Um povo que passou por confrontos para a unificação nacional, enfrentou duas guerras mundiais, das quais saiu arrasado, e ainda conseguiu se reerguer como uma das maiores potências do mundo, não o teria feito se não tivesse adaptado sua alimentação às condições de cada época. Essa é uma das razões para que os alemães apreciem comidas que durem mais tempo sem que haja a necessidade de refrigeração, como embutidos, conservas e defumados.
Apesar de ser um país dividido gastronomicamente, um ingrediente não pode faltar na mesa do alemão: o kartoffel (batata). A importância dela é tão grande que há feiras especializadas em diferentes espécies na cidade de Munique, ao sul do país. “Como o clima alemão exige uma co-mida mais calórica, a batata consegue suprir essa necessidade. E existem diferentes formas de prepará-la, como em saladas, bolinhos, tortas e ensopados”, conta Daniel Ollhoss, professor universitário que mora no Brasil desde 1976.
Ele diz que há um preconceito dos brasileiros para com a culinária alemã. “Nós não comemos apenas chucrute (repolho em conserva) com salsicha. Na Alemanha, há muitos regionalismos. No Sudoeste, região de onde eu vim, as fronteiras foram influenciadas pela França, enquanto nas cidades centrais há uma culinária própria”, conta. Uma dessas peculiaridades é o uso de temperos de florestas locais. “Algumas sementes, como a wacholderbere, são apenas encontradas lá e dão um sabor todo especial a algumas comidas, como frutos do mar, particularmente à enguia e às trutas defumadas”, diz o professor.
Além disso, entre as preferências dos alemães, estão as carnes de caça, como as de javali, veado e lebre. Em Curitiba, a de javali pode ser encontrada no Bar do Alemão, acompanhada de purê de maçã, repolho roxo e salada. O prato serve duas pessoas e custa R$ 36,90.
Os proprietários do Bar Schimmel, em Curitiba, Alessandro e Luciana Schimmel, contam que servem a culinária alemã “das avós”, mas com pequenas mudanças e ajustes ao paladar do brasileiro. “No goulasch, um picadinho de carne de gado e de porco, nós tivemos de maneirar na páprica, porque ficaria muito forte, e o brasileiro não está acostumado a comidas assim”, diz Luciana. A dona do Kaffee Stube, Janete Zeni, também teve de adaptar seu café colonial alemão ao paladar do curitibano. “Quando abri a casa, tinha a intenção de ter um bufê de café colonial alemão. Mas as comidas não tinham muita saída. Hoje, tenho apenas as cucas, com massas mais altas e não tão finas como as alemãs, o salsichão, o apfelstrudel (torta de maçã) e a limonada suíça”, revela.
O bufê do Bar Schimmel, servido apenas aos domingos, tem salsichas, chucrute, repolho roxo, purê de batata, kässler (bisteca de porco defumada), goulasch, pato ensopado e maçã em calda. O restaurante também tem quatro tipos de chopp mais consumidos na Alemanha: pilsen (tradicional), weizen (de trigo), pale ale (belga) e dunkel (escuro).
Jeitinho brasileiro
Apesar de os alemães adicionarem suco de limão à cerveja, que se transforma em uma mistura energética e refrescante, como conta o professor Ollhoss, as bebidas alemãs que chegaram a Curitiba foram a cerveja, apreciada em toda a Alemanha, e alguns destilados como o steinhäger (gin), o wacholder (cachaça) e o jägermeister (um digestivo tomado antes da refeição). Essas três bebidas têm alto teor alcóolico, de 35% a 38%. Silvana Gomes, do restaurante Cantinho do Eisbein, diz que os brasileiros fizeram adaptações na maneira de saboreá-las. “Sempre que os clientes nos pedem, colocamos uma dose de steinhäeger ou jägermeister dentro da caneca de chopp, e temos uma nova opção: o submarino.”
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Serviço
Kaffee Stube – Tenente Max Wolf Filho, 207, Água Verde – (41) 3078-4633.
Restaurante Mein Schatz Bierhaus – Avenida Jaime Reis, 18, São Francisco – (41) 3076-0121.