A Polícia Federal deflagrou nesta quarta (30) uma operação que avança na investigação de um grupo suspeito de lavar dinheiro do crime organizado por meio de fintechs, descoberto em meados de agosto e que teria movimentado R$ 7,5 bilhões. Segundo as informações da Operação Wolfie, eles tentaram também fraudar R$ 300 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Três pessoas foram presas preventivamente nesta manhã na cidade de Campinas (SP). A investigação que levou a esta operação aponta que o grupo tentou comprar um banco com dinheiro de financiamento do BNDES a partir de documentos fraudados, que foram apreendidos durante a operação de agosto.
“A investigação iniciou-se a partir de documentos apreendidos na Operação Concierge, deflagrada no último dia 28/8, tendo a análise de dados constatado que uma das fintechs investigadas havia protocolado um pedido de financiamento junto ao BNDES dias antes da deflagração da operação. O objetivo era a aquisição de um banco autorizado pelo BACEN [Banco Central]”, diz a PF.
Ainda segundo a autoridade, os documentos falsificados foram produzidos pelo dono da fintech com um contador e um lobista que seria responsável por articular com o BNDES a aprovação do financiamento. O pedido, diz a PF, foi negado após a deflagração da operação em agosto.
Os investigados, afirma a autoridade, podem ser indiciados pelos crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso, associação criminosa, obtenção de financiamento mediante fraude e advocacia administrativa. As penas podem passar de 25 anos de prisão.
À Gazeta do Povo, o BNDES informou que os "mecanismos de controle e de governança identificaram a tentativa de fraude. Com isso, a suposta fintech não foi habilitada e não houve nenhuma liberação de recursos".
"O BNDES possui rigorosos e consolidados mecanismos de controle e compliance, que fazem com que a instituição tenha um índice de inadimplência muito menor do que todo o sistema financeiro", completou afirmando que colabora com as investigações.
A reportagem também procurou o Banco Central e segue no aguardo.
Grupo criava contas “invisíveis”
Durante a primeira fase da investigação, em agosto, a PF cumpriu 10 mandados de prisão preventiva, 7 de prisão temporária e 60 de busca e apreensão nos estados de São Paulo e Minas Gerais. O grupo se utilizava de contas supostamente “invisíveis” ao sistema financeiro de duas fintechs para movimentar o dinheiro de facções criminosas e de empresas com dívidas trabalhistas e tributárias.
“As contas eram anunciadas como contas garantidas porque eram ‘invisíveis’ ao sistema financeiro e blindadas contra ordens de bloqueio, penhora e rastreamento, funcionando por meio de contas bolsões, sem conexão entre remetentes e destinatários e sem ligação entre correntistas e bancos de hospedagem”, disse a PF em nota na época.
Além dos mandados de prisão e de busca e apreensão, a Justiça determinou a suspensão das atividades de 194 empresas ligadas ao grupo criminoso, a suspensão da inscrição de dois advogados na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do registro de quatro contadores -- nas cidades paulistas de São Paulo, Osasco, Campinas e Sorocaba --, bem como o bloqueio de R$ 850 milhões em contas associadas à organização.
A investigação aponta que as contas clandestinas eram oferecidas publicamente, inclusive na internet, e funcionavam como “bolsões”, que garantiam a não conexão entre remetentes e destinatários, além de desvincular correntistas dos bancos de hospedagem.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) chegou a denunciar a prática ao Ministério Público Federal, fato que foi incorporado ao inquérito policial. Além das contas bolsões, a organização utilizava máquinas de cartão de crédito registradas em nome de empresas de fachada, permitindo a lavagem de dinheiro e pagamentos de atos ilícitos de forma oculta.
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