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Vinho Serra Gaúcha Rio Grande do Sul
Serra Gaúcha concentra 80% das vinícolas do Rio Grande do Sul.| Foto: Pixabay

O turismo relacionado aos vinhos foi um dos diversos setores afetados pelas chuvas e enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024. A Serra Gaúcha, que concentra cerca de 80% das vinícolas do estado, sentiu fortemente o fechamento do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e o bloqueio das principais estradas que chegam à região, afastando os turistas na época de maior ocupação de hotéis, restaurantes e vinícolas.

“Não conseguimos fazer uma estimativa de prejuízo, mas comparando com anos passados, deixamos de faturar muito por causa da falta do turismo”, resume o diretor técnico da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) e diretor do Conselho Regulador da Indicação Geográfica Vale dos Vinhedos, Moisés Brandelli.

A percepção no Vale dos Vinhedos, que compreende localidades próximas a Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Garibaldi, é de que as tragédias de 2024 foram mais desastrosas do que a pandemia de Covid-19, apesar do espaço de tempo menor. Durante a pandemia, os estabelecimentos fecharam por pouco tempo e logo voltaram a receber turistas, até porque a Serra Gaúcha não foi uma região com alto índice de casos e mortes devido à doença.

Com as chuvas e enchentes do último ano, a população local se mobilizou para ajudar quem foi diretamente afetado. Estabelecimentos liberaram, em vários momentos, os funcionários para que pudessem não só lidar com problemas pessoais em decorrência das tragédias como para ajudar quem estava precisando no período mais agudo. “As pessoas deixaram de lado o trabalho para se dedicar aos outros”, atesta Brandelli.

O enoturismo não se limita às vinícolas e aos milhares de visitantes que vão até elas. Apesar de venderem para todo o Brasil, essas empresas têm um impacto considerável no comércio local. Sem turistas, as vinícolas também sentiram. “A maioria das vinícolas atende restaurantes locais e lojas, aproveitando o turismo. Como afetou grande parte da Serra Gaúcha, os impactos foram tão grandes quanto a pandemia”, complementa o diretor da Aprovale.

A principal perda do setor no ano passado foi com turistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que chegam prioritariamente por via aérea — o aeroporto de Porto Alegre ficou fechado de maio a outubro. Nesse período, a visitação ficou restrita quase exclusivamente a gaúchos, catarinenses e paranaenses.

“Agora vamos aguardar como será neste ano. Como meu avô dizia, ‘cavalo encilhado passa uma vez só’, então temos que aproveitar a oportunidade em 2025 para contar com os turistas de todo o Brasil novamente”, vislumbra Brandelli.

Vinhedos foram pouco afetados pelas chuvas de maio

Quando as chuvas arrasaram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado, os produtores de uva já haviam feito a colheita, o que não impactou diretamente na produção dos vinhos e sucos no ano passado. Em compensação, o setor já havia registrado uma queda, especialmente por causa das chuvas - as registradas na primavera de 2023.

De acordo com a Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, em 2024 houve uma redução de 26,98% na produção de uvas na comparação com o ano anterior — foram colhidos 485,6 milhões de quilos de uvas no ano passado, sendo que foram produzidos 125,2 milhões de litros de vinho. No caso dos vinhos, a queda na produção foi de 42,04%.

Para 2025, deve haver alguma perda extra em decorrência das tragédias, mas pouco significativa. De acordo com o Emater/RS-Ascar, cerca de 500 hectares de parreirais foram perdidos, principalmente por causa de deslizamentos. Isso representa cerca de 1% de toda a produção que começa a ser colhida agora em janeiro na Serra Gaúcha.

“Os relatos que temos agora para essa safra são positivos. De modo geral não há nenhum indicador de queