Os partidos de direita têm grandes expectativas sobre as eleições municipais de 2024 em Belo Horizonte. O bom desempenho de Jair Bolsonaro (PL) e Romeu Zema (Novo) nas últimas eleições majoritárias, somado à expressiva votação de deputados conservadores e liberais na cidade, gera expectativas positivas também para 2026.
Para isso, é preciso reverter uma tendência: a esquerda detém a hegemonia nas eleições municipais na capital mineira há mais de duas décadas. Desde 1993, com a eleição de Patrus Ananias (PT), os prefeitos eleitos são filiados a partidos de esquerda ou foram apoiados por ela. Tanto é que o último prefeito eleito, Alexandre Kalil (PSD), teve a esquerda ocupando cargos importantes em seu mandato e recebeu apoio de Lula (PT) para a candidatura ao governo estadual em 2022. Para ser candidato, o então prefeito precisou renunciar à prefeitura, hoje ocupada por Fuad Noman, também do PSD. Entretanto, Kalil foi derrotado em primeiro turno por Zema, tendo uma votação menor que a do governador reeleito até mesmo em Belo Horizonte, onde o partidário do Novo recebeu 46,56% dos votos válidos, contra 42,54% do ex-prefeito.
Nessa esteira, o Partido Novo pretende utilizar o prestígio do governador para melhorar o desempenho nas eleições do próximo ano.
De acordo com o presidente municipal da sigla, Frederico Papatella, o Novo pretende, com as eleições 2024, aumentar a participação na Câmara de Vereadores, que hoje é de três parlamentares (Bráulio Lara, Fernanda Altoé e Marcela Trópia). "A gente entende que, por ser um partido que tem o governo do estado, em Belo Horizonte a gente tende a colher bons frutos em função disso”, afirma.
Papatella ressalta a mudança de estratégia do partido, que teve a votação na eleição de 2020 muito concentrada na região centro-sul, a mais rica da capital mineira. “Estamos buscando jovens, pessoas de segmentos variados para representar a população, todos eles alinhados com os princípios e valores do Novo. A gente acredita que nós vamos ter sucesso nessa construção da chapa. Vai ser a primeira vez que, em Belo Horizonte, nós vamos sair com a chapa completa”, comenta o presidente, que também informou que mais de 100 pessoas se inscreveram no processo seletivo e de formação que o partido realiza, chamado “Jornada 24”, para pré-candidatos. Desse grupo sairão os 42 candidatos possíveis para a chapa do Novo na capital mineira.
Na eleição majoritária, Papatella mantém confiança, mas segue firme na posição de não se alinhar a partidos de esquerda, seguindo a postura confirmada pelo diretório estadual. Por isso, o Novo trabalha com nomes que estão participando da seleção interna, como o ex-deputado Lucas Gonzalez e a atual secretária de planejamento do governo de Minas Gerais, Luísa Barreto. A secretária, que concorreu à prefeitura da capital em 2020 pelo PSDB, pediu desfiliação em agosto de 2022 e participa do processo seletivo.
O Novo não descarta, porém, uma aliança partidária e cita o nome do jornalista Eduardo Costa, filiado ao Cidadania. Costa é notório apoiador do governador Romeu Zema e tem boa relação com o Partido Novo, tendo sido cotado para ser o candidato a vice-governador na chapa, o que acabou não acontecendo porque o Cidadania estava em federação com o PSDB, que preferiu lançar candidatura própria e inviabilizou a aliança com o atual governador.
Belo Horizonte é peça-chave na articulação do PL
Para o PL, partido que tem no quadro Nikolas Ferreira, ex-vereador na capital e deputado federal mais votado em Minas Gerais, Belo Horizonte é uma cidade bastante relevante para o futuro político - e por isso o nome do candidato é refletido com calma.
Domingos Sávio, deputado e presidente do PL em Minas, afirma que a eleição em Belo Horizonte não ficará imune à polarização política. “Embora as eleições municipais tenham foco na realidade e na vida do município - e, claro, seja importante que o candidato esteja identificado com as preocupações e as prioridades da população - é muito claro para mim que a população brasileira passou a ter um interesse maior na política”, afirma ele.
O PL conta com o bom desempenho de Bolsonaro em 2022 em Belo Horizonte para repetir um resultado satisfatório em 2024. Na eleição presidencial, apesar de Minas Gerais ter dado a vitória a Lula por margem apertada, Bolsonaro derrotou Lula por 54,25% contra 45,75% dos votos válidos na capital. E Domingos Sávio acredita que isso acontece porque o PL representa as ideias da maioria da população. “Esse pessoal da esquerda tem tendência para o comunismo e para práticas que atentam contra os valores que são tradicionais e muito caros para o povo brasileiro, e quem representa esse sentimento de oposição no Brasil é o PL”, argumenta Sávio.
