O 10º encontro do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) começa nesta quinta-feira (29) após um início de semana marcado por ações e declarações antagônicas dos governadores do bloco em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado pela Polícia Federal (PF) pela suposta articulação de uma minuta de golpe de estado após as eleições de 2022.
O Cosud reúne os governadores dos sete estados do Sul e do Sudeste para fortalecimento das relações entre os participantes e discussão de políticas públicas para as duas regiões. Entre os principais temas que serão debatidos na edição de Porto Alegre (RS), até o próximo sábado (2), está o enfrentamento às mudanças climáticas e a segurança pública nos estados, com atenção aos sistemas penais.
Apesar de o evento ser considerado de cunho técnico, a política partidária divide o grupo, principalmente em uma semana marcada pelo ato bolsonarista na avenida Paulista no último domingo (25). Cinco dos sete governadores do Cosud se declaram apoiadores de Bolsonaro, enquanto o anfitrião Eduardo Leite (PSDB-RS) criticou o próprio partido pela possibilidade de apoio a Ricardo Nunes (MDB) nas eleições municipais em São Paulo. O atual prefeito da capital paulista estava presente no evento pró-Bolsonaro e é considerado o pré-candidato bolsonarista na cidade.
“A radicalização dos extremos, seja por falas absurdas e comparações inadmissíveis do atual presidente ou por manifestações descabidas como a do ex-presidente na avenida Paulista, deixa o Brasil paralisado e dividido”, publicou o governador gaúcho nas redes sociais no último domingo.
No dia seguinte (26), Leite declarou durante palestra no ciclo de debates "O Brasil na visão das lideranças públicas", promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso (FHC), em São Paulo, que só concorreu à reeleição no Rio Grande do Sul para evitar a vitória de Onyx Lorenzoni (PL-RS), aliado de Bolsonaro. Leite chegou a deixar o governo gaúcho como um dos pré-candidatos do PSDB à presidência da República, mas disputou a eleição de 2022 novamente como candidato a governador e venceu nas urnas.
“Eu concorri à reeleição quando percebi que, se não concorresse, o Onyx Lorenzoni seria o governador do estado. A polarização faria com que os dois candidatos, que se associavam aos dois polos representados nas candidaturas de Lula e Bolsonaro, fossem levados para o segundo turno e, talvez, o antipetismo fizesse com que o Onyx fosse eleito governador. Não fizemos tudo o que fizemos no estado para entregar para Onyx Lorenzoni com sua absoluta falta de capacidade. Maior prova disso é que ele começou como chefe da Casa Civil [na gestão Bolsonaro] e se tivesse um pouco mais de governo terminaria como chefe do Almoxarifado”, afirmou Leite durante a palestra na Fundação FHC.
No último domingo, três governadores do Cosud participaram do evento pró-Bolsonaro: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Jorginho Mello (PL-SC) e Romeu Zema (Novo-MG). O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL-RJ), é filiado ao partido do ex-presidente e não participou do evento por causa de uma viagem internacional. Já o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD-PR), também não compareceu em meio à crise nacional no relacionamento entre PL e PSD após a troca de farpas entre Bolsonaro e Gilberto Kassab (PSD). Único governador alinhado à atual gestão federal é Renato Casagrande, do Espírito Santo, filiado ao PSB do vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Governadores do Cosud debatem 21 temas da administração pública
A capital gaúcha será o ponto de encontro para os governadores e seus grupos técnicos debaterem 21 temas da administração pública estadual. A partir dos pontos levantados nas discussões, ao final do evento, os governadores do Cosud vão assinar uma carta de compromisso sobre os objetivos definidos.
Com mais de 114 milhões de habitantes, os estados de Sul e Sudeste respondem por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A abertura oficial do evento ocorre no final da tarde desta quinta-feira (29) na Sala Sinfônica da Casa da Ospa. Na sexta-feira (1º), os grupos técnicos, formados por representantes dos governos estaduais, se reúnem divididos por especialidades em dois espaços: 19 no Campus Porto Alegre da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos) e dois no Theatro São Pedro.
Nesta edição, serão discutidos 21 temas: Agricultura e pecuária; Cultura; Defesa Civil; Desenvolvimento social e profissional; Desenvolvimento econômico, parcerias e fomento; Direitos humanos, juventude e políticas para a mulher; Educação; Esportes; Fazenda e previdência; Governança do Cosud; Habitação e obras; Infraestrutura, logística e desenvolvimento urbano; Inovação e inclusão digital; Malha ferroviária; Meio ambiente; Planejamento e governo digital; Procuradoria-geral do Estado; Saúde; Segurança Pública; Transparência, controladoria e ouvidoria; e Turismo.
No segundo dia, os sete governadores vão tratar de tópicos de interesse entre os estados-membros em três reuniões agendadas. No sábado (2), último dia desta edição do Cosud, no Salão Alberto Pasqualini, no Palácio Piratini, ocorre a cerimônia de encerramento e a leitura da Carta. O documento será redigido com base nos pontos de destaque das discussões dos grupos técnicos.
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