Água tomou todo o sistema de pátio e pistas do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS).| Foto: Divulgação/Fraport
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Entre as tantas cenas emblemáticas das enchentes no Rio Grande do Sul estão as do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, totalmente tomado pela água. Não se vê mais a pista de pouso e decolagem, as pistas de taxiamento e os pátios. Os hangares e o andar térreo do terminal de passageiros foram invadidos pela água. E os aviões que não deixaram o sítio aeroportuário a tempo estão à deriva. Um cenário que aponta para danos significativos e que deixam o principal ponto de entrada e saída via aérea do estado sem previsão de retomada das operações.

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“No momento, não temos a dimensão do impacto na infraestrutura do aeroporto”, resumiu a Fraport Brasil, concessionária que administra o Salgado Filho desde 2018, em nota enviada à Gazeta do Povo. A empresa aguarda a água recuar para poder atuar diretamente no local e contabilizar os danos causados pela enchente.

Sabe-se, entretanto, que é grande o potencial de prejuízos. E a depender do que foi afetado e a extensão dos danos, é possível que em 30 de maio, data fixada pelo aeroporto e autoridades aeronáuticas para o fim da suspensão das operações, o aeroporto ainda não esteja recuperado para voltar a receber as aeronaves e os passageiros.

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Como a água da enchente não tem baixado rapidamente, a cada hora que passa há um potencial de dano maior à estrutura, que poderá levar mais tempo para ser resolvido. O asfalto da pista e dos pátios pode retornar com trincas e inchamentos; o terminal de passageiros pode apresentar problemas no piso e na parte elétrica, hidráulica e equipamentos. Sem contar o risco à parte na estrutura em si, que pode até mesmo colapsar devido ao tempo submerso.

A cada hora que passa aumenta o potencial de dano à estrutura do aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre.

“Tudo depende das condições da infraestrutura do aeroporto antes de uma inundação, ou seja, possuir um inventário para um entendimento de como estava a situação real e, então, fazer uma perícia mais cuidadosa na fase pós-enchente, para identificar pontos de preocupação, possíveis ações e suas implicações em prazos e custos para retomada da operação aeroportuária. Em situações extremas é bastante difícil prever quais locais de um aeroporto serão mais afetados, afinal são vários, ou todos”, aponta a arquiteta e presidente da Sociedade Brasileira de Transporte Aéreo (SBTA), Giovanna Ronzani.

Nos próximos dias, quando se prevê que a água comece a baixar de forma mais significativa, isso não vai acontecer de maneira uniforme em toda a área do aeroporto Salgado Filho, que soma quase 4 mil quilômetros quadrados. Só a pista de pouso e decolagem tem 3,2 mil metros de extensão e os pátios que atendem a aviação comercial e de cargas passam de 300 mil metros quadrados. Há ainda o terminal e as estruturas anexas que são fundamentais para o funcionamento do Salgado Filho e que podem requerer mais tempo para poderem passar por intervenções da Fraport.

“As atividades operacionais de um aeroporto são interdependentes. Por exemplo, mesmo que a pista retome suas condições de operação, as atividades essenciais do terminal de passageiros, como o check-in, a inspeção de segurança e a sala de embarque, entre outras, também precisam estar operantes. As atividades aeroportuárias dependem das pessoas que trabalham lá e, infelizmente, muitas delas também podem estar enfrentando diversas dificuldades pessoais decorrentes dessa tragédia”, complementa Giovanna.

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Retomada do aeroporto Salgado Filho requer plano conjunto

Apesar de ser a administradora responsável pelo aeroporto, a Fraport vem atuando diretamente com autoridades aeronáuticas, notadamente a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), além do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), para buscar uma solução rápida e eficiente para a retomada das operações no Salgado Filho. Devido ao desconhecimento da extensão dos danos, porém, ainda não há um plano de ação claro e que detalhe os próximos passos, mas é certo que vai precisar envolver diversos escalões de governo e sociedade civil.

“Acredito que a retomada das operações dependerá de um plano de ação conjunto entre vários entes, desde o governo até órgãos locais e operadora aeroportuária. Uma avaliação detalhada da situação será importante para traçar um plano eficaz de reabertura do aeroporto”, reforça a presidente da SBTA.

A retomada ocorrerá em algum momento, mas não custará pouco. Por isso, o governo federal acenou que poderá aliviar algumas obrigatoriedades de investimentos da concessão do aeroporto para que a Fraport tenha capacidade financeira de arcar não só com a recuperação da infraestrutura, mas também com as perdas de arrecadação durante o período de fechamento do aeroporto.

Em entrevista nesta semana em Porto Alegre, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, adiantou que conversou com o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, para readequar a concessão. “Já conversei com o ministro Bruno Dantas e vamos ter uma rediscussão da modelagem do contrato. É um dano natural e o contrato será revisitado para que o concessionário não seja prejudicado”, disse.

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Enquanto o aeroporto Salgado Filho não volta com os voos, o MPor alinhou com autoridades aeronáuticas, Fraport, Infraero, Ministério da Defesa e companhias aéreas uma malha aérea emergencial para atender minimamente os passageiros que chegam e saem de Porto Alegre e regiões mais próximas. De início serão até 116 voos semanais, sendo 88 no Rio Grande do Sul e 28 em Santa Catarina.

Mais próxima de Porto Alegre, a Base Aérea de Canoas, que é uma estrutura de uso militar, passará a atender voos comerciais. O local, que já vem recebendo aeronaves de companhias aéreas com doações de outras regiões do país, precisará passar por adaptações para atender também a aviação comercial. Para isso, a Fraport levará para Canoas uma estrutura que atenda aos requisitos mínimos operacionais e de segurança.

“De forma a garantir o cumprimento da legislação aeronáutica internacional e as regras da aviação brasileira, a Fraport Brasil tem a autorização para operar até cinco voos diários saindo deste novo ponto. Nos próximos dias serão divulgadas as informações referentes a destinos, horários e demais procedimentos relacionados e necessários para o embarque de passageiros”, informou em nota a concessionária.

Além dos 35 voos semanais na Base Aérea de Canoas, o Rio Grande do Sul contará com um reforço nos aeroportos de Caxias do Sul (25 voos por semana), Passo Fundo (16), Pelotas (5), Uruguaiana (3), Santa Maria (2) e Santo Ângelo (2). Em Santa Catarina serão 21 voos semanais a mais em Florianópolis, sete em Jaguaruna e a previsão de aumento de capacidade de aeronaves em Chapecó.