Rescaldo após enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024.| Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini
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Um levantamento feito no Departamento Econômico (Depec) do Banco Central do Brasil pode ajudar na compreensão do impacto econômico das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024. O estudo levou em conta dados de satélite e do cadastro da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, e mostra como as fortes chuvas afetaram diretamente empresas e empregados gaúchos.

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O levantamento mostra que cerca de 8% dos empregos formais de todo o Rio Grande do Sul estão a, no máximo, 500 metros de distância dos principais pontos atingidos pelas cheias de maio no estado. Em algumas regiões gaúchas, os alagamentos tiveram um impacto direto em 90% dos empregos formais.

Para chegar ao resultado, o estudo usou uma base de dados processada pela Nasa. Imagens de satélite obtidas duas vezes por dia foram analisadas pelo sistema Modis Near Real-Time Global Flood Product (NRT GFP), que identificou com precisão de 250 metros as áreas que foram ou não alagadas pelos temporais que assolaram o Rio Grande do Sul.

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Nesterecorte, os pontos em vermelho indicam a concentração de empregos formais em áreas distantes até um quilômetro dos pontos de alagamento no Rio Grande do Sul.| Foto: Divulgação / Depec / Banco Central do Brasil

O sistema identificou as maiores áreas de inundações na Região Metropolitana de Porto Alegre, Vale do Taquari e região Sul, abrangendo as áreas de Pelotas e Rio Grande. Há uma ressalva no sentido de que o sistema identifica apenas a ocorrência de alagamentos, sem mensurar volume ou altura que as águas chegaram em cada um dos pontos analisados.

Imagens de satélite processadas pela Nasa foram cruzadas com dados do Ministério do Trabalho e Emprego

Estes dados foram, então, cruzados com as informações presentes na Rais. O estudo reforça que, como não há nessa base de dados do governo federal uma associação direta de cada empresa com sua localização geográfica exata, foi preciso ligar cada uma dessas entradas com o CEP mais próximo.

“Assim, a localização de cada estabelecimento e sua distância às inundações é aproximada, sendo mais acurada nas regiões mais populosas, onde a área de cada CEP é menor”, alerta o estudo, com a ressalva de que esta distância de até 500 metros pode ser ainda menor em alguns casos.

Dentro das empresas possivelmente inundadas, o levantamento estima que, deste total, 6% são de indústrias do setor de transformação, 7% de empresas do comércio e 11% ligadas à prestação de serviços. Quando a distância dos pontos de alagamento sobe para um quilômetro, os percentuais aumentam para 22% dos empregos formais – dentro desta fatia, 14% na indústria de transformação, 19% no comércio e 23% na prestação de serviços.

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Estudo mostra diferenças do impacto econômico das cheias em várias regiões do Rio Grande do Sul

O estudo destaca ainda a diferença dos efeitos das cheias em cada uma das regiões do Rio Grande do Sul. Enquanto em algumas áreas o efeito das enchentes nos empregos pode ser considerado nulo, segundo os critérios de análise adotados, em outros, como na região de Pelotas, onde a lâmina d’água identificada foi menor, foram impactados 35% dos empregos formais.

Este percentual aumenta expressivamente em outras regiões gaúchas. De acordo com os dados do estudo, o impacto econômico na região de Encantado foi de 40% dos empregos, e de 50% nas imediações de Porto Alegre.

Mas foi nas regiões de Charqueadas, Triunfo e São Jerônimo que o levantamento do Depec do Banco Central identificou os piores resultados. Segundo os critérios do estudo, as empresas distantes até um quilômetro das áreas alagadas, cuja operação foi potencialmente atingida pelas cheias, concentravam 90% dos empregos formais.

Os índices são próximos aos de outro estudo, produzido pela consultoria Bateleur para a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul). Com impactos significativos em 90% dos municípios gaúchos, as chuvas arrasaram a economia gaúcha com a projeção de fechar o ano com retração do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,77%, além do processo de reconstrução que pode ter o custo de até R$ 174 bilhões.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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