Tem circulado recentemente, entre os amantes do vinho, um vídeo do Grand Jury Européen, também conhecido pela sigla GJE. Mostra uma prova de 11 dos maiores vinhos de Bordeaux, por um painel de grandes entendidos internacionais, realizado em Paris, em 2009.
Vinhos todos da mesma safra (2001) e na faixa de cerca de 150 a 1,5 mil euros a garrafa de 750 ml, preço Europa. Estavam presentes as jóias da coroa, como o célebres Châteaux Lafite Rothschild, Margaux, Latour, Haut-Brion e o mais caro de todos, vocês já sabem: Château Pétrus.
O GJE é uma organização privada. Reúne degustadores de renome e organiza painéis de provas às cegas para avaliação dos vinhos. Uma espécie de contraponto ao individualismo estrelado dos grandes críticos, como Parker, Tanzer, Jancis Robinson, Meadows e outros. O GJE aposta que os resultados de um painel, tratados com regras de estatísticas, pode dar numa avaliação superior à de um crítico isolado, por mais ilustre que seja. Rescende a um certo anti-Parkerismo, e é muito discutível o tema, mas tem seus méritos.
Na prova de que falo, foi incluído, secretamente, um mero Bordeaux Superior, o Château Reignac, de 14,90 euros a garrafa. Quando foi revelado o resultado, estupefação geral: em segundo lugar, o patinho feio! Em primeiro, o Angélus, na casa dos 150 Euros – sempre um grande St. Emillion. O Pétrus levantou um mero 8.º lugar. Em 11.º ficou o decantado Cheval Blanc, na casa dos 600 euros.
Como pode? Um vinho que no Brasil custaria perto de R$ 90, derrotar, na opinião de provadores de reputação indiscutível, os maiores nomes de Bordeaux, com preços muitos deles na casa dos milhares de reais a garrafa?
O figurino não é inédito. Foi celebrizado no Julgamento de Paris, organizado pelo crítico Stephen Spurrier, em meados da década de 1970. Naquela ocasião, também às cegas, um outro ilustre painel classificou os vinhos da Califórnia acima dos nobres vinhos de Bordeaux.
Conclusões a tirar do inusitado resultado? Diversas. Assunto para grandes conversas sobre vinhos, rótulos, suas avaliações e seus críticos. Uma verdade, sem dúvida: muitas vezes um vinho de menor preço se apresenta melhor e agrada muito mais do que um rótulo milionário. E mais outra: rótulos milionários não têm a qualidade medida apenas pelo nome; mas a safra e a fase de evolução do vinho são essenciais para que o preço pago se materialize no correspondente prazer e dimensão sensorial especial.
Borgonha às cegas
Os tintos da Borgonha estão no topo da hierarquia dos vinhos há mais de mil anos. Foram criados pelos monges da Idade Média. Meticulosamente, adaptaram e desenvolveram as melhores castas para os diferentes solos. A Pinot Noir nos tintos, e a Chardonnay nos brancos. Não é à toa que o tinto mais famoso e caro do planeta é da Borgonha. Trata-se do mítico Romanée-Conti, proveniente de um vinhedo já perfeitamente delimitado no século 15.
Escolhemos os tintos Borgonhas a.o.c. (apelação controlada), para nossa prova às cegas.Os vinhos surpreenderam pela limpidez, qualidade e bom acabamento de vinificação. E mais do que tudo, pelos preços muito convidativos. Uma conjugação inimaginável até há pouco tempo. Se era bom, Borgonha tinha fama de ser caro. Os leitores verão as belas surpresas quando lerem as notas de provas e verem os preços dos seis campeões da prova. Não precisa dizer que são vinhos supergastronômicos. Dizem intensidade, suavidade, maciez, perfume e vivacidade. Um charme imbatível. Qualidades raras de encontrar em conjunto fora da Borgonha. Borgonha não gosta de ser decantado. É só abrir e servir, no caso dos mais simples. Tirar a rolha e deixar o vinho na garrafa respirando, por uma ou mais horas, no caso dos premiers e dos grand crus. Temperatura de serviço em torno dos 15° C. Os vinhos da prova são para beber em até cinco anos.
A prova foi feita às cegas (sem conhecimento prévio dos rótulos) no restaurante Forneria Copacabana. O serviço foi bem conduzido pelo sommelier Eder Mauro. Após o serviço, o chef Wellington serviu um belo jantar. Esteve presente o restaurateur Beto Madalosso.
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