Avião da Voepass caiu em Vinhedo e deixou 62 mortos.| Foto: Isaac Fontana/EFE
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O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou na noite desta sexta-feira (6) o relatório preliminar sobre o acidente com o avião da Voepass, que caiu em Vinhedo (SP) e matou 62 pessoas. De acordo com o órgão vinculado à Força Aérea Brasileira (FAB), a aeronave perdeu o controle e iniciou a queda durante voo em condições de formação de gelo.

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Desde as primeiras horas após o acidente, a questão de presença de gelo nas asas da aeronave foi levantada, visto que pilotos de outras companhias aéreas haviam passado antes pela região e se deparado com condições de temperaturas muito baixas e propícias para essa situação.

De acordo com o relatório preliminar, as informações meteorológicas disponíveis para a tripulação já mostravam a possibilidade de condições de gelo na rota, o que foi comprovado com base nos dados das caixas-pretas, tanto a de gravação de voz (Cockpit Voice Recorder-CVR) e de parâmetros de voo (Flight Data Recorder-FDR). Pelas informações das caixas-pretas, o avião voou em condições de gelo severo por mais de uma hora, sendo que a tripulação ligou três vezes o sistema que infla a superfície frontal da asa e quebra o gelo. Esse sistema, chamado de boots e ativado pelo botão Airframe na cabine de comando, esteve ligado durante os últimos minutos do voo. Em um momento do voo, o copiloto chegou a comentar que esse sistema, porém, não estava funcional.

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Segundo os dados da caixa-preta, às 13h20 o avião iniciou uma curva à direita com inclinação de 32 graus. Na sequência, não se sabe ainda se por reação dos pilotos ou da aeronave, houve uma curva à esquerda com 52 graus de inclinação e após isso outra manobra à direita, dessa vez a 94 graus. Foi quando o avião ganhou um pouco de altitude, mas perdeu sustentabilidade e entrou em parafuso, estabilizando-se em queda vertical, curvando cinco vezes no seu eixo antes de atingir o solo.

O Cenipa ressaltou que os dados apresentados são factuais e não respondem ainda a todos motivos que levaram à queda, incluindo fatores materiais, humanos e operacionais. “Os dados aqui são relativos ao que aconteceu no acidente, não entrando na esfera do por que aconteceu e do como aconteceu”, frisou o investigador responsável pelo acidente com o avião da Voepass, tenente-coronel aviador Paulo Mendes Fróes.

As informações passadas pelo Cenipa à imprensa foram antecipadas aos familiares das vítimas do desastre aéreo, que também receberam mais detalhes sobre o andamento da investigação que culminará no relatório final com os fatores que contribuíram para o acidente e as recomendações de segurança para que novos eventos como esse não voltem a acontecer — o órgão ainda não tem uma previsão de quando publicará o documento.

O chefe do Cenipa, brigadeiro Marcelo Moreno, ressaltou que a investigação do órgão “não tem fins punitivos e busca a segurança da aviação”. A responsabilização criminal está a cargo das forças policiais, no caso a Polícia Federal, que já abriu investigação para apurar os responsáveis pelo acidente.

Avião da Voepass saiu de Cascavel com destino a Guarulhos

O voo 2283 da Voepass partiu de Cascavel, no Paraná, às 11h51 do dia 9 de agosto de 2024, e tinha como destino o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. A previsão de chegada era para às 13h50, mas o avião de modelo ATR 72-500 começou a perder altitude às 13h20 e se chocou com o solo menos de dois minutos depois, no jardim de uma casa em um condomínio residencial em Vinhedo, após cair quase 5 mil metros. Depois da queda, o avião pegou fogo. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros da cidade registraram as primeiras chamadas por volta das 13h30.

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O avião fabricado em 2010 havia entrado na frota da Voepass em outubro de 2022, depois de ter voado na Itália, Albânia e Indonésia. De acordo com os registros da Anac, a situação da aeronave de matrícula PS-VPB estava regular. A frota da companhia aérea é composta exclusivamente de aviões da ATR, dos modelos 72-500, 72-600 e 42-500.

De acordo com o Instituto Médico Legal central de São Paulo, que realizou os trabalhos de necropsia nos corpos dos 58 passageiros e quatro tripulantes do voo, a maioria deles morreu por politraumatismo — múltiplas fraturas — pela queda e outros ainda foram atingidos pelas chamas da explosão. Cerca de 30 profissionais participaram da força-tarefa responsável pelas necropsias, sendo que a maior parte das identificações foram feitas por meio de digitais.

Entre as vítimas estavam médicos, empresários, profissionais da área do Direito, professores, servidores públicos do estado do Paraná, aposentados e crianças. O cachorro de uma família de venezuelanos também estava a bordo. Mais da metade dos 62 ocupantes viviam no Paraná.

Após o acidente, surgiram várias denúncias sobre supostas irregularidades nos processos de manutenção da Voepass, com falhas em procedimentos e no reparo dos aviões. O CEO da companhia aérea, José Luiz Felício Filho, contestou essas informações na época e assegurou  que a empresa adota as "melhores práticas internacionais" para "garantir a segurança operacional de todos."