Quando escolhi um dos vinhos que indico ao final da coluna, o grego Kretikos, lembrei do deus Dionísio, Baco para os romanos, deus do vinho na mitologia. Nada mais próprio numa época em que o Brasil festeja o carnaval, típica festa dionisíaca.
Não custa perceber que vivemos num hemisfério cujas estações do ano são opostas àquela da região onde se originaram o calendário e a mitologia. Por exemplo, enquanto a Europa se protege dos frios e neves de fim de inverno, aqui nos trópicos austrais pulamos carnaval debaixo de um sol brilhante e quente. Bem, em Curitiba nem sempre … mas é uma exceção que confirma a regra.
Mas isso não muda os festejos nem o respectivo desfrute do vinho, que se adaptam perfeitamente a cada situação. Enquanto os europeus, no inverno, esquentam-se com vinhos mais robustos, aqui, em pleno verão, nos refrescamos com vinhos mais casuais, leves e estimulantes.
Há muitos que associam o vinho e festas à brutalidade e à selvageria. É evidente que ninguém defende os excessos. Mas não é pelos abusos que se vai condenar uma das mais civilizadas práticas. O consumo moderado do vinho e seu emprego nos festejos é fruto da evolução da humanidade.
Tanto assim que religiões, como por exemplo a Católica, consagram “a mais sã das bebidas” (apud Pasteur) ao altar. A propósito do vinho grego, rememorei a associação da bebida à evolução e crescimento da civilização. As origens de ambas são ligadas ao fim do Dilúvio Universal.
De fato, ao pé do monte Ararat, desde o desembarque de Noé, na imagem bíblica, ela deu seus primeiros passos. Inspirada pelo vinho, como diz a Bíblia, confirmado pela arqueologia moderna, com achados que mostram o cultivo da uva e o fabrico da bebida na região há mais de 3.000 anos atrás. Migrou e difundiu-se através dos tempos, pela Mesopotâmia, Pérsia, Egito, Grécia, Roma, Europa.
Ao final universalizou-se em todo planeta, junto à civilização, a partir dos descobrimentos portugueses. Onde quer vamos, em que época seja, havendo civilização, há o vinho e suas festas. Fácil perceber que sempre andaram juntos. Aliás, nos nossos dias a vinicultura propagou-se e é celebrada até no Novo Mundo, totalmente ignoto à época da civilização ancestral.
Com essas reflexões e imagens, desejo a todos os leitores, foliões ou não, um excelente carnaval, com a companhia de bons e refrescantes vinhos.
RÓTULOS – eu indico dois vinhos leves, casuais e joviais.
Degustação às cegas: Rosés para cair na folia
Os rosés já deixaram para trás a imagem de certa vulgaridade do passado. Atualmente são reconhecidos como vinhos imprescindíveis quando se trata de casualidade. Especialmente em estações quentes e ensolaradas, e situações onde a alegria e a descontração imperam. Combinam maravilhosamente com quase todo tipo de comida e bebem muito bem em coquetéis e aperitivos.
Não são vinhos para doer no bolso. Seus preços são e devem ser acessível. Normalmente são elaborados com uvas tintas, retirando-se as películas do mosto mais cedo para não tingir tanto o vinho. Mostram uma variada e belíssima palheta cromática, do rosé bem esmaecido, como casca de cebola, passando pelo salmão, salmão acobreado, rosa, rosa cereja, cereja, até quase a cor tinta clarete. Devem ser desfrutados frescos, por volta dos 10 graus C.
Provamos às cegas 20 rosés, disponíveis no mercado, com faixas de preço de R$ 30 a R$ 90. São de safras recentes, o que se deve exigir. A qualidade geral foi muito boa. Selecionamos os seis campeões. A degustação ocorreu no novo e inspirado restaurante Vila Roti, com o trabalho do sommelier Alex. Após a prova, o chef Fábio Pimentel serviu um atraente penne com salmão, perfeito com rosés.
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