primeiros 15 minutos da festa. De repente, ela me puxou para dançar e, ao chegar à pista, foi tomada por um pai de santo balinês. Ela foi se abaixando como uma funkeira nata e ficou de cócoras no chão, balançando os cabelos para frente e para trás, varrendo os pés de quem estivesse por perto. Uma chinesinha de óculos, com a maior cara de tímida, se empolgou e foi chegando junto…. se agachando…. e terminou de cócoras com as penas encaixadas nas da balinesa. Gente, no início estava até divertido, mas confesso que depois de um tempinho a coisa toda ficou parecendo uma cena do Exorcista!
Segundo ponto alto da festa também foi desempenhando por um chinês que, sabe Deus onde, aprendeu um passo de frevo com o qual dançava todas as músicas que a banda tocava: das baladas do Bruno Mars ao rock do Nirvana. Imaginem Smells like teen spirit em passo de frevo! Só faltava mesmo a sombrinha!
Ou seja, minha gente, a pista de dança parecia o verdadeiro samba do crioulo doido. Ou seria samba do chinês maluco?
Deixando a palhaçada de lado, esta semana descobri que a coreana que estuda na minha turma não é coreana. É brasileira. Ou melhor, ela nasceu no Brasil porque a sua família se mudou para São Paulo. Aos quatro anos, foi morar nos Estados Unidos onde foi educada. Hoje, está casada com um americano de origem chinesa e dá aula de inglês na escola dos meus filhos para coreanos expatriados. Anna anda com dois passaportes na bolsa, um americano e um brasileiro, apesar de parecer uma chinesinha de Shenzhen.
Atualmente, a minha sala de aula tem 70% de alunos coreanos e japoneses, para os quais o aprendizado do mandarim não é tão complicado, e os 30% restantes de ocidentais malucos que insistem em tentar aprender a língua.
Ou seja, leitores, o que eu queria mostrar para vocês é que essa diversidade cultural é uma das coisas mais apaixonantes que Shenzhen pode oferecer. Nenhuma outra cidade da China aceita e recebe tão bem os estrangeiros como aqui.
Se você quiser estudar na Shenzhen University ou fazer parte do grupinho do The Terrace para dançar frevo ao som do Nirvana, é só me mandar um e-mail: christianedumont@hotmail.com.
Zai Jian