O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), já se movimenta para buscar a reeleição em 2026. Ao mesmo tempo em que mantém fidelidade a Jair Bolsonaro (PL) e foca em pautas conservadoras, Jorginho Mello confirmou nos últimos dias um movimento decisivo para o seu destino político: a aliança com o MDB, uma das principais forças políticas do estado.
Na terça-feira da semana passada (18), após meses de negociação, Jorginho Mello confirmou que o primeiro escalão de seu governo passará a contar com três nomes do MDB: o deputado federal Carlos Chiodini (MDB) assumirá a Secretaria de Agricultura, enquanto Emerson Stein (MDB) ficará com o Meio Ambiente. Eles se unirão a Jerry Comper (MDB), que está à frente da pasta de Infraestrutura e Mobilidade desde 2023.
Essa dança das cadeiras não é em vão e visa fazer frente ao PSD, principal adversário político de Jorginho Mello no estado. "Temos dois pré-candidatos ao governo de Santa Catarina: de um lado o Jorginho Mello, do PL, e do outro João Rodrigues, do PSD, que é prefeito de Chapecó e tem muita influência na região. O MDB, que iria desbalancear essa briga, ficou do lado de Jorginho", explica Lucas Almeida, estrategista da Dual Consultoria Política.
A estratégia do PSD em ter um nome para disputar as eleições majoritárias, por sua vez, está relacionada ao ganho de espaço na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), na Câmara dos Deputados e no Senado. "O Jorginho vai ser reeleito e o PSD sabe disso, mas o partido precisa de um candidato a governador rodando o estado para puxar votos e eleger deputados, caso contrário o PL tomará a Alesc. Atualmente 11 cadeiras são do PL e esse número deve aumentar para 15, tendo em vista que, nas próximas eleições, o PL concorrerá tendo a cadeira de governador e de quase um terço das prefeituras do estado", calcula Almeida.
Bolsonaro é vital para Jorginho Mello manter votos conservadores em SC
Na avaliação de analistas do quadro eleitoral, os comentários de Jorginho Mello a favor do ex-presidente Bolsonaro, bastante frequentes, podem estar relacionados ao fato de ele precisar reafirmar a imagem junto aos eleitores de direita enquanto se alia a partidos de centro como o MDB.
Na semana passada, por exemplo, Jorginho Mello precisou refazer uma indicação política do MDB após um desgaste com a deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC). O governador catarinense havia sinalizado o advogado Vinicius Bion para a presidência da Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte), uma indicação do deputado estadual Fernando Krelling (MDB). A indicação, porém, foi cancelada e divulgada no Diário Oficial da quinta-feira (20) após críticas de Zanatta devido ao vínculo de Bion com um advogado que teria assinado, junto com a ex-senadora Ideli Salvatti (PT), um pedido de cassação contra ela.
Ao mesmo tempo em que contorna o ruído político, Jorginho Mello acena ao seu eleitorado fazendo elogios a Bolsonaro. Na quarta-feira (19), por exemplo, após a denúncia criminal da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro por suposto plano de golpe de Estado, Mello foi um dos únicos governadores que se pronunciou publicamente - via redes sociais - em apoio ao ex-presidente da República.
“Eu estou do lado certo. E Santa Catarina também. Golpe é tirar o maior nome de oposição à esquerda das eleições. Já vimos isso em países vizinhos que se transformaram em ditaduras falidas”, publicou Jorginho Mello junto a uma foto apertando as mãos de Bolsonaro.
Essa postura se assemelha a de Tarcísio de Freitas (Republicanos), posicionamento que vem garantindo ao governador de São Paulo não só o rótulo de principal postulante a sucessor de Bolsonaro à presidência da República, mas também a eleição de nomes importantes apadrinhados por ele, como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).
"Tendo em vista que em 2022 o Bolsonaro teve mais de 70% dos votos no segundo turno em Santa Catarina, é muito estratégico se mostrar muito alinhado a uma figura que tem um poder político tão grande assim no estado. Mesmo com o Bolsonaro possivelmente fora das eleições em 2026, esse movimento ajuda o governador a se fortalecer", diz Érico Oyama, consultor de Estados e Municípios da BMJ Consultores Associados.
Lei “anti-MST”, vedação de músicas com apologia a crime nas escolas e reajuste salarial para policiais
Jorginho Mello também vem se fortalecendo para a reeleição em 2026 por meio da aprovação de legislações importantes para o eleitor conservador. Entre elas está a sanção, em janeiro, de uma lei que instituiu no estado o “Abril Amarelo”, contraponto ao “Abril Vermelho”, mês em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promove invasões em todo o país.
A defesa da propriedade privada é um tema caro ao eleitor de Bolsonaro. A nova legislação propõe, ainda, a cooperação entre vizinhos para comunicar “autoridades policiais no caso de avistar movimentações de invasão de propriedades privadas”.
"Santa Catarina não tolera invasões de propriedade privada. Aqui, o invasor é tratado como criminoso. A propriedade é um bem sagrado, conquistado com muito esforço pelos catarinenses, e ninguém tem o direito de violá-la”, disse Jorginho Mello, cuja iniciativa inspirou a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e também uma proposta parlamentar no Paraná.
Também em janeiro entrou em vigor em Santa Catarina uma lei estadual que veda a reprodução de músicas e videoclipes com apologia ao crime, ao uso de drogas ou de cunho sexual e erótico em unidades de ensino privadas e públicas.
Outro movimento do governador catarinense diz respeito à segurança pública, prioridade do eleitor de direita. No início de fevereiro, Jorginho Mello anunciou aumento salarial de 21,5% para mais de 35 mil servidores, entre policiais civis, militares e científicos.
Além disso, na semana passada o governo estadual oficializou a policial penal de carreira Danielle Amorim Silva para o comando da Secretaria de Estado de Justiça e Reintegração Social (Sejuri). A indicação é uma resposta à crise que acomete o estado e que passa pela falta de vagas no complexo prisional e pela recente fuga de um detento da Penitenciária de Florianópolis.
"Jorginho precisa reforçar a todo momento que está comprometido com a agenda conservadora e com o Bolsonaro para não acontecer com ele o mesmo que ocorreu com o ex-governador Carlos Moisés em 2022, ou seja, uma derrota acachapante nas urnas", diz o estrategista Lucas Almeida.
"Na ocasião, Moisés tinha abandonado a agenda de Bolsonaro e sancionado no início do governo uma lei que permitia o uso de nome social no serviço público em Santa Catarina, por exemplo. Ali ficou muito claro que, quem não está junto com Bolsonaro, não se elege no estado", complementa.