Estava com um grupo de amigos, grandes conhecedores de vinhos, há poucos dias. Numa certa altura, surgiu o dilema de encontrar um tinto especial, que se harmonizasse perfeitamente com carré de cordeiro assado. Sugeri que bordeaux não, pois era a escolha óbvia e conhecida de todos; par tradicional com cordeiros e vitelas.
Então, um dos convivas apareceu com um dos maiores tintos da Itália, nota 98 do Robert Parker ele mesmo. Digo Parker ele mesmo porque hoje em dia vemos muitas notas atribuídas ao Parker, mas que não são dele. São dadas pelos provadores contratados pelo grande guru para ajudá-lo no site “e-Robert Parker” e no impresso “The Wine Advocate”.
Quem divulga deveria tomar cuidado e indicar o verdadeiro provador, por exemplo: Jay Miller (Argentina, Chile e Espanha), Antonio Galloni (Itália), Mark Squires (Portugal). O Parker ele mesmo, de uns anos para cá, limita-se a dar notas a bordeaux, rhône e califórnia.
Mas como os outros nomes não atraem tanta atenção como “Parker”, e tem o gancho do nome do site, os abusos proliferam. O próprio Parker ameaça processar essa “propaganda enganosa”. Mas, a julgar só pelo que vemos no Brasil, pode faltar espaço na Justiça para tanto processo.
Bom, voltando ao tema, o vinho escolhido foi então o sublime Brunello di Montalcino Soldera Intistieti 1995.
Resolvi abrir um outro grande tinto de 1995, o português Bairrada Quinta do Ribeirinho Pé Franco 1995, do grande criador de vinhos, Luis Pato, como comparação. E para não perdermos a referência, por que não reconsiderar e por bordeaux na roda, também de 1995? Veio então o estupendo Château Margaux.
Uvas e regiões diferentes: Sangiovese Grosso, da Toscana; Baga, da Bairrada; e o blend do Margaux, de Bordeaux, com cerca de 75% cabernet sauvignon, 20% merlot e 5% cabernet franc. Muito difícil escolher o melhor, cada um com sua classe peculiar.
O Brunello era o mais claro e evoluído (apesar da cor profunda e intensa e longa vida pela frente ainda). O Bairrada, o mais retinto, quase igual ao Margaux. O bordeaux estava mais fechado e austero, porém era dono de um refinamento colossal. O Bairrada, começando a arredondar, frutado voluptuoso e muita categoria.
Na minha opinião e de boa parte dos provadores, um páreo duro entre o Luis Pato Pé Franco e o Château Margaux, o primeiro talvez uma cabeça na frente. O Brunello nem por isso menos bom.
Todos harmonizaram-se perfeitamente com o carré de cordeiro. Uma prova de que o mundo do vinho é fascinante pela diversidade de aromas, sabores e etapas de evolução das bebidas. Cada região e cada casta têm um atrativo próprio, assim como, nos grandes rótulos de grandes safras (como 1995 para os três de que falo), cada fase da longa vida do vinho é um encanto à parte.
Para a memória: O Pé Franco 1995 foi lançado por Luis Pato, pela primeira vez no mundo, aqui no Brasil: em Curitiba e em São Paulo.
Rótulos – eu indico
Duas vertentes: um tradicional e um moderno
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