Governadores do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e de Goias, Ronaldo Caiado (União), anunciam projeto presidencial, angariam apoios e saem em pré-campanha pelo país.| Foto: Jonathan Campos/Governo do Paraná
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Enquanto segue a indefinição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a respeito de seu possível projeto presidencial com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), outros governadores da oposição ao governo federal petista organizam-se, largam na frente e correm por fora com suas pré-campanhas para as eleições à Presidência da República em 2026. Os governadores do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), colocam seus nomes à disposição dos eleitores e forças políticas da direita brasileira e tentam viabilizar as respectivas candidaturas para presidente. 

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Mais do que se apresentar como opções, Caiado e Ratinho Junior têm feito movimentos claros para firmar seus projetos. Até a semana passada, o governador goiano era o único que se colocava abertamente na condição de presidenciável.

Caiado marcou o lançamento oficial da sua pré-candidatura presidencial para esta semana, no dia 4 de abril, no Centro de Convenções de Salvador, na Bahia, em uma clara tentativa de começar a nacionalizar seu nome. “Vou começar a andar o Brasil nos finais de semana levando a nossa proposta”, afirmou publicamente no início de fevereiro, em Brasília. 

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Na última quarta-feira (26), no entanto, o governador goiano foi surpreendido e "ultrapassado" por Ratinho Junior, que começou a percorrer o Brasil concedendo entrevistas para veículos diversos para falar sobre 2026, num movimento que pode ser considerado como de pré-candidato, antes de Caiado. “Seria, sem dúvida é, um grande sonho ter essa oportunidade de ser candidato, discutir o Brasil, debater o país", afirmou o governador do Paraná durante participação em um evento do grupo empresarial Lide no Recife.

“Eu represento uma nova safra da política do Brasil. Nós temos a obrigação de colaborar e dar um olhar, um novo pensamento, uma nova maneira de se ver a gestão pública”, complementou Ratinho Junior. O movimento do governador paranaense acontece, não por acaso, junto à divulgação de um apoio estratégico importante.

“O PSD vê no Ratinho Junior um futuro para o Brasil, e eu tenho certeza que se um dia o Brasil for presidido por Ratinho Junior estará em excelentes mãos, caminhando para ser um protagonista mundial", afirma Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD,  em um vídeo publicado nas redes sociais e com grande circulação pelo WhatsApp, também na semana passada. “Ratinho, parabéns por tudo o que você é, o PSD conta muito com você, e principalmente o Brasil conta muito com você.”

Eu represento uma nova safra da política do Brasil. Nós temos a obrigação de colaborar e dar uma nova maneira de se ver a gestão pública. 

Governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD)

Em março, Ratinho Junior superou Caiado  em engajamento e menções na web e na imprensa, mostra o Índice Datrix dos Presidenciáveis (IDP), revelado no programa “CNN Eleições: 2026 Já Começou”, da CNN Brasil. O índice considera interações de imprensa, redes sociais e influenciadores e oferece um saldo de popularidade dos pré-candidatos para 2026.

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Pelo indicador, Ratinho Junior registrou 14,71 pontos no mês passado, ante 13,61 de Caiado. Na sequência vem o presidente Lula, com 10,53 pontos.

Com uma aprovação de 81% dentre os paranaenses, de acordo com pesquisa Quaest divulgada em fevereiro, o governador do Paraná ainda pode concorrer ao Senado, caso a pré-campanha presidencial não decole, com boas chances de vitória. Em 2022, ele foi reeleito no Paraná com 69,64% dos votos.

  • Metodologia da pesquisa citada: 1.100 entrevistados pela Quaest entre os dias 4 e 9 de dezembro de 2024. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais.

Zema e Leite 

Sem ainda declarar oficialmente, outro governador da oposição que almeja ser lançado a uma disputa presidencial em 2026, Romeu Zema (Novo), tem a seu favor o trunfo de governar Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo. O partido dele começou a elaborar um plano de governo para uma eventual candidatura, no ano que vem.

Coordenado pelo Instituto Libertas, ligado ao Novo, o plano consiste na publicação de documentos ao longo de 2025 com propostas para economia, educação, saúde, segurança, política externa, políticas sociais e outras áreas.

