Asfalto deteriorado, sinalização precária e traçados que colocam em risco a segurança dos motoristas são características marcantes das rodovias do estado que lidera o ranking de estradas em péssimas condições no Brasil. Trata-se do Amazonas, estado cuja infraestrutura rodoviária enfrenta desafios alarmantes e demanda investimentos urgentes.
Detentora de um dos biomas mais ricos do mundo, a região possui estradas que não só comprometem a logística e a economia como também colocam em risco a segurança e a qualidade de vida da população. De acordo com a Pesquisa CNT de Rodovias 2024, realizada pela Confederação Nacional do Transporte, o Amazonas possui o maior índice brasileiro de rodovias classificadas como "péssimas": 38,6% da malha avaliada receberam essa classificação.
Além disso, 34,8% das rodovias amazonenses foram consideradas ruins. Trechos de estradas que totalizam 3,9% receberam classificação "boa" da CNT, enquanto 1% se enquadraram como "ótimas".
Sinalização é considerada péssima em 34,9% das rodovias do Amazonas
A pesquisa analisou 1.030 quilômetros de rodovias no Amazonas, o que representa 0,9% do total avaliado no Brasil. Do total, apenas 1,9% das rodovias do Amazonas têm pavimento em condições ótimas, enquanto 30,8% foram classificadas como péssimas e 5,8% da malha pavimentada está completamente destruída.
No quesito sinalização, mais de 34% das estradas avaliadas não possuem faixa central, 50,4% não têm faixas laterais. Além disso, 34,9% da sinalização das rodovias do Amazonas foi considerada péssima.
Quanto à geometria das vias, 51,5% dos trechos analisados foram classificados como péssimos, com a predominância de pistas simples em 96,6% da malha e a ausência de acostamento em 2,4% dos trechos. Foram identificados 178 pontos críticos ao longo das rodovias do estado, reforçando a gravidade da situação.
Alta pluviosidade, umidade e insolação criam um ambiente hostil para a conservação de estradas, tornando particularmente difícil a construção e a manutenção das rodovias.
Claudio Roberto Frischtak, presidente da InterB, consultoria especializada em infraestrutura e negócios
De acordo com a pesquisa, as condições precárias das rodovias no Amazonas geram um aumento médio de 61,2% no custo operacional do transporte, o que impacta diretamente os preços de produtos e a competitividade econômica do estado. Além disso, em 2024, estima-se que a má qualidade do pavimento resulte em um consumo desnecessário de 17,7 milhões de litros de diesel, gerando um custo adicional de R$ 101,93 milhões aos transportadores.
O prejuízo causado pelos acidentes rodoviários em 2023 chegou a R$ 24,38 milhões, enquanto os investimentos governamentais no setor rodoviário no mesmo ano foram de apenas R$ 37,96 milhões, evidenciando a disparidade entre os problemas enfrentados e os recursos aplicados.
Contrapartidas altas inviabilizam atração de investimento privado
Claudio Roberto Frischtak, presidente da InterB, consultoria especializada em infraestrutura e negócios, aponta as dificuldades estruturais e climáticas do Amazonas como fatores que tornam a manutenção das rodovias particularmente desafiadora. “A alta pluviosidade, a umidade e a insolação criam um ambiente hostil para a conservação de estradas, tornando particularmente difícil a construção e a manutenção das rodovias", diz Frischtak, que aponta também agências reguladoras muito frágeis no estado e problemas relevantes no âmbito judiciário.
Diferentemente de estados como São Paulo, onde parcerias público-privadas (PPPs) estão consolidadas e bem-sucedidas, o Amazonas demanda um alto volume de contrapartidas financeiras, tanto estaduais quanto federais, para viabilizar concessões. “O estado sofre com agências reguladoras frágeis e falta de recursos para implementar PPPs”, avalia ele.
Para reverter o quadro, a pesquisa estima que seriam necessários R$ 1,08 bilhão em investimentos emergenciais, que incluiriam reconstrução, restauração e manutenção das rodovias. Entretanto, apenas 24,7% do orçamento autorizado pelo governo federal em 2024 foi efetivamente investido até outubro.
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