Ministro dos Esportes, André Fufuca anunciou a candidatura conjunta Rio-Niterói.| Foto: Mariana Raphael/MEsp
Ouça este conteúdo

Depois de receber a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o Rio de Janeiro volta a se candidatar como cidade-sede de um grande evento esportivo. Desta vez, a capital fluminense tem a companhia do município de Niterói, também no Rio de Janeiro, para receber os Jogos Pan-Americanos de 2031 e aposta nos equipamentos esportivos para vencer a concorrência com Assunção, no Paraguai. 

CARREGANDO :)

Por outro lado, a candidatura brasileira ao Pan de 2031 revela que antigas promessas de mobilidade urbana e infraestrutura ainda não saíram do papel no Rio de Janeiro, apesar dos investimentos feitos para receber o Mundial de futebol e os Jogos Olímpicos na década passada.

Além das promessas, a figura política central é mesma da Copa do Mundo e das Olimpíadas: o prefeito Eduardo Paes (PSD) - mandatário da capital Rio de Janeiro entre 2009 e 2017 - é um dos principais entusiastas do Pan de 2031, que volta a prometer a despoluição da Baía de Guanabara com apoio do governo federal. A candidatura conjunta foi aprovada pelo Cômite Olímpico Brasileiro (COB) e anunciada pelo ministro dos Esportes, André Fufuca, no final de janeiro.

Publicidade

O projeto da nova linha de metrô 3 para ligação Rio-Niterói foi resgatado e passou a fazer parte do pacote. A ligação do metrô carioca até Niterói está prevista desde a década de 1970 com passagem dos trilhos pela Baía de Guanabara em túnel submarino. Em 2023, o governo do estado lançou a licitação de estudos de viabilidade do projeto da linha 3, mas o processo foi anulado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Legado parcial: obras de estação para Olímpiadas do Rio estão paralisadas 

O diretor de Transportes da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcus Quintella, lembra que não houve obra de extensão de nenhuma linha do metrô carioca desde a entrega parcial da linha 4 para as Olimpíadas do Rio em 2016. Depois de quase 10 anos, o projeto não foi totalmente concluído.

As obras da estação da Gávea, por suspeita de superfaturamento no contrato, estão paralisadas e a promessa do governo estadual é de retomada dos trabalhos na próxima semana. O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi aprovado pelo TCE apenas no último mês de setembro.

A linha 4 do metrô foi orçada em R$ 8,7 bilhões com a entrega de 16 quilômetros adicionais de malha metroviária e seis estações, entre a zona sul e a Barra da Tijuca. “Há 10 anos, não se constrói um palmo de metrô no Rio de Janeiro. Todos esses projetos futuros são difíceis de serem concluídos a tempo até pelo histórico das obras na cidade. Não tem nenhum projeto executivo pronto. Não temos licitação, edital ou modelagem”, criticou Quintella.

Na avaliação dele, o antigo projeto para ligação Rio-Niterói por trilhos pela Baía de Guanabara é mais complexo em termos financeiros do que para a engenharia. “Não temos informações sobre fundos públicos para financiamento porque não deve ser a iniciativa privada que vai custear essa obra. O projeto precisa ser bem esclarecido, pois eu mesmo já tive contato com ele tanto no poder público quanto no setor privado nos últimos 20 anos”, recorda.

Publicidade

“Há 10 anos não se constrói um palmo de metrô no Rio. Todos esses projetos são difíceis de serem concluídos a tempo até pelo histórico das obras na cidade. Não temos licitação, edital ou modelagem.

Diretor de Transportes da FGV, Marcus Quintella

Quintella afirmou que apesar dos investimentos no ônibus (BRT) e na linha 4 do metrô, o legado das Olimpíadas do Rio para a mobilidade urbana não foi consolidado. Ele lembra que a estação da Gávea deve levar mais quatro anos para ser concluída. “É um legado capenga, parcial. Você vê todos esses projetos, mas quando vai para o pós-evento não tem resultado”, completa. 

