Jorginho Mello se encontrou com Javier Milei em Santa Catarina, no início de julho.| Foto: Eduardo Valente/Divulgação
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Bolsonarista ferrenho, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), tem expandido relações bilaterais com governos do espectro da direita. Em julho, teve um encontro com o presidente argentino, Javier Milei, durante o CPAC (Conservative Political Action Conference), em Balneário Camboriú. Para setembro e outubro, tem outras agendas internacionais marcadas com o ministro da Economia de Portugal, Pedro Reis, e com o ex-presidente da Espanha José María Aznar, respectivamente.

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O governo catarinense tem histórico de política internacional, que culminou, em 2003, com a criação de uma secretaria específica para tratar o assunto, com o objetivo, principalmente, de expandir parceiros comerciais e atrair investimentos para o estado. Com isso, conseguiu abrir mercados asiáticos para a carne suína, atrair a BMW para SC em negociações diretas com a Alemanha e construir os 14 centros de inovação do estado em cooperação com a Espanha.

Agora, os encontros bilaterais de Jorginho Mello com outros líderes estrangeiros buscam não só parcerias, como fazem contraponto à política internacional do governo federal, segundo especialistas. “Santa Catarina tem agenda externa própria”, diz o secretário de Articulação Internacional e Projetos Estratégicos, Paulo Bornhausen, que tomou posse em 4 de julho.

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O objetivo dessa política é “aumentar a intensidade das agendas de Santa Catarina com outros países, regiões, estados e cidades, que sejam importante e complementares para o estado no comércio internacional de exportação e importação”, explica o secretário, acrescentando que não é possível “esperar políticas públicas do Brasil quando elas não me favorecem e não estejam no meu plano de desenvolvimento”.

Para Clarissa Franzoi Dri, professora de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o estado passou a representar um lugar de resistência e aglutinação dessa ideologia política. Diz, ainda, que esses encontros “tentam chamar os holofotes internacionais para uma diplomacia subnacional contrária às diretrizes nacionais”.

Esse movimento, explica a professora, não é novidade na história brasileira: teve o Fórum Social Mundial de Porto Alegre em 2001, a diplomacia empresarial de atração de investimentos do estado de São Paulo a partir de 2011 e a compra de vacinas da Covid-19 pelo Consórcio do Nordeste em 2021.

Os olhares se voltaram ainda mais para a diplomacia catarinense com a vinda do presidente da Argentina para o estado no início de julho. A visita foi a primeira de Milei ao Brasil como chefe do Executivo - sendo que até o momento ele não se reuniu com o presidente Lula (PT). Esse encontro bilateral entre Jorginho e Milei vem de “um contexto político ideológico de se manter a força desse crescimento da direita”, contextualiza o professor de Administração Pública e pesquisador da área de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Daniel Moraes Pinheiro. Ele ressalta que esse movimento é do “jogo do cenário político”. 

As relações internacionais, pontua, são movimentos estratégicos para o governo do ponto de vista comercial, “porque abrem portas diversas e abrem possibilidades diversas”, permitindo investimentos e parcerias no estado. A maioria dos estados brasileiros, no entanto, entende que essa área deve ser de responsabilidade apenas do governo federal, por isso há poucos estados com secretarias focadas em assuntos internacionais.

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Brasil tem poucos estados dedicados à política internacional

A Gazeta do Povo analisou a estrutura de governo de todos os estados brasileiros e constatou que apenas outros três possuem secretarias voltadas para as relações internacionais: Alagoas, Ceará e Amapá. A pesquisa foi feita nos sites dos governos estaduais e considerou como secretaria voltada ao assunto àquelas que, no nome, deixam evidente que são focadas em relações internacionais.

O professor da Udesc explica que há dois tipos de relações internacionais que podem ser feitas no âmbito de uma federação como o Brasil:

  • A política internacional nacional: acontece num nível macro e concilia os interesses da nação, seja para relações comerciais, seja para políticas.
  • A política internacional  estadual e municipal: na qual interesses econômicos regionais são priorizados.

“Se a gente olhar para o comércio e a produção, é muito difícil que os interesses internacionais sejam coordenados somente pela federação, porque estados têm vocações distintas. Então, eles não tem só capacidade de poder entrar (nessa área), como é do jogo das relações comerciais atrair investimentos no estado para suas vocações. Então é super estratégico que governos estaduais tenham, sim, um setor de relações internacionais”, explica Pinheiro.

Agendas da política internacional de Jorginho Mello

Julho: Jorginho Mello se reuniu com o presidente da Argentina, Javier Milei, em Balneário Camboriú (SC). Houve um encontro bilateral entre eles e, ainda, uma reunião com empresários catarinenses. Essa foi a primeira visita de Milei ao Brasil desde que tomou posse na Casa Rosada.  

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Setembro: ministro da Fazenda Pedro Reis virá para Santa Catarina. Ainda não tem data confirmada para a visita. Antes desse encontro bilateral, em 3 de setembro, uma comitiva de Portugal - com autoridades, imprensa e lideranças do setor turístico - estará no estado catarinense para o primeiro voo da TAP entre Florianópolis e Lisboa.

Outubro: ex-presidente da Espanha José María Aznar estará em Santa Catarina em 1º de outubro, para participar de uma reunião na Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) com o governador Jorginho Mello, de acordo com o secretário Paulo Bornhausen. “Somos um campo ideológico parecido com o da Europa e ele é um líder importante para que Santa Catarina continue mantendo portas abertas na Espanha”, explica Bornhausen.

O Itamaraty foi procurado pela Gazeta do Povo para comentar as agendas bilaterais de Santa Catarina, mas não retornou os questionamentos até a publicação desta matéria.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]