Pela primeira vez no Brasil, ele poderia ter apenas apresentado os rótulos da Cave Spring que começaram a ser comercializados no Brasil – Riesling, Riesling Estate Bottled e Pinot Noir. Porém, com mapas e brochuras em mãos e explicações sobre clima e solo na ponta da língua, Angelo Pavan, vice-presidente da Cave, mostrou que o Canadá pretende, pouco a pouco, conquistar um bom espaço no mercado de vinhos.
Esbanjando simpatia, Pavan passou pelo Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo e confessou uma recém-descoberta paixão pelo país e pela riqueza culinária que encontrou aqui. Com o Bom Gourmet, falou sobre a produção canadense, a produção da Cave Springs e o mercado brasileiro.
O vinho canadense é bem aceito no mercado internacional?
Na verdade, você nem pode perguntar isso, porque quase ninguém conhece o Canadá ou o vinho que produzimos. Somos conhecidos no norte dos Estados Unidos, perto da fronteira, nas proximidades de Chicago, Nova Iorque, Washington. Fomos para a Europa e agora eles nos conhecem. Onde conhecem nossos vinhos, eles são bem aceitos, mas temos uma produção pequena e a maioria das pessoas apenas vê o Canadá como um lugar muito distante. Esse é o problema.
Por que isso acontece?
A produção é pequena e os canadenses são quietos. Não saímos fazendo propaganda de nós mesmos e nossa indústria de vinhos é recente. Fazemos vinho há uns 30 anos. Acredito que você verá mais vinhos canadenses no mercado daqui uns dez anos.
Quais são as principais características dos vinhos da Cave Spring?
O estilo dos nossos vinhos é semelhante ao dos europeus: eles são feitos para harmonizar com comida. Por isso, os melhores lugares para eles não são as lojas, mas os restaurantes. Você também pode tomá-los jovens, quando ainda estão frescos, mas, se deixá-los na garrafa por alguns anos, eles mudam bastante. Depois de dez anos, o nosso Riesling adquire características de favo de mel, cera de abelha, muda completamente. Outros tipos de vinho morrem depois de um ou dois anos.
O que o Brasil representa para vocês, como mercado? Vocês estão vendendo bem ou é ainda um plano?
É um plano mesmo. Acabamos de começar e, com vinho, demora um tempo para construir uma reputação. A economia brasileira está crescendo e, quando olhamos para outros lugares no mundo, eles estão gastando menos, enquanto vocês estão gastando mais. E vocês ainda têm, eu descobri, uma ótima cultura gastronômica, ótimos restaurantes, e os nossos vinhos são feitos para esses ambientes.
Quantos tipos de vinho a Cave produz?
Produzimos diversos. O nosso foco é no Riesling e Pinot Noir, mas também fazemos Chardonnay, Sauvignon Blanc, Gewürztraminer, Merlot, Cabernet Sauvignon e espumantes. Mas, como o foco é em Riesling e Pinot Noir, são esses que vocês estão levando para o mercado internacional…
É, eu não posso vender Sauvignon Blanc aqui. O Chile produz Sauvignon Blanc de ótima qualidade aqui do lado. O mundo todo faz Chardonnay. Por que vocês trocariam? Eu estou trazendo vinhos que produzimos com qualidade e que vocês não veem muito por aqui.
E o ice wine? Vocês tem uma produção grande?
Não. As vinícolas que produzem muito ice wine constroem uma reputação em cima disso, mas não produzem vinho de mesa. E, na verdade, você não pode construir uma reputação em cima da produção de ice wine, porque as pessoas não o consomem tanto. Ele tem status, como um bom whisky, mas ninguém beberia uma garrafa de ice wine por dia. Já uma garrafa de vinho de mesa…
E quem são seus principais concorrentes aqui?
Ninguém nos conhece aqui, então todo mundo. Acredito que o negócio para nós aqui no Brasil seja educar o consumidor para que ele entenda nossos vinhos. Não estamos aqui para substituir ninguém, porque não fazemos os mesmos vinhos que vocês têm.
Quais os planos futuros e expectativas da Cave Spring?
Precisamos de uma maior exposição internacional e estamos trabalhando nisso. Há dois jeitos de fazer isso, na verdade: você pode produzir um ‘vinho-conceito’, com o Yellow Tail, da Austrália, e gastar 15 milhões de dólares para lançar o produto. Esses vinhos também são chamados de ‘vinhos coca-cola’: eles têm uma fórmula, vendem bem no mundo inteiro e custam milhões em propaganda. Duram por uns cinco anos e desaparecem. Então você precisa criar um novo produto. Não é isso que queremos fazer. Queremos construir nossa marca, como Ferraris, BMWs e Mercedez para carros. Não estamos aqui hoje para desaparecermos amanhã.
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