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Infraestrutura e agronegócio sofrem impactos econômicos em desastre climático no Rio Grande do Sul.
Infraestrutura e agronegócio sofrem impactos econômicos em desastre climático no Rio Grande do Sul.| Foto: EFE/Isaac Fontana

Com mais de 100 mortes confirmadas, o estado do Rio Grande do Sul segue em busca de aproximadamente 150 desaparecidos e com os resgates de moradores isolados em situação de risco na maior tragédia climática da história do estado. Enquanto socorre os gaúchos em meio aos caos, o estado projeta a necessidade de reconstrução após ser devastado pelas águas com sérios impactos estruturais, econômicos e sociais.

“Os cálculos iniciais das nossas equipes técnicas indicam que serão necessários, pelo menos, R$ 19 bilhões para reconstruir o Rio Grande do Sul. São necessários recursos para diversas áreas. Insisto: o efeito das enchentes e a extensão da tragédia são devastadores”, afirmou o governador Eduardo Leite (PSDB), por meio da rede social X.

Além disso, de acordo com o estudo do Depec-Bradesco, a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) projetava um crescimento de 4,7% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, sendo que a avaliação preliminar aponta para o risco de crescimento abaixo de 1% no comparativo com o ano anterior. “Levando em conta as regiões atingidas, o peso relativo dos setores e a experiência do Rio Grande do Sul em eventos como o ciclone de 2008 ou a pandemia sugerem uma perda de até 4 pontos percentuais neste ano, mesmo levando em conta uma hipótese para o esforço de reconstrução, praticamente zerando o crescimento em relação a 2023”, aponta a projeção econômica do Bradesco.

Conforme a análise do banco, um dos agravantes é que as áreas mais afetadas pelas enchentes são regiões com maior densidade populacional, entre elas, a capital gaúcha. O Rio Grande do Sul tem população de 10,8 milhões de habitantes conforme o Censo 2022, dos quais 1,3 milhão residem em Porto Alegre.

O estudo também compara o PIB do Rio Grande do Sul com a economia de países vizinhos. Segundo os dados apresentados, em 2022 o estado atingiu o PIB de aproximadamente R$ 600 bilhões, que representa US$ 116 bilhões. Isso significa que a economia gaúcha é maior do que a do Uruguai (US$ 80 bilhões) e também do Paraguai (US$ 46 bilhões).

O estado correspondeu a 6,5% do PIB brasileiro em 2021, conforme o banco, com destaque para os setores agrícola e industrial, que representaram 12,6% do PIB agrícola e 8,3% do PIB da indústria de transformação. A estimativa de potencial impacto sobre o PIB brasileiro é de 0,2 a 0,3 ponto percentual.

“O peso da indústria de transformação chega a 18% do PIB estadual, superando 8% da indústria brasileira. Em particular, calçados, móveis, produtos de metal e máquinas e equipamentos têm importância em nível nacional. Levamos em consideração que parte da indústria retomará o nível de produção em poucas semanas, assim como o anunciado por diversas empresas do setor. Adicionalmente, os riscos de uma interrupção prolongada estão associados aos danos físicos, que no atual momento são de difícil mensuração”, completa.

Após o impacto nas atividades econômicas em maio, a expectativa é de retomada em junho e normalização, a depender dos danos estruturais e do ritmo de reconstrução, o que pode beneficiar alguns setores da economia. “Nesse sentido, a construção civil, a indústria e o comércio podem ter impacto positivo nos meses subsequentes, em razão do esforço de reconstrução e da retomada da demanda deprimida”, projeta o Depec-Bradesco, que espera linhas de crédito subsidiadas para as famílias atingidas para aquisição de bens, o que pode potencializar a recuperação.

Agro: 7,5% da produção de arroz brasileiro pode estar comprometida

A agropecuária gaúcha responde por 15% do PIB estadual e representa 12,6% do PIB do agro brasileiro, sendo o arroz, soja, trigo e carnes os principais produtos  do setor no Rio Grande do Sul. Segundo o levantamento do Depec-Bradesco, 7,5% da produção de arroz no Brasil e 2,2% de soja podem estar comprometidas pelo desastre climático no Sul do país.

“O estado está em período de colheita de verão, sendo que cerca de 70% da soja e 80% do arroz já foram colhidos. Supondo que metade do que ainda esteja no campo tenha sido perdido, estamos falando de 800 mil toneladas de arroz e 3,2 milhões de toneladas de soja a menos na produção brasileira”, calcula o estudo econômico que considera a estimativa “conservadora”, pois não há como saber o comprometimento da parcela já colhida em fase de beneficiamento.

No caso do trigo, o plantio começou e está dentro da janela ideal, que vai até julho. “Entretanto, os danos em solo e as perdas do produtor de soja podem reduzir a intenção de plantio e a produtividade do grão neste ano”, alerta.

O estado foi responsável por 12% dos abates de suínos e 9,5% dos abates de frangos em 2023. As enchentes devem prejudicar, principalmente os suínos devido ao ciclo mais longo. “Considerando tais impactos, o PIB Agropecuário no Brasil pode recuar 3,5%. Por fim, as perdas no agronegócio podem ser ampliadas pela logística, que afeta tanto o escoamento da safra bem como impede a chegada de insumos. Esse parece ser um problema importante para os setores de laticínios e carnes”, analisa o estudo,

A tragédia climática do Rio Grande do Sul também pode ter impactos indiretos sobre os preços de alimentos no restante do país. A principal preocupação é que o arroz puxe a inflação no setor pela representatividade gaúcha na produção nacional e a importância do produto na cesta básica.

“Uma referência para pensar nos possíveis impactos em preços do cereal é o ciclone subtropical que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2008. Naquele momento, os preços subiram cerca de 40% no atacado e 20% no IPCA em um mês. A valorização do cereal naquele ano também foi influenciada pelos preços internacionais, em um contexto de menor produção e embargos à exportação impostos por diversos países”, compara.

Reconstrução no Rio Grande do Sul: 38 rodovias, aeroporto e serviços de água e luz

O setor de infraestrutura e logística é o primeiro que sofre com o impacto das tragédias climáticas. Além das residências particulares, o dano coletivo fica exposto nas ruas, estradas e na interrupção dos serviços básicos como transporte público, energia elétrica e água.

Segundo o governo gaúcho, mais de 400 mil pontos ainda estavam sem energia elétrica na quinta-feira (8), que significa cerca de 8% do total no estado, e mais de 500 mil clientes estavam sem fornecimento de água (19% do total).

Nas estradas, 85 trechos de 38 rodovias seguem com bloqueios totais ou parciais e escancaram os desafios pela frente para reconstrução do Rio Grande do Sul. O Aeroporto Internacional de Porto Alegre suspendeu as operações de voos até o dia 30 de maio. “As paralisações e os gargalos logísticos podem impactar a indústria local no curto prazo. Há também preocupações com os danos estruturais, que terão impacto mais persistente.”

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