Originária da França, a uva merlot agrada facilmente o paladar. Plantada no mundo todo, é a mais produzida na região de Bordeaux, na França, e a terceira mais cultivada no Brasil.Aqui, é tida como uma uva emblemática no Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha). Dá origem a vinhos elegantes, de textura aveludada e acidez e álcool equilibrados.

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Mas há controvérsias em relação à maturação, tempo de cultivo e período ideal para a colheita, levantadas por duas correntes. A primeira, defendida pelo enólogo francês Michel Rolland, diz que a colheita tardia acrescenta mais açúcar e polifenóis, substância que faz bem ao coração, como explica o enólogo Andersen Prado, professor da Pontifícia Universida­de Católica do Paraná (PUCPR). Por outro lado, colhê-la mais cedo a deixa mais ácida, portanto com maior longevidade. É o que alega o proprietário da vinícola Petrus (Bordeaux), o francês Christian Moueix, que produz o famoso Chateau Petrus. “Colher antes evita que encharquem por causa das chuvas, o que diminui a concentração de açúcares. É o que se faz no Brasil, para fugir das águas de março”, diz Prado.

A merlot é bastante utilizada para cortes (misturas), de acordo com a enóloga e sommelier Ga­­bri­­ela Jornada, da vinícola Miolo, no Va­­le dos Vinhedos. “Geralmente com cabernet sauvignon, conferindo ao vinho mais estrutura e robustez.”

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Os vinhos não pedem acompanhamento, embora tenham grande compatibilidade com os alimentos. Mesmo sendo elaborados a partir da mesma casta, vinhos feitos com a mesma uva são diferentes entre si. Portanto, as harmonizações também diferem de acordo com cada merlot. Há os mais leves e frutados e há os mais potentes e envelhecidos, se­gundo Gabriela. “Normal­mente um vinho elaborado com essa variedade possui estrutura de média a grande e taninos robustos, o que o torna uma boa companhia para carnes de caça e de porco. Queijos gordurosos e maturados também são excelentes pedidas.”

Amor e ódio

No filme Sideways – entre umas e outras, de 2004, que se passa durante uma viagem pelas vinícolas do Vale de Santa Inez, na Califórnia, um dos protagonistas odeia merlot, sem explicar o motivo, o que, segundo Prado, teria provocado uma queda no consumo nessa época, por influência do filme. Em contrapartida, o programa 60 Minutos, da televisão americana, levou ao ar uma reportagem que fala sobre o “paradoxo francês”, baseado no fato de os franceses cozinharem com enormes quantidades de gordura e terem baixos índices de ocorrência de doenças cardíacas. “A explicação estaria no alto consumo de merlot. Ele é rico em resveratrol, um agente que reduz o mau colesterol. Por conta disso, o consumo aumentou consideravelmente”, afirma Prado.