A técnica de laboratório que teria assinado laudos com falso negativo para órgãos infectado com HIV, e que levou à contaminação de seis pessoas, se entregou à polícia na tarde desta terça (15) no Rio de Janeiro. Jacqueline Iris Bacellar de Assis era uma das procuradas pela polícia na operação deflagrada na segunda (14) e que prendeu um dos sócios do laboratório PCS Saleme, pivô do escândalo revelado na semana passada.
Jacqueline compareceu à Delegacia do Consumidor acompanhada de dois advogados, mas sem prestar declarações à imprensa. Ela trabalhava como auxiliar administrativa no laboratório e alega, segundo a defesa, que exercia apenas funções burocráticas e que seu nome e assinatura foram utilizados de forma indevida.
De acordo com a técnica, segundo apuração da TV Globo, a assinatura estava armazenada no sistema do laboratório e era utilizada em laudos sem seu consentimento. No entanto, a investigação aponta que Jacqueline apresentou um diploma de biomética, em 26 de abril de 2022, que não foi reconhecido pela Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera, onde supostamente teria concluído a formação.
A universidade afirmou que “não emitiu certificado de conclusão de curso de graduação, de qualquer natureza, para Jacqueline Iris Bacellar de Assis”. Esse diploma foi apresentado ao laboratório em agosto, como mostrado em conversas de aplicativo de mensagens informadas pelo laboratório.
O PCS Lab Saleme confirmou ter recebido o diploma e uma carteira profissional de Jacqueline no momento da contratação. No entanto, a clínica questionou a autenticidade do material apresentado, destacando que a técnica “induzia o laboratório a acreditar que possuía competência para assinar laudos”. A clínica também enviou à polícia prints de conversas em que Jacqueline teria enviado o diploma falso.
A carteira, no entanto, exibia um número de registro profissional pertencente a uma biomética que atualmente mora em Recife e nunca trabalhou para o laboratório.
Além disso, Jacqueline está inscrita no Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ) e no Conselho Federal de Farmácia (CFF) como técnica de patologia clínica, mas o CRF-RJ destacou que para assinar laudos, seria necessária uma formação acadêmica de nível superior, o que a acusada aparentemente não possui.
O advogado de Jacqueline, José de Arimatéia Félix, não comentou o caso até o momento.
A ministra Nísia Trindade, da Saúde, classificou o caso como “inadmissível” e que o regramento em vigor para testes de sorologia de HIV em órgãos é eficaz, mas que o laboratório não o cumpriu.
“O problema não está no regramento existente, mas ele não foi cumprido. É importante dizer isso, ele não foi cumprido. O laboratório não apresentou as condições necessárias para o cuidado que se tem que ter com os transplantes. Isso tudo é muito regrado e essas regras não foram cumpridas”, disse a jornalistas.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou na segunda (14) que o laboratório PCS Lab Saleme, responsável pelos exames de sorologia dos órgãos doados, havia diminuído o controle de qualidade para maximizar os lucros, o que levou à falha nos testes de contaminação.
“É um caso que não pode ser admitido, é algo inusitado, que nunca aconteceu e que não pode ser tolerado. Queremos fortalecer a confiança no Sistema Nacional de Transplantes. Ao acontecer um caso como esse, tem que ser investigado porque ele foge a regras e controles que existem”, completou Nísia Trindade.
O caso veio à tona no início de setembro quando um paciente que havia recebido um transplante de coração no final de janeiro apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV, embora não tivesse o vírus antes do procedimento. No entanto, a apuração só foi efetivamente tocada adiante após a Band revelar o caso na última sexta (11) e que foi confirmada à Gazeta do Povo.
A descoberta levou as autoridades a examinarem outros dois pacientes que receberam rins do mesmo doador, confirmando a infecção. Ao todo, seis pessoas foram contaminadas.
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