A reportagem da Gazeta do Povo apurou o que apontam as investigações preliminares sobre como ocorreu a fuga de dois presos do Comando Vermelho que estavam no presídio federal de segurança máxima em Mossoró (RN), registrada na última quarta-feira (14). Foi a primeira fuga em presídio federal desde que o sistema foi criado.
Segundo apuração da reportagem, os detentos não estavam nas celas convencionais, mas sim em celas que fazem parte do setor de triagem, onde ficam presos provisórios que chegam à unidade prisional, o que não era o caso dos custodiados que fugiram e que estavam na unidade de Mossoró desde setembro. A mesma estrutura acomoda detentos que serão transferidos ou passarão por algum processo de escolta, o que a equipe de investigação cogita ser a situação envolvendo a dupla.
Os dois teriam fugido rompendo a luminária da parede da triagem. A estrutura é afetada por uma espécie de maresia e as luminárias estariam com parte da estrutura corroída. Este era um dos motivos pelos quais a unidade passava por reformas. A Gazeta do Povo também apurou que esses dois presos removiam a luminária e rompiam a estrutura danificada atrás delas até conseguirem acessar, pelo setor hidráulico e de iluminação, a parte externa da unidade prisional.
Cada preso fazia a escavação de sua própria cela e não se descarta que eles tenham se comunicado para coincidir a ação e horário de fuga, que teria ocorrido por volta das 3h de quarta-feira. Por volta das 5h agentes observaram que eles não estavam nas celas, iniciando então a perseguição.
Apurações iniciais da equipe de investigação indicam ainda que os dois chegaram a correr por 20 metros no pátio do presídio até alcançar o alambrado, que foi escalado para a fuga.
“Se estivessem numa cela convencional havia 0% de chance de fuga, mas com isso se mostrou que o setor de triagem é o mais vulnerável”, alertou um agente, em condições de anonimato.
As investigações iniciais teriam chegado à conclusão que cada um dos presos acessou o duto pela sua cela individual e que a fuga ocorreu por ocasião, não tendo um plano arquitetado com apoio externos, apesar de não se descartar que possa ter havido algum auxílio ou conivência para a saída. “Pode ter tido alguma intervenção, mas acreditamos ser um misto das coisas e de situações que culminaram com a fuga”, afirmou outro agente.
Alerta sobre condições precárias nas câmeras de vigilância era recorrente
Outro ponto apurado pela reportagem da Gazeta do Povo é que as câmeras de segurança externas da estrutura penitenciária apresentavam problemas estruturais que vinham sendo alertados há meses ao sistema federal. Somente agora estariam sendo substituídas em meio a um processo de modernização. A vigilância humana externa do presídio estava ativa no momento da fuga, mas os policiais penais que fazem a varredura não estavam no ponto onde os criminosos deixaram a unidade. Juntos, os dois detentos que concretizaram a primeira fuga em Mossoró somam mais de 150 anos de detenção.
“Existe vigilância externa, mas ela não está em todos os lugares ao mesmo tempo e, diferente do que afirmam alguns órgãos de imprensa, a fuga não ocorreu das celas convencionais (...) não temos dúvidas de que serão capturados e voltarão para o presídio, de onde só sairão se houver decisão judicial”, seguiu o agente.
Fernando Beira-Mar, principal líder do Comando Vermelho e que também está na unidade de Mossoró, há cerca de um mês, não teve qualquer acesso aos presos que fugiram nem com a estrutura pela qual a fuga foi protagonizada.
No fim da manhã desta quinta-feira (15), o secretário Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública, André Garcia - que está em Mossoró - concedeu uma entrevista coletiva para tratar da fuga. É a primeira fuga do sistema penitenciário federal em 18 anos, desde a criação da primeira das cinco atuais unidades. Além de Mossoró, elas estão distribuídas pelas cidades de Catanduvas (PR), Porto Velho (RO), Campo Grande (MS) e Brasília (DF).
Sem detalhar a fuga, sem confirmar como ela ocorreu nem especificar o andamento das investigações e o possível paradeiro dos criminoso, Garcia disse apenas que o fato foi um evento inusitado e que não haverá outros. “Vamos trabalhar para que um fato inusitado como este seja irrepetível”, afirmou.
O secretário ponderou, durante a entrevista, que se avançou para ter uma noção de como a dupla havia fugido, mas observou que os fatos precisavam ser confirmados tecnicamente e de forma segura. “Para que possamos concluir todos os nossos procedimentos, inclusive os de responsabilização funcional", reforçou. Desde a fuga em Mossoró, protocolos de segurança nos presídios federais foram revisados e reforçados, além da própria segurança em todas as unidades que compõem o sistema.
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