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Assim como o vinho, o café ganhou complexidade, especificidade e defensores apaixonados. Falar em notas de aroma, sabores florais e frutados, regiões produtoras e seus terroirs específicos deixou de ser apenas assunto de enólogos e enófilos e se tornou um tema comum em cafeterias que trabalham com os chamados cafés especiais. O termo, que surgiu em 1983 nos Estados Unidos, descreve uma bebida preparada com um grão que, ainda verde, não apresenta nenhum defeito e tem algum atributo específico de aroma, sabor, acidez ou corpo – fala-se em café encorpado ou suave ao invés de forte ou fraco.

As diferenças entre os cafés comerciais – campeões de consumo, vendidos nos supermercados já torrados e moídos – e os especiais são imensas, a começar pela origem. “Os cafés especiais são cultivados em fazendas certificadas por organizações reconhecidas. O consumidor consegue saber a região do cultivo e o lote do grão”, explica Luiz Otávio Franco de Souza, proprietário do Lucca Cafés Especiais. Para ganhar a certificação, o grão tem de receber nota acima de oito em uma avaliação feita por degustadores que analisam qualidades, como a doçura da bebida, o gosto remanescente e o aroma do pó e da infusão.

Com os cafés comerciais, a avaliação é feita a partir dos defeitos. “Uma bebida com pouco defeito é o que a classificação brasileira chama de bebida mole. Com mais defeitos é uma bebida dura e, com muitos defeitos, é chamada de riada, quando o café chega a ter um gosto de produto químico”, complementa Souza. Grãos colhidos antes da hora ou aproveitados depois de fermentados, por exemplo, produzem um café desequilibrado: amargo, ácido demais ou com sabor adstringente, que amarra a boca. “Quando você saboreia uma laranja é possível perceber se ela está boa, azeda ou passou do ponto. A maioria das pessoas não tem referência sobre o sabor do café”, explica Jorge Liniti Kasai, sócio-proprietário do Kassai Café.

A principal instituição que certifica os cafés especiais no Brasil é a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA – sigla para o inglês Brazil Specialty Coffee Association). “Já existem marcas vendidas em supermercados com o selo da associação. É um indicativo importante. É preciso ficar atento porque muitas marcas lançam linhas com nomes como gourmet, premium ou superior e cobram a mais por isso. Essas definições genéricas podem não dizer nada sem a certificação”, alerta Souza.

Outra indicação importante é em relação ao tipo do café. Grãos especiais são 100% Coffea arabica, uma espécie de origem africana com maior complexidade genética, cultivada em locais altos e produz uma bebida mais aromática. Os cafés comerciais, em geral, são misturas entre as espécies arábica e a robusta. “O robusta tem mais corpo, mas menos sabor e menor valor comercial”, explica Maurício Pupo Thiesen, proprietário do Café do Mercado.

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Mesmo quem não é degustador profissional consegue perceber quando um café é preparado com um cuidado especial desde a colheita até a torra e a extração. “Ainda que não saiba dizer o que há de diferente, o sabor é tão distinto que é notado tanto no café coado quanto no espresso”, diz Yara Thaís Castanho, barista do Suplicy Cafés Especiais, em São Paulo, e atual campeã no Campeonato Brasileiro de Barista. Essa diferença no sabor final é cada vez mais valorizada pelos amantes do café e pode ser traduzida em números. De acordo com dados da BSCA, o mercado dos grãos especiais cresce 10% ao ano.

Em consequência do crescimento, aumentou o número de cafeterias que têm em seu cardápio blends – misturas de grãos – de fazendas certificadas. “A mudança aconteceu de uns seis anos para cá. Com a sofisticação das cafeterias, começou a ser exigida mão de obra especializada, porque, de nada adianta ter um bom grão, uma boa máquina, se o barista não souber extrair o melhor disso”, acrescenta Yara.

O único fator que ainda assusta um pouco os consumidores brasileiros é o preço: um quilo de café especial custa a partir de R$ 25 e pode chegar a R$ 250, dependendo da origem do grão. Se for analisado por porção, no entanto, o valor é mais baixo do que muitas bebidas: uma xícara de café preparado com um grão que custa R$ 30 reais o quilo sai por 21 centavos. “Aos poucos, as pessoas vão aprendendo a diferenciar bons cafés. E, quanto mais clientes quiserem saborear bons cafés, mais cafeterias especializadas aparecerão”, diz Rodrigo Ramalho, proprietário do Café do Ponto.

O queridinho dos especialistas

“Quem realmente gosta de café pede um espresso e toma sem açúcar”, afirma a barista do HooCafé Rute Kostiuk. É na forma de extração do espresso – rápida e por pressão – que o melhor aroma, sabor e o corpo da bebida são preservados. De origem italiana – é do país europeu que vem a grafia com s e não com x, uma convenção entre os profissionais do café –, o espresso conquistou o mundo todo, inclusive o Brasil.

Os brasileiros até já criaram sua própria versão do cafezinho, com 20 ml a mais do que o cafezinho italiano de 30 ml. “Brasileiro gosta de xícara cheia e não se importa muito com a quantidade de pó. Mas o espresso original é feito com 7,5 gramas de pó para 30 ml de água”, explica Rute. Ainda há o espresso ristretto, feito com a mesma quantidade de pó e a metade da água. “É o melhor para experimentar todos os sabores e aromas. É um café para ser tomado no balcão, assim que sair da máquina”, acrescenta Rute. Muitas cafeterias servem água com gás para ajudar a limpar as papilas gustativas e ser mais fácil identificar aromas.

Ao contrário do que muitos pensam, o espresso, apesar de ser mais encorpado, é o café com menor teor de cafeína. Isso se deve graças ao baixo tempo de extração. No café coado ou feito na cafeteira tradicional, a quantidade de cafeína liberada é bem maior. “Há uma tendência de as pessoas migrarem para o espresso, mas o café coado nunca vai perder o prestígio, principalmente no Brasil. Se o grão for bom e se forem tomados cuidados, todas as formas de preparo podem ser de qualidade”, diz Kasai.

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Serviço

Lucca Cafés Especiais Especialidade: café, LanchesTipo de cozinha: Variada Classificação por preço: $ Veja mais

Mantuanni Casa, Alameda Carlos de Carvalho, 1941, Batel – (41) 3242-6350.

Spicy, Shopping Crystal Plaza, Rua Comendador Araujo, 731, loja 247 – (41) 3322-6014.

Via Mundi, Alameda Doutor Carlos de Carvalho, 1.036 – (41) 3323-3435.

HooCafé, Alameda Augusto Stellfeld, 1.527, Batel – (41) 3024-1220.

Café do Mercado, Mercado Municipal de Curitiba, Rua Sete de Setembro, 1.865, Centro – (41) 3362-7912.

Kassai Café, Rua Padre Bittencourt, 138, Centro, São José dos Pinhais, (41) 3035-5640.

Café do Ponto, ParkShopping Barigui, Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 600, Mossunguê – (41) 3317-6456.

Suplicy Cafés Especiais, Alameda Lorena, 1.430, São Paulo – (11) 3061-0195.

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