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Apesar da falta de protagonismo político recente, em vídeo de propaganda partidária do PSDB no início de março, a sigla apresenta o governador gaúcho Eduardo Leite como um presidenciável. Apesar do tom de campanha atacando os grandes temas nacionais, um projeto presidencial está mais longe hoje para Leite do que em 2022, quando também tentou viabilizar seu nome nacionalmente, chegou a deixar o governo do estado para disputar a presidência, mas acabou desistindo e se reelegeu governador.

“Agora o pior inimigo do povo, a inflação, está de volta, e a violência em muitas regiões está batendo na porta", diz Leite no vídeo.  De acordo com o cientista político Vinícius do Valle, o cenário político mudou e as perspectivas da direita para as eleições presidenciais de 2026, também.

“Com a impossibilidade do Bolsonaro concorrer, até o final do ano passado a direita não via alguém competitivo para enfrentar o presidente Lula ano que vem", afirma. “Mas com a queda súbita e drástica da popularidade do presidente de lá para cá, uma janela de oportunidade se abriu", diz. Para o analista, isso explica o posicionamento mais assertivo na direção de uma candidatura presidencial por parte dos governadores opositores, especialmente os de Paraná, Goiás e São Paulo.

Dentre os três, Valle acredita que, de maneira contraintuitiva, a situação mais desconfortável é a de Tarcísio de Freitas. “Caiado e Ratinho, no final do segundo mandato como governadores, não têm tanto a perder nesse momento. Tarcísio, por outro lado, teria que abandonar uma reeleição confortável em São Paulo para arriscar a presidência. Por outro lado, se não o fizer, pode acabar perdendo o timing que o coloca como candidato natural e mais forte da oposição agora, e isso não se repetir no futuro.”

Indefinição pode ser entrave à direita

Para o cientista político e professor Elias Tavares, se Bolsonaro repetir o movimento de Lula nas eleições presidenciais de 2018 – quando mesmo preso e impedido pela Justiça Eleitoral, se manteve como candidato do PT até o último momento antes de liberar a cabeça de chapa para o correligionário Fernando Haddad – atrapalhará o eventual projeto presidencial não só do governador de São Paulo, mas de todo campo da direita. “É capaz de causar uma fragmentação muito grande neste campo político, sem a construção de um nome forte viável até as eleições", afirma.

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Tarcísio hoje joga parado. Ele é o principal nome da oposição para enfrentar Lula em 2026, mas só pode fazer isso com o apoio explícito de Bolsonaro. Nesse cenário, Ratinho Junior e Caiado ‘largam na frente’ pois podem até ter o apoio do ex-presidente depois, mas não contam com ele nem ancoram seus projetos políticos nisso, como o governador paulista é obrigado a fazer nesse momento", diz Tavares.

Por outro lado, o cientista político vê dificuldades maiores para os governadores do Paraná e Goiás crescerem nas pesquisas em relação a Tarcísio. “A grande dificuldade do Ratinho e do Caiado é justamente conseguir uma projeção nacional. Ambos vêm de colégios eleitorais pequenos, com relativamente poucos votos, e por mais que tenham boa aprovação em nível regional, no plano nacional a coisa muda de figura", avalia.

“O Ratinho Junior ainda pode contar com o pai, uma figura da TV conhecida em todo o país, para tentar nacionalizar seu nome. O Caiado tentou compor uma chapa com o cantor Gusttavo Lima, mas o astro sertanejo declinou”, acrescenta.

O cantor recentemente havia manifestado interesse em entrar para a política e pontuou bem em diversas sondagens eleitorais para presidente, mas diz que desistiu. Pesando contra a empreitada de Caiado, também há uma condenação à inelegibilidade por oito anos na Justiça Eleitoral de Goiás, por abuso de poder político na eleição de 2024. Ainda cabe recurso.

Sobre as chances de Zema e Leite, o analista político acredita que, no cenário de hoje, são nulas e que os dois passaram por uma desidratação política desde que se reelegeram governadores em seus estados. “Ambos fazem parte de grupos políticos que estão muito esvaziados. Eduardo Leite representa um partido que basicamente sumiu do mapa, que é o PSDB, o Zema é do Novo, um partido que nunca teve capilaridade nem substância nacional.”

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]