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“Beber vinho é dar de comer a 1 milhão de portugueses”. Com esta expressão, o jornalista português João Paulo Martins, especializado em vinhos, dá a dimensão da importância da bebida para o país, cuja produção é uma das maiores do mundo. Martins escreve para vários veículos especializados e edita o guia anual Vinhos de Portugal, que tem quase 20 anos.

Além disso, é jurado do International Wine Challenge, que elege os melhores vinhos do mundo.

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Ele conta que como todo bom nascido na “terrinha”, é apaixonado pela bebida. Na infância, seu pai chegava a obrigá-lo a tomar um cálice todos os dias para melhorar a digestão. Segundo ele, porém, não foi por isso que se interessou por este mundo. Os anos se passaram até que começou a escrever sobre o tema. “Era o único que falava sobre vinhos na década de 1980 em Portugal”, lembra.

O enófilo esteve em Curitiba no início do mês para participar da degustação de vinhos da Confraria Offline, em que o colunista do Bom Gourmet Guilherme Rodrigues é integrante. Dentre os rótulos estavam franceses de primeira linha e é claro, bons portugueses. Minutos antes do almoço, concedeu uma entrevista exclusiva:

Como é produzir o guia? Quais critérios você utiliza?

A organização das vinícolas de Portugal está separada por regiões. Quando me preparo para fazer a degustação, comunico todas as produtoras para mandar amostras de seus rótulos. Para fazer o guia de 2012, eu experimentei 4.100 rótulos. Cada um recebe uma nota. Não é uma seleção só dos melhores. Na verdade, recebo as bebidas de qualquer produtor que quiser me enviá-las, provo, dou nota e publico.

Qual é o melhor vinho português?

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Eu costumo falar que nós temos alguns dos melhores vinhos e não os melhores. O vinho Madeira, por exemplo, é um dos melhores do mundo e só pode ser fabricado na Ilha da Madeira. Em nenhum outro lugar do mundo tem o mesmo clima, solo, uva, processo de produção. Não tem como comparar.

Quais são as regiões portuguesas que mais se destacam?

A Bairrada e a Dão têm produtos com maior longevidade. Temos vinhos de 20 ou 30 anos que estão excelentes e ficam cada vez melhores com o passar do tempo.

Você acredita que a industrialização da produção de vinhos pode prejudicar a qualidade?

Na década de 1960 era comum esperar até 30 anos por um vinho bem amaciado. Hoje em dia é um exotismo fazer um vinho e ter de esperar 10 anos para tomar. O consumidor não tem paciência. A mecanização acelera o processo e temos rótulos com um gosto mais frutado e a amadeirado para ficar mais comercial. Apesar disso, acredito que os vinhos não perdem qualidade.

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Como funciona o Concurso Mundial de Bruxelas?

Com os concursos eu descubro a qualidade em produtos que achava não serem tão bons. O oposto também acontece: beber um vinho famoso pela ótima fama e na degustação ele se sair mal. A degustação é feita por um corpo de seis pessoas que avalia individualmente cada rótulo. É interessante principalmente para os novos vinhos porque os já consagrados não precisam de selos de excelência, por isso, as grandes marcas nem mandam. Ter um certificado assim dá uma margem de segurança para a importadora.

E nessa degustação, quais vinhos te chamaram mais atenção?

Fiquei surpreso muito com os vinhos mexicanos e croatas, há muitas coisas interessantes.

E os brasileiros?

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Eu experimentei muitos espumantes brasileiros. Eles são os melhores latino-americanos. Aqui se produz em grande quantidade e barato.

Os vinhos brasileiros e latino-americanos são bem vistos em Portugal?

Assim como qualquer país, nós valorizamos os produtos nacionais, por isso, consumimos muitos os rótulos locais. A vantagem do latino-americano em relação ao nosso é que ele chega com um preço muito mais acessível.

Qual é a visão dos portugueses sobre o mercado consumidor de vinhos no Brasil?

O Brasil é o segundo maior importador de vinhos portugueses, atrás apenas dos Estados Unidos e à frente de Angola. Todos os grandes rótulos de Portugal estão aqui. É um mercado com quantidade e qualidade, e está se sofisticando cada vez mais.

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O Guia Vinhos de Portugal 2012, mais recente da franquia, de autoria de João Paulo Martins, por enquanto só é importado. A obra é editada pela Livros D’Hoje (www.livrosdhoje.pt).