Oi,
Estava assistindo à TV com as crianças quando o Marcos tirou, com a gentileza de um adolescente “preso” na casa dos avós por duas semanas, o controle remoto da minha mão e trocou de canal. Pedi, com a gentileza de uma mãe que vem convivendo 24 horas com três adolescentes de férias, para ele colocar no Jornal Nacional que eu queria assistir às chamadas das principais notícias.
A primeira chamada, “PF investiga fraudes no programa Minha Casa Minha Vida”, me fez conectar alguns pensamentos que me pareceram fazer sentido. Vejam se vocês concordam.
Em meados de março de 2011, quando ainda trabalhava na área de Projetos Especiais da Gazeta do Povo, abortamos um projeto de comunicação sobre o Minha Casa Minha Vida por que havia suspeitas de fraude em sua administração. Hoje, dois anos depois, a notícia permanece exatamente a mesma. O programa não foi alterado, as fraudes não foram eliminadas, ninguém foi preso… Ainda estamos na mesma longa e vagarosa fase de investigação.
Não sei se por coincidência ou não, mas venho tendo a sensação de que o tempo no Brasil parece andar mais devagar. Tenho esperado muito em todas as lojas em que entro aqui em Curitiba.
Na Droga Raia, eu e meus sogros ficamos mais de 20 minutos aguardando para comprar remédios e depois para pagar por eles. O mesmo aconteceu na farmácia Nissei: comprei uma pomada e fiquei mais de 15 minutos no caixa aguardando minha vez de pagar.
No supermercado Angeloni, apesar de não ter tido que enfrentar nenhuma fila, a máquina de passar o cartão estava quebrada. Tivemos que sair da fila e ir num caixa especial para efetuar o pagamento. Mais tempo perdido.
Na Renner do shopping Curitiba, segunda-feira 10h30min da manhã, fiquei uns 20 minutos para conseguir pagar por duas blusinhas: o computador de um dos caixas quebrou, o grampeador do outro não funcionava e o atendente parecia estar sob efeito de Ritalina.
Na Marisa, o preço dos produtos estava errado e precisamos esperar a gerente autorizar a caixa a mudar o valor dos produtos manualmente.
Na Localiza, três funcionárias da concessionária foram almoçar e apenas uma ficou atendendo a mim, a outro senhor e ao telefone que não parava de tocar. Mais uma espera de 20 minutos.
A sensação de lentidão voltou quando fui sacar dinheiro do caixa eletrônico do Itaú. Coloque o cartão, aguarde, retire o cartão, aguarde, coloque a senha, escolha a opção, coloque o cartão de novo, retire o cartão de novo…
Abre parênteses: Apesar de todas as filas que precisei enfrentar, justiça seja feita: aqui em Curitiba os atendentes são sempre muito gentis, educados e na maior parte das vezes muito simpáticos. Fecha Parênteses.
As filas nas quais fiquei (sem que ninguém tentasse furá-las como seria normal na China) me parecem ser mais um problema de treinamento do que qualquer outra coisa. Parece-me que eficiência, aqui entendida como “fazer o melhor uso possível do dinheiro, do tempo, materiais e pessoas” , não era prioridade em nenhum dos lugares que frequentei nas últimas duas semanas.
Mas não foram só as filas que me fizeram sentir o tempo passar mais devagar.
Domingo passado, levei o Dudu à Praça do Atlético para andar de skate, o que me deu a oportunidade de ver, in loco, a obra da Arena da Baixada.
Enorme, grandiosa, porém, parada.
Vocês vão dizer: Parada porque era domingo, ora bolas! Sim, era domingo, mas como venho falando ao longo desses dois anos, a China não para. As obras acontecem sete dias por semana, praticamente 24 horas por dia. Ainda mais se houver uma Universiade ou uma Olimpíada pela frente.
Na China, a sensação é inversa. Parece que não há tempo a perder. Não existe obra parada. As atendentes despacham você numa questão de minutos, seja na fila do supermercado ou da imigração para Hong Kong. Em menos de dez segundos ou cinco cliques, retiro até 5.000 RMB de uma só vez no caixa eletrônico.
Agilidade é a palavra de ordem. Num país de mais de um bilhão de habitantes, a fila anda!
Pode ser que tudo isso seja um devaneio proveniente do efeito das 11 horas de diferença de fuso horário no meu cérebro. Mas talvez, quem sabe a vagarosidade dos processos jurídicos, das mudanças políticas, das obras púbicas esteja contaminando o comportamento do povo de uma forma geral?
Será que nós brasileiros estamos diminuindo o ritmo sem nem mesmo perceber que isso está acontecendo? Será que somos como o sapo na panela de água quente que acaba morrendo cozido sem se dar conta?