Governo do Rio Grande do Sul quer informações da concessionária sobre danos em ferrovias que seguem inoperantes.| Foto: Pete Linforth/Pixabay
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Quase três meses após a enchente histórica registrada no Rio Grande do Sul, setores da economia contabilizam prejuízos e buscam alternativas para retomar o sistema de transportes. No caso das ferrovias, os carregamentos por trilhos estão travados, deixando os gaúchos isolados do Brasil.

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Detentor da terceira maior malha férrea brasileira, atrás de São Paulo e Minas Gerais, o Rio Grande do Sul tem cerca de 3,3 mil quilômetros de ferrovias – no Brasil inteiro são aproximadamente 30 mil quilômetros, segundo o Ministério dos Transportes. Trechos considerados essenciais para a logística de cargas e passageiros seguem inoperantes, obstruídos por entulhos, ou simplesmente devorados pela enxurrada. Ainda é incerto o tempo que vai levar para o restabelecimento pleno da atividade.

Os trechos que cortam o estado e que estão em operação comercial são concessionados à Rumo Logística, operadora da Malha Sul, em contrato que segue até o ano de 2027. É dela que o governo do estado quer respostas sobre os danos à infraestrutura e quando os problemas serão solucionados.

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Há cerca de duas semanas, o vice-governador Gabriel Souza (MDB) se reuniu com representantes da concessionária e pediu agilidade no levantamento. Segundo o Executivo estadual, a Rumo se comprometeu a apresentar, até agosto, um diagnóstico dos problemas causados pelas enchentes, mas o estado quer soluções.

Por enquanto, sabe-se apenas que a conexão com outros estados está completamente obstruída. O vice-governador disse que “qualquer modal logístico que tenha sido impactado pelas enchentes precisa apresentar um diagnóstico de danos das suas estruturas”.

Souza disse que o estado tem sentido falta deste levantamento da malha férrea e que não se pode mais esperar, diante das limitações e falta de conectividade. “Só a partir desse levantamento é que podemos propor soluções e projetar ações condizentes para o modal, que já tinha necessidade de investimentos para modernização e retomada em diferentes trechos”, completou o vice-governador.

O estado registrou em 2023 um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 640 bilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e depende dos trilhos como ponto-chave de desenvolvimento. São cerca de 3 milhões de toneladas transportadas pelo modal anulamente.

Concessionária iniciou operação em 3,1 mil km, mas opera em apenas 1,6 mil km

A Rumo Logística detém a concessão de pouco mais de 3,1 mil quilômetros de ferrovias no estado, porém cerca de 1,6 mil quilômetros estão desativados há anos, aponta diagnóstico da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Quanto aos outros 1,5 mil quilômetros, as demandas recentes e os danos provocados pelas enchentes estão sendo acompanhados pelo Departamento de Ferrovias, ligado à Secretaria de Logística e Transportes (Selt) do governo estadual.

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A Gazeta do Povo procurou a pasta, mas foi informada que o assunto deveria ser tratado diretamente com a Rumo, pelo fato de haver a concessão. O governo do Rio Grande do Sul disse que o gabinete do vice-governador tem tratado da pauta a partir do Ministério dos Transportes e da Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário, órgão vinculado à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A reportagem não obteve retorno da ANTT até a publicação deste texto e o espaço segue aberto para manifestações.

A Rumo Logística também foi procurada e disse, em nota, que “está mobilizada no levantamento e avaliação de todos os danos causados pelas chuvas que impactaram o estado” e que “dada a complexidade e abrangência da situação, ainda não é possível estimar prazos sobre os procedimentos necessários”. Comunicou que a empresa segue em diálogo com o governo federal, poder concedente, e demais autoridades competentes do setor para avaliação conjunta do cenário.

Abastecimento de comnustível migrou das ferrovias para outros modais

No auge da enchente que afetou o Rio Grande do Sul, quando cidades inteiras ficaram debaixo d'água, foram registrados mais de 60 bloqueios nas ferrovias, segundo registro da ANTT. Agora, há ao menos quatro grandes pontos de obstrução em locais estratégicos.

Entre os principais serviços afetados está a distribuição de combustíveis. A demanda vem sendo suprida por caminhões ou navios. Antes do episódio climático extremo, oito em cada dez litros de etanol que abastecem o estado chegavam ao Rio Grande do Sul por vagões.

Um trecho que segue bastante afetado é na Ferrovia do Trigo, de Passo Fundo a Roca Sales. Apenas um dos percursos no estado segue em funcionamento pleno, que vai de Santa Cruz do Sul ao Rio Grande, para o transporte de grãos. Mesmo assim, a operação é reduzida, com duas viagens diárias - antes eram oito.

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"Não temos conexão ferroviária com Santa Catarina e com os outros estados. Estamos isolados no modal ferroviário do resto do país, isso é preocupante", reforçou o vice-governador do Rio Grande do Sul.

Sem passeios de trem, turismo é afetado na serra e nos vinhedos

Além da preocupação com os trens de cargas, há tensão sobre a operação dos trens de passageiros nesta que é considerada a alta temporada do turismo. Os passeios são um importante instrumento econômico para a região serrana do Rio Grande do Sul, marcadamente no Vale dos Vinhedos.

A Associação de Municípios Turísticos do Vale do Taquari (Amturvales), que reúne 27 cidades do roteiro, também quer explicações sobre as perspectivas de retomada de transporte por uma das principais rotas turísticas sobre trilhos no Brasil. O órgão reconhece que é um trabalho árduo e oneroso, mas reforça que o silêncio da concessionária precisa ser rompido.

“Precisamos traçar um plano de reconstrução”, clamou. O Trem dos Vales, que opera no Vale do Taquari, região duramente castigada com enchentes no fim de 2023 e depois em maio deste ano, é um dos percursos sem operação turística.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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