Na viagem de ida ou de volta, sempre de trem, era aguardada com ansiedade a parada na estação de Banhado para comer o bolo da graxa ou da serra – gorduroso, era um delicioso pedaço de massa, frito, e que parecia puxa-puxa nos dentes da criançada.
Da cidade litorânea, onde vivi cerca de 13 anos, as lembranças gustativas foram tantas! A garapa feita na hora, um pedaço de cana chupado até o bagaço, as cocadas de abóbora com coco preparadas com esmero por uma senhora que atendia em uma portinha da rua Faria Sobrinho, as empadinhas oferecidas de porta em porta (o vendedor carregava na cabeça um armarinho-vitrina, com quatro pernas compridas, que ele descansava a cada parada) e, sem dúvida, as salteiras noturnas. Da sacada de seu quarto, na Rua XV, minha mãe via passar pessoas com cestas levando peixe – “já chegaram as salteiras?” – e lá ia ela ao cais do mercado comprar os peixes de couro prateado (salteira não tem escamas) para limpar, temperar, passar na farinha de trigo, fritar e saborear, fosse qual fosse a hora da noite.
Anos 40 e 50
O tempo passou e voltamos a viver em Curitiba, que nos esperava com outros sabores e aromas. Lá pelas 10 da noite, saindo da sessão de cinema (na “Cinelândia” estavam os cinemas Avenida, Odeon, Broadway, Palácio), éramos atraídos pelo cheirinho do pão fresco da padaria do Marchand. Ficava na primeira quadra da Rua Desembargador Westphalen, que os mais antigos ainda chamavam de Rua Ratcliff. O pão era vendido pela janela da casa em saquinhos de papel.
Na Praça Tiradentes, a fábrica Basgal era uma tentação. Fechando os olhos, é possível sentir o gosto das garrafinhas de chocolate recheadas com licores variados. Sabor tão marcante quanto o da sempiterna gengibirra (ou da gasosa vermelha) Cini – ainda hoje existente, mas que, em garrafa pet, parece não ter o mesmo gosto.
Saindo para uma compra matutina, era indispensável passar na Confeitaria Cometa e comer uma empada quentinha – as de camarão eram deliciosas! A falta das ainda inexistentes casas de fast-food era suprida pelos bares. Na Cometa ou na mesma Rua XV no Triângulo/Cachorro Quente, como no bar do Zanchi (na primeira quadra da Rua Ébano Pereira), a pedida era o sanduíche de pernil: pão d’água, com molho e temperos verdes picados e salpicados sobre a carne.
À tarde, “tout Curitiba” comparecia na Confeitaria Schaffer para comer coalhada, o carro-chefe da casa. Um bonde nos levava até o Juvevê, onde a fábrica de bolachas Lucinda era saboroso destino. Lembro que, para economizar, comprávamos pacotes prontos, com um quilo de bolachas quebradas: eram as mesmas, o sabor igual e o preço bem menor. Lá próximo, também, as broinhas de coco da Fábrica Glória eram atrativo ímpar.
Os zampironi da Padaria Aurora são inesquecíveis – exemplares muito semelhantes aos aqui lembrados podem ser comprados na Padaria América, que foi, no passado como ainda é hoje, preciosa fonte de sabores curitibanos.
Com a abertura das Lojas Americanas (final da década de 30, começo da de 40) conhecemos o sundae, o milk-shake e a banana split. Em 1940, a Confeitaria Guairacá trouxe um toque de modernidade ao comércio de comes e bebes. Em 1958, foi a vez do Restaurante e Confeitaria Iguaçu, no 1.º andar do edifício Hauer, esquina da Avenida Luiz Xavier. Os pratos mais pedidos para tomar com chá (!) eram o ambulante (uma fatia de pão caseiro, feito lá mesmo, com um bife por cima) e o carlos cavaco (o mesmo pão com queijo cortado em cubinhos e levado ao forno).
O que mais deixou saudades? Os bolinhos
de arroz saboreados no Pasquale, no Passeio Público; as batidas do Ivo Pschera, no bar da Carlos de Carvalho; os artigos da Casa da Manteiga, que fez história e era uma delicatessen de primeira classe.
Muito mais havia (e há) digno de registro, mas é melhor parar por aqui, pois já estou com água na boca.
Serviço
Bar e Restaurante Triângulo. Rua XV de Novembro, 36 – (41) 3014-4850.
Padaria América. Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 942 – (41) 3223-4825.
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