O rio Negro alcançou neste domingo (6) o nível mais baixo em 122 anos de medição, marcando 12,39 metros de profundidade em Manaus. De acordo com o Sistema Hidro do Serviço Geológico do Brasil (SGB), a seca continua a reduzir o nível do rio, que já havia recuado 29 centímetros desde a semana passada e que pode cair ainda mais nas próximas, já que não há previsão de chuvas significativas para a Amazônia.
A gravidade da situação atual é evidenciada ao se comparar o nível atual com o recorde anterior de 12,70 metros, registrado em outubro do ano passado, durante outra seca severa. Neste ano, o recorde negativo foi ultrapassado na última quinta (3), quando o rio marcou 12,68 metros.
“O processo de vazante do rio Negro deve ainda continuar ao longo do mês de outubro até que a onda de cheia se estabeleça. Temos observado que a intensidade das descidas tem diminuído. Saímos de um patamar de descidas de 23 cm por dia para 14 cm diários e 11 cm nesta sexta”, disse André Martinelli, gerente de Hidrologia e Gestão Territorial em entrevista à Folha de S. Paulo.
De acordo com ele, o nível mais alto já registrado no rio Negro foi de 30 metros, em junho de 2021. No entanto, a marca tem oscilado nos últimos anos.
Ainda segundo Martinelli, o rio Solimões, que também enfrenta uma situação crítica, apresentou uma mínima histórica em 26 de setembro na estação de Tabatinga (AM), marcando -2,54 metros, mas desde então os níveis começaram a se elevar com oscilações.
Na última sexta (4), a cota em Tabatinga estava em -1,99 metros, enquanto em Manacapuru, o rio ainda seguia em processo de vazante, com 2,42 metros. O SGB explicou que valores negativos na medição não significam a ausência total de água no leito do rio, mas indicam níveis baixos em relação às medições históricas.
A seca faz parte de um ciclo natural de cheias e vazantes na região amazônica, mas tem atingido níveis históricos nos últimos dois anos e causado impactos ambientais e sociais. A falta de navegabilidade em alguns trechos do rio tem isolado diversas comunidades, que dependem dos barcos como principal meio de transporte.
Sem condições de navegar, essas populações enfrentam dificuldades de abastecimento de alimentos e combustíveis, como o diesel, essencial para o funcionamento de geradores e outros serviços.
Além dos impactos no transporte e no abastecimento, a estiagem também afetou as eleições na região. De forma antecipada, 78 locais de votação precisaram do uso de helicópteros para o transporte de urnas a comunidades isoladas. Essas áreas, que incluem 30 territórios indígenas, abrangem um total de 27,7 mil eleitores distribuídos em 136 seções eleitorais.
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