Quando uma garrafa de um bom vinho velho nos sorri, é uma das maiores emoções que se pode ter no mundo de Baco. A última que me encantou foi um magnum do monumental Frei João Bairrada Reserva 1963, bebida recentemente no restaurante Durski.
Veio depois de um impecável 100 pontos, o Château Margaux 1996, e nem por isso deixou de iluminar os sentidos com uma luz ainda mais gloriosa que a do majestático Margaux. Possuía grande potência, uma fruta madura e rica, quase decadente, enfeitada por um delicioso fumado, notas de trufas, figos secos, sândalo, tâmaras e uma infinidade de sutilezas. Uma sinfonia – ou um solo de Rostropovich.
É preciso entender o que é um vinho velho. Não é qualquer bebida com muitos anos de garrafa. Ele precisa, sim, de muitos anos de garrafa, mas deve estar vivo, e bem vivo. Senão é vinho defunto. Sempre será um vinho especial, de grandes atributos, oriundo de vinhedos da maior qualidade e de uma safra muito bem resolvida.
Num vinho assim, o passar dos anos na verdade não o envelhece, não o torna decadente. Pelo contrário, traz maciez e uma complexidade admirável, como uma grande sinfonia. E o vinho não perde o frescor e nem a jovialidade. O Château Margaux 1996, quando chegar aos 45 anos de idade, será outra grande glória.
São poucos no mundo os vinhos capazes de envelhecer mais de 20 ou 30 anos. A maioria é de tintos e fortificados. Também não adianta apenas ser um grande rótulo. Pegue um dos maiores e mais longevos tintos do mundo, o Château Latour. O da safra de 1961 está começando a entrar no seu esplendor. Ao passo que o de 1962 tem tudo para, a esta altura, estar mais para vinagre … A safra é fundamental.
Agora, para quem pensa que brancos não envelhecem bem, digo que uma das maiores experiências de minha vida foi um branco com cerca de 25 anos de idade. Um Montrachet 1983 do Domaine de Romanée-Conti, bebido no local. Uma coisa indescritível, um vinho que fazia levitar de tão arrebatador. E ainda jovem, mais fresco que muito Montrachet com 5 anos de idade!
Aos discípulos de Baco, sugiro vivamente que se dediquem a procurar por grandes vinhos velhos. É como a busca pelo Santo Graal. Quebramos a cara muitas vezes, mas quando acertamos uma garrafa … é o Nirvana!
DEGUSTAÇÃO VERTICAL
O paraíso ao alcance do bolso
Apresentamos aos leitores um dos mais renomados grand cru classés da Borgonha, de produção muito limitada. É o fenomenal Clos des Lambrays, cuja vantagem adicional é ser um dos vinhos mais acessíveis dentro do rarefeito mundo dos caríssimos tintos da Borgonha de alta estirpe. O Clos des Lambrays situa-se na comuna de Morey-Saint-Denis. O vinhedo, com cerca de oito hectares, já era perfeitamente delimitado na Idade Média, havendo documentos da Abadia de Citeaux que registram o ”Crous des Lambrey”, já no ano de 1365. Clos significa um vinhedo cercado por muros.
Seu talentoso enólogo, Thierry Brouin, visitou Curitiba duas vezes nos últimos anos apresentando os vinhos. Somente as melhores uvas em cada safra vão para o Clos des Lambrays, das vinhas velhas, com idade média de 40 anos. O rendimento é de cerca de 3 mil l/ha. As uvas são vinificadas com engaço, na maior parte das vezes. Fermentam durante 15 a 18 dias, com pigeage diária. Depois, estagiam em barris de carvalho (metade nova, metade usada) cerca de 18 meses antes de ser engarrafado.
É um tinto bebido lindamente quando jovem, mas também é muito longevo, atingindo o apogeu por volta dos 10 a 15 anos. Vive mais de 50 anos nas melhores safras. Mostra fruta rica, viva, com boa mineralidade, e um delicioso traço que lembra gengibre ou raiz forte.
Reunimos sete das melhores safras deste século, numa prova vertical, para mostrar aos leitores a grande consistência da alta qualidade. Os vinhos devem ser servidos na temperatura de cerca de 20 graus C. Ideais com aves, caças e carnes suaves. A prova transcorreu na sala de degustações da Grand Cru. Após os trabalhos, o chef Marcelo Lauro brindou os presentes com um delicioso jantar.
Região: Morey-Saint-Denis – Côte de Nuit -Côte d’Or – Borgonha – França.
* O Clos des Lambays é importado pela Grand Cru. Todas as safras estão disponíveis na loja Grand Cru Curitiba. O endereço é Rua Pasteur, 90, Batel – telefone: (41) 3044-0292.
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