O ex-governador de São Paulo João Dória disse, em entrevista publicada no jornal Folha de S. Paulo neste sábado (15), que “a mentira venceu” no Brasil durante o período da pandemia da Covid-19. Para ele, as “fake news produzidas pelo gabinete do ódio” atrasaram a compra da vacina, e que “foi preciso coragem” para assinar os primeiros pedidos de compra dos imunizantes. Dória não citou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas fazia referência à susposta estrutura que opositores alegavam existir na gestão anterior.
Chamado de “pai da vacina” pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), em 2021, Dória se antecipou ao governo federal nos pedidos da Coronavac. Hoje, em retrospectiva, ele nega o título e faz uma autoavaliação de sua postura como a de “um incentivador e alguém que se expôs publicamente na defesa da vacina na condição de governador do maior estado brasileiro”.
A primeira intenção de compra de vacinas foi feita pela gestão Dória ainda em junho de 2020, quando foi anunciada uma parceria do Instituto Butantã com o laboratório chinês Sinovac. O acordo permitiria a realização de testes em pacientes e a compra de lotes de vacina assim que fosse iniciada a fabricação.
Em outubro daquele ano, após um anúncio do Ministério da Saúde sobre a compra de quase 50 milhões de doses, o então presidente da República, Jair Bolsonaro, vetou a aquisição de vacinas da China. Como justificativa, Bolsonaro disse que a população brasileira “não seria cobaia de ninguém”.
“No combate pelas narrativas, nós perdemos. Ganhou o gabinete do ódio. Venceu a mentira, venceu, infelizmente, a predominância da informação de que a Covid não era grave, de que não haveria mortos. Prevaleceu sobre muitos a ideia de que era uma "gripezinha", que o isolamento e a quarentena não eram necessários e que a vacina, tampouco, era importante”, disse Dória.
Para Dória, primeiro pedido de compra de vacinas "foi difícil de assinar"
Ao adquirir um lote de doses maior do que o indicado para o público-alvo em São Paulo, o ex-governador disse ter tido a intenção de disponibilizar os imunizantes para outros estados. As vacinas foram posteriormente enviadas para o Ministério da Saúde, em um movimento inverso ao que geralmente ocorre na logística de compra desses materiais.
“Foi difícil assinar a compra bilionária enquanto as fake news diziam que a vacina não era necessária. Era preciso ter uma dose de coragem para assinar isso. Eu poderia ter sido responsabilizado legalmente por ter usado de forma errada o dinheiro público de São Paulo”, apontou Dória.
Vacina "100% nacional" anunciada por Dória nunca chegou a ser fabricada
Na entrevista, o ex-governador foi questionado sobre o anúncio do desenvolvimento da vacina brasileira contra a Covid-19, a Butanvac. Tratada pelo governo Dória como um imunizante 100% nacional, a vacina teve sua tecnologia desenvolvida na Escola de Medicina Icahn do Instituto Mount Sinai, em Nova Iorque. Em 2024, os estudos para o desenvolvimento da Butanvac foram suspensos.
“Nós, de fato, anunciamos. Mas não que ela estaria disponível, que ela seria produzida no Butantan. Nós nunca dissemos que ela estava pronta para ser distribuída e aplicada. Aí, de novo, as fake news. O mesmo gabinete do ódio dizendo ‘ó, calça apertada tá dizendo que agora vai produzir vacina no Brasil’. E aí disseminaram essa informação de que a Butanvac, que deveria estar disponível, não estava”, disse.
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