Apesar da derrota em 2022, na última eleição municipal Kalil foi reeleito com larga vantagem, obtendo no primeiro turno 63,36% dos votos, contra 9,95% dos votos do segundo colocado, o bolsonarista Bruno Engler, hoje deputado estadual pelo PL.
Candidaturas "em cima do muro" tendem a encolher, aponta análise
Segundo o sociólogo Gabriel Mendes, não se pode traçar um cenário a partir dos resultados de 2020, pois aquela se trata de uma eleição atípica. “Devido ao período pandêmico, as ações de campanha eram limitadas, fazendo com que as pessoas não tivessem a possibilidade de conhecer melhor os candidatos. Isso sem contar que em regiões mais afastadas do centro de BH, as pessoas estavam dependentes de serviços do governo e atrelavam os auxílios recebidos à prefeitura”, afirma, demonstrando que a polarização deve mesmo dar o tom nas eleições municipais.
“Além de a direita ter percebido a importância de mobilizar a base e ganhar eleições locais, há um público fiel nos dois lados que vai cobrar posicionamento firme dos candidatos em determinadas pautas. Por mais que Belo Horizonte tenha candidatos de destaque que não estão alinhados a Lula e a Bolsonaro, qualquer candidato nas eleições majoritárias que não levantar pautas destacadamente progressistas e conservadoras e ficar em cima do muro tende a encolher”, analisa.
O PL parece compreender desta forma o atual cenário em Belo Horizonte. O nome mais falado para a prefeitura da capital mineira é justamente o de Bruno Engler, que depois de ser derrotado por Kalil em 2020, ganhou prestígio junto ao eleitorado bolsonarista - tanto que foi reeleito deputado estadual, com 637.412 votos, a maior votação do estado para o cargo. Em diversas ocasiões, o ex-presidente Jair Bolsonaro manifestou apoio ao deputado, que tem 26 anos e é o nome confirmado como pré-candidato pelo partido.
Apesar da polarização ter grandes chances de dar o tom da eleição no Brasil e em Belo Horizonte não ser diferente, alguns nomes que não estão diretamente alinhados ao petismo e ao bolsonarismo se destacam em pesquisas eleitorais mais recentes, como o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), Eduardo Costa (Cidadania) e o próprio prefeito Fuad Noman.
Segundo Mendes, as pesquisas neste cenário, praticamente a um ano da eleição, são apenas um retrato do momento, que reflete o grau de conhecimento que o eleitor médio tem dos nomes citados. “Muitos dos candidatos que estão na frente têm maior apelo midiático, inclusive alguns deles são jornalistas e estão sempre na memória da população. Quando a campanha começar, muita coisa deve mudar, até porque há outras questões, como a atuação das lideranças comunitárias e religiosas, bem como a influência de políticos relevantes, que vão nortear a decisão do eleitor”.
A deputada federal Duda Salabert (PDT) afirmou em entrevista à Rádio O Tempo, no último dia 7, que é pré-candidata à prefeitura da capital mineira, apontando que o coordenador de campanha será o colega dela de Câmara, Mário Heringer (PDT). Eleita com mais de 200 mil votos, Salabert ganhou várias manchetes após a vitória, por ser a primeira deputada federal trans de Minas Gerais. Com base forte em causas identitárias, a deputada apareceu em terceiro lugar nas intenções de voto dos belo-horizontinos em pesquisa do Instituto Data Tempo, divulgada no mês de setembro.
O PT também discute a possibilidade de candidatura própria, tanto que em setembro lançou a pré-candidatura de Rogério Correia, deputado federal e vice-líder do governo na Câmara dos Deputados. A viabilidade dessa candidatura depende de costuras políticas, especialmente em caso de possível ascensão de uma candidatura de direita, o que faria com que as vozes da esquerdas concordassem em formar alianças competitivas.
Outro nome frequente nas pesquisas é o do vereador Gabriel Azevedo. Cumprindo segundo mandato e tendo sido eleito presidente da Câmara em 2023, Azevedo sofre processo de cassação que tem entre as motivações agressões verbais que teria cometido a outros vereadores da Casa; gravação de uma conversa sem autorização com um vereador do PP; e desrespeito na criação de uma nova CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre os contratos da Lagoa da Pampulha. O vereador também não tem, até o momento, nenhuma filiação partidária, e teria sido sondado pelo Republicanos, partido do deputado Mauro Tramonte, que hoje lidera as pesquisas para a prefeitura da capital. Procurada para esclarecimentos sobre os possíveis nomes, a assessoria do presidente estadual do Republicanos, deputado federal Euclydes Pettersen, não deu retorno até o fechamento desta reportagem.
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