O fechamento do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, devido às enchentes colocou outros aeroportos do Rio Grande do Sul no radar de companhias aéreas e do poder público. Quando o olhar se voltou para os equipamentos do interior, a análise foi de que havia a necessidade de adequações e investimentos para passarem a receber voos regulares de passageiros ou aumentar as frequências. E no que seria o timing perfeito, o leilão para a concessão dos aeroportos de Passo Fundo e Santo Ângelo, com previsão para ser realizado nesta quinta-feira (1º) foi cancelado por falta de interessados.
A data prevista para a entrega dos envelopes das empresas interessadas em administrar os dois terminais do interior gaúcho era 25 de julho, mas não houve proponentes. O edital do foi publicado em fevereiro deste ano e o leilão seria realizado inicialmente em 20 de junho — as enchentes, porém, forçaram o adiamento. Mesmo com mais tempo disponível e voos da malha emergencial operando nesses aeroportos, o governo do Rio Grande do Sul não conseguiu convencer a iniciativa privada de que seria um bom negócio investir no Lauro Kortz, em Passo Fundo, e no Sepé Tiaraju, em Santo Ângelo.
Pelo edital, a concessionária operaria, faria a manutenção e ampliaria a capacidade da infraestrutura dos aeroportos por 30 anos. O investimento previsto era de R$ 101 milhões, incluindo reformas nas pistas, pátios, novos terminais e outras estruturas, sendo que o próprio governo do estado entraria com R$ 29 milhões por meio das secretarias de Logística e Transportes e de Parcerias e Concessões. A contrapartida não foi suficiente.
Diante da falta de interessados, o governo do estado admitiu que deve reavaliar o edital para tornar o projeto mais atrativo para as empresas e que algumas adequações podem ser feitas pelo poder público antes da nova tentativa. “Vamos levar para a análise a possibilidade de eventual realização de melhorias de menor porte pelo município no terminal a fim de compreender se elevaria o interesse ou afastaria o mercado. O importante é promovermos as correções para calibrar a atratividade da proposta, com benefícios para o estado e a população”, disse o secretário da Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi — a secretaria de Reconstrução passou a ficar responsável pelos projetos de parcerias com a iniciativa privada após as enchentes no estado.
Alternativas para Passo Fundo e Santo Ângelo
O governo do estado, que pretendia economizar com o leilão, poderá ter de fazer investimentos não previstos em Passo Fundo e Santo Ângelo, da mesma forma como ocorreu em Caxias do Sul. Após as enchentes, o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou R$ 14 milhões para qualificação e ampliação do Hugo Cantergiani. Outra maneira de levar os recursos para Passo Fundo e Santo Ângelo é com a ajuda do governo federal. O aeroporto de Santa Maria, por exemplo, vai receber R$ 25 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para melhorias no sistema de pista e terminal de passageiros.
Há ainda a Infraero que, em julho, recebeu por parte do estado do Rio Grande do Sul a outorga dos aeroportos de Canela e de Torres — a previsão é de que a empresa pública faça investimentos superiores a R$ 8 milhões nesses terminais. “Enquanto não temos o aeroporto Salgado Filho reaberto, vamos fazer todo o esforço possível para qualificar a aviação nos terminais do interior", afirmou o governador na ocasião da assinatura que repassou os aeroportos à Infraero.
Enquanto os investimentos não pousam, o aeroporto de Passo Fundo bateu recorde de movimentação. Só em junho deste ano, o Lauro Kurtz recebeu 13.436 passageiros, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O número é reflexo do aumento dos voos da Azul, Gol e Latam como parte da malha emergencial — hoje o aeroporto opera, em média, 20 voos semanais. Já em Santo Ângelo, a movimentação chegou a cair na comparação com o período anterior às enchentes. Em junho, o Sepé Tiaraju recebeu 2.259 passageiros em 25 voos no mês.
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