Promessa para Pan de 2031, despoluição da Baía de Guanabara avança após concessão privada

Com promessa de despoluição de 80% para as Olimpíadas de 2016, a recuperação da Baía de Guanabara só avançou a partir de 2024, oito anos depois dos jogos olímpicos do Rio. Em 2021, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) foi leiloada e a concessionária Águas do Rio assumiu a gestão do serviço.

Segundo informações da empresa, a recuperação da Baía de Guanabara é o maior projeto ambiental dentro da concessão. De acordo com a Águas do Rio, cerca de 82 milhões de litros de água contaminada com esgoto deixaram de cair nas praias oceânicas e da Baía de Guanabara.

Além disso, a despoluição da baía faz parte da meta de coletar e tratar o esgoto de 90% da população até 2033, previsto pelo Marco Legal do Saneamento. A concessionária é responsável por 27 municípios da região e deve investir mais de R$ 12 bilhões para universalização do serviço. 

Publicidade

O estudo da FGV “Legado dos Jogos Olímpicos Rio-2016: Impactos Econômicos” lembra que o processo de despoluição da Baía de Guanabara tinha objetivo de “atender aos requisitos mínimos de balneabilidade necessários à prática de modalidades olímpicas como a vela”, no entanto, o resultado ficou abaixo da expectativa anunciada pelo governo do estado. 

“Quaisquer que fossem as reais intenções, as metas de despoluição apresentadas no Dossiê de Candidatura foram bastante otimistas, e os resultados de 2016 se mostraram muito aquém daqueles previstos inicialmente, ainda que tenham sido registrados alguns avanços”, aponta o levantamento.

Estudo defende impacto econômico como legado das Olimpíadas no Rio

Coordenador do estudo sobre o impacto econômico das Olimpíadas como legado para o Rio de Janeiro, o professor da Escola de Economia da FGV Daniel da Mata afirma que os grandes eventos geram “encadeamentos” na economia local. “A atividade econômica é movimentada tanto na fase de investimentos, com construções, insumos e contratação de mão de obra, quanto na operação dos serviços, posteriormente”, explicou em entrevista à Gazeta do Povo.

Ele calcula que o impacto das Olimpíadas no PIB carioca foi de R$ 50 bilhões no período entre 2016 e 2024, como resultado das obras e operações das infraestruturas entregues por causa do evento. Segundo Mata, um dos principais legados foi o projeto porto Maravilha, que investiu R$ 8,2 bilhões na região portuária da capital, maior parte do valor com origem na iniciativa privada.

“O porto Maravilha foi o principal projeto considerado no quesito legado finalizado, envolvendo o maior montante de investimento do grupo – aportado, quase em sua totalidade, via PPPs [parcerias público-privadas] –, assim como valores significativos de operação, referentes às novas demandas por bens e serviços suscitadas a partir das obras realizadas”, aponta o estudo.

Publicidade

Mata ressaltou a participação do capital privado nos investimentos estruturantes no Rio de Janeiro para que o Brasil recebesse os Jogos Olímpicos. "Comparada com outras experiências internacionais na promoção das Olimpíadas, a Rio-2016 teve uma das maiores parcerias privadas", acrescentou.

Na avaliação do professor, o Rio de Janeiro também foi beneficiado por uma sequência de grandes eventos, o que possibilitou a atração dos investimentos, geração de empregos e a movimentação econômica: o primeiro evento esportivo foi o Pan-Americano de 2007.

Antes da Copa e das Olimpíadas, o Rio de Janeiro ainda sediou a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, encontro internacional promovido pela Igreja Católica. “Isso beneficiou a experiência nas Olimpíadas, que se aproveitou de parte das estruturas dos outros eventos”, disse Mata. Para ter a candidatura confirmada ao Pan de 2031, Rio de Janeiro-Niterói aguardam o resultado, previsto para ser divulgado no mês de agosto deste ano pela Organização Desportiva Pan-americana (PanAm Sports).

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]