• Carregando...

Utilizada originalmente no corte dos vinhos de Bordeaux, a carmenère é uma uva com muita história para contar. Após a filoxera – um inseto cem vezes menor que uma garrafa de vinho – dizimar a produção mundial de vinhos na segunda metade do século 19, essa variedade desapareceu. Não era vista como uma grande promessa de bons varietais, por isso não foi replantada, sumindo das vinhas européias.

Já no fim daquele século, a imigração rumo ao Novo Mundo trouxe a vitivinicultura à América do Sul e aí inicia uma história um pouco controversa envolvendo a uva.

Conta-se que ela foi plantada inadvertidamente junto às cepas de merlot, como se fosse a própria.

Em meados dos anos 90, especialistas franceses descobriram por testes genéticos que as cepas de “merlot estranho” eram as extintas carmenère. O Chile havia ressuscitado a carmenère!

“Acredito que isso tenha sido uma jogada de marketing”, opina o sommelier paulista Manuel Luz, explicando que os chilenos sabiam antes disso que a uva era a carmenère. “Assumir publicamente a confusão, em uma época em que os vinhos chilenos começavam a tomar fama, ia gerar questionamentos: ‘o que mais vocês confundem aí?’”, diz ele.

Ele conta que a solução para os vitivinicultores chilenos foi anunciar a descoberta de um ‘ovo de dinossauro’ e torná-la a uva símbolo do país. “Sempre foi vista como uma uva pouco expressiva, usada para dar cor em cortes de Bordeaux. Mas hoje tem saído bons varietais, é uma uva com o mesmo potencial que tinha a malbec na Argentina”, assinala o sommelier.

Opções

Luz indica um rótulo de ótimo custo-benefício. “Os varietais são muito fáceis de beber, excelente para entusiastas iniciantes na degustação de vinhos”, comenta. O Santa Ema Reserva, safra 2005, tem 14% de corpo e cor violácea, aromas que chegam a chocolate e frutas maduras. O preço médio é de R$ 40.

O enófilo e escritor curitibano Luiz Groff lembra ainda que a uva não foi preservada somente no Chile, aparecendo ainda em regiões da França e da Itália “Ela é plantada em várias regiões da Europa, geralmente sob o nome de Grande Vidure, nome que chegou a ser usado no Chile e depois desapareceu”, afirma. Ele prefere os cortes com cabernet sauvignon, mas reconhece a qualidade dos varietais. “Existem muitos vinhos chilenos excelentes, sendo seu maior destaque o Montes Purple Angel Carmenère, 2005, um vinho tão bonito, com uma cor púrpura, que vale a pena abrir para ficar só olhando”, declara.

Produzido no Vale do Colchagua, o Purple Angel 2005 é um corte com 92% de carmenère e 8% de Petit Verdot, envelhecido 18 meses em barris de carvalho. Sua cor é o violeta intenso, notas de frutas escuras, e retrogosto persistente. Preço médio R$ 230.

O somellier Roberto Cartaxo lembra que, pela complexidade média dos varietais da uva, são bons vinhos gastronômicos, harmonizando bem com pratos pouco picantes como carnes assadas e massas de molhos leves. “É um vinho menos ácido em comparação aos italianos, e esta é uma das características principais dessa uva”, afirma.

Ele indica um varietal simples, de bom preço. O Concha y Toro Reservado, 2007, que sai por cerca de R$ 19,90. “É um vinho do dia-a-dia, mas com um bom equilíbrio”, relata. O somellier indica ainda o Arboleda, 2006, com 14,5% de corpo, notas que lembram baunilha, canela e um toque picante. Preço médio de R$ 85.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]