A necessidade de importação de quase 10 milhões de toneladas de grãos por ano para alimentar os imensos plantéis de aves e suínos trazem a algumas regiões no Sul do Brasil uma dependência extrema do transporte rodoviário. Além de encarecer a produção, o modal sofre com estradas em mau estado de conservação, o movimento intenso e as dificuldades logísticas que afetam o escoamento para exportação, atrasando a chegada e a partida de cargas.
No contrapé, analisando todas essas dificuldades, grupos de investidores têm optado por outras regiões. Mesmo aqueles que já estão instalados neste entorno têm optado por segurar investimentos com a retração na competitividade. A avaliação vem do próprio setor produtivo.
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, alertou que regiões com menos capacidade e facilidade logística registram uma tendência de diminuição no crescimento ou fuga de investimentos. “Quando planejamos crescimento, precisamos de novas linhas de abate, construção de aviários, ampliação de pocilgas suínas, produção de ovos, essa criação consome muito grão. Santa Catarina e Rio Grande do Sul são grandes importadores, o Paraná é autossuficiente, mas também precisa comprar de fora (...) com as dificuldades logísticas, o empresário, quando vai fazer seu planejamento para crescer, vai olhar para outros destinos, infelizmente”, alertou.
Esses são alguns dos motivos pelos quais as regiões oeste e sudoeste do Paraná, oeste de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul estão unidas para viabilizar um braço de uma ferrovia que promete ser revolucionária para o agro: a extensão da Nova Ferroeste.
Juntas, essas regiões possuem um Produto Interno Bruto (PIB) que supera os R$ 200 bilhões. Elas concentram as maiores produções nacionais de aves e suínos e enxergam na ferrovia, que ainda está em fase de projetos, uma solução revolucionária.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Chapecó (Acic Chapecó), Lenoir Antônio Broch, afirmou que no traçado de 263 quilômetros que vai de Cascavel (oeste do Paraná) a Chapecó (oeste catarinense), os projetos estão avançados.
Um grupo chinês esteve em Santa Catarina, mês passado, para manifestar a intenção de construir e administrar a ferrovia por quase 100 anos.
“Temos parques industriais que estão desinvestindo no oeste de Santa Catarina por conta dos problemas logísticos. A ferrovia seria uma salvação”, alertou Broch.
Este seria um dos braços da Nova Ferroeste, projeto orçado em R$ 29,4 bilhões e que é gestado pelo governo do Paraná prevendo um traçado principal do Porto de Paranaguá (PR) a Maracaju (MS) em pouco mais de 1,3 mil quilômetros, com perspectiva de ramais de Cascavel até Foz do Iguaçu e de Cascavel a Chapecó. O objetivo do governo do estado é que o projeto vá a leilão na Bolsa de Valores (B3) em 2024.
Neste último trecho (Cascavel-Chapecó), a ferrovia servirá para levar grãos a Santa Catarina e transportar proteína animal, para que, de Cascavel, siga rumo ao Porto de Paranaguá e ganhe as exportações. A ferrovia tem estimativa de reduzir em 28% o custo de transporte e, consequentemente, aumentar a competitividade e possibilitar produtos mais baratos ao consumidor final, lembra o presidente da Acic Chapecó.
O grupo de trabalho estima plenitude das operações da ferrovia para o ano de 2044, quando devem estar em uso 395 vagões de grãos e 43 de contêineres nos 22 trens em circulação. O projeto ousado prevê ainda capacidade de transporte em 8,85 milhões de toneladas/ano.
Rio Grande do Sul também quer a ferrovia
A conexão Cascavel-Chapecó abre uma possibilidade de incorporação no projeto até o Rio Grande do Sul e, assim, o megatraçado de infraestrutura promete envolver as principais regiões produtoras do Sul brasileiro e facilitar a exportação de 10 milhões de toneladas de grãos.
Uma frente de trabalho, dentro do projeto em curso, realiza um estudo pelo governo e setor produtivo do Rio Grande do Sul do traçado férreo de Passo Fundo (RS) a Chapecó. “Estamos falando de um projeto de desenvolvimento econômico e social, por isso queremos levar Passo Fundo até Chapecó, e consequentemente ao Paraná. Essa carência na infraestrutura de transportes é comum aos três estados do Sul do país, o que essa proposta da Nova Ferroeste vem corrigir”, lembrou Gilmar Caregnatto, coordenador técnico e gerente de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs).
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