A produção de leite local em Santa Catarina não encara um futuro otimista. É o que afirma o presidente do Sindileite (Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Santa Catarina), Selvino Giesel. Segundo o representante, o encarecimento do custo para produzir leite, combinado com o crescimento da importação de derivados cria a “tempestade perfeita”.
Conforme o Boletim Agrícola do estado (Epagri/Cepa), com um percentual de 8,3% apenas no primeiro semestre de 2023, o ano deve encerrar com uma oferta de laticínios importados “bem mais significativa” em comparação com os últimos anos, exceto em 2016, quando os importados representaram 7,5% da oferta total.
Segundo Giesel, a estiagem prejudicou as safras e, consequentemente, a produção de grãos e silagem, o que encareceu o custo para produzir leite. Ele explica que essas condições, combinadas com a importação livre de taxas de países como a Argentina e o Uruguai, que se beneficiam do Mercosul, fazem com que os preços mais baratos sejam encontrados fora do Brasil.
O cenário tem gerado movimentação do setor, a exemplo da Aurora Coop, que por meio do diretor presidente executivo, Neivor Canton, disse que as consequências á crise do leite são “preocupantes”, caso nada seja feito para frear as importações.
“Há relatos de que produtores de leite de Santa Catarina estão abandonando a atividade em consequência da nova situação do mercado brasileiro, marcado pela excessiva importação de leite e pela queda persistente da remuneração. Toda a cadeia produtiva do leite está padecendo dessa situação”, afirma trecho do manifesto da cooperativa, publicado em 15 de agosto.
Medidas tomadas pelo governo federal para frear crise do leite não são efetivas
Em uma tentativa de amenizar o problema, o governo federal decidiu reduzir unilateralmente a tarifa externa comum (TEC) em 10%, por meio da Resolução Gecex 353, de 2022. Com isso, 29 produtos terão imposto de importação entre 10,8% a 14,4%.
A medida, no entanto, pouco influencia no impacto da importação sobre os produtores locais. Segundo Tabajara Marcondes, analista de socioeconomia e planejamento agrícola da Epagri/Cepa, cerca de 90% da oferta de importação não é afetada pela decisão.
Segundo o presidente do Sindileite, a necessidade de repensar os moldes do Mercosul pode ser uma solução a longo prazo. Giesel explica que uma equiparação em exigências ambientais, tributárias e trabalhistas entre o Brasil e países como o Uruguai e a Argentina faria com que a competição internacional de preços ficasse mais justa.
No entanto, o representante dos produtores locais de leite acredita que, diante da iminência de uma crise que pode fazer com que o setor perca produtores por desistência, um subsídio do governo federal pode amenizar o impacto dos prejuízos futuros.
“Muitos produtores estão saindo da atividade, o que vai ser um problema no futuro, porque hoje o consumidor vai optar pelo preço mais barato, mas no futuro a tendência é esse cenário mudar. Se não tomarmos medidas, esse queijo vai encarecer, e em contrapartida nós vamos ter menos produtores, menos produção local. Então esse consumidor que está surfando nessa onda vai pagar a conta”, destaca Giesel.
Cenário pode se agravar até o fim do ano
Para o analista da Epagri/Cepa, se a crise existir, será a partir deste segundo semestre. Segundo ele, o boletim agrícola aponta que o preço para o produtor local foi afetado em dois meses, julho e agosto. Conforme o levantamento, o preço médio praticado pelo produtor rural é de R$ 2,58, o que segundo Marcondes, ainda é sustentável.
No entanto, o especialista afirma que uma crise pode se formar a partir do momento que o preço médio diminuir a ponto de o produtor de leite passar a não conseguir arcar com os custos da produção.
Já o presidente do Sindileite não vê o futuro com otimismo. Segundo ele, a recuperação da produção, que foi influenciada por uma estiagem mais fraca em 2022, não irá acompanhar o ritmo acelerado das importações.
“Não sei como vai fechar esse ano, se persistirem essas importações que continuam ainda vindo em volumes expressivos. Nós não vamos ter uma saída, empresas estão fechando. Eu tenho muito medo.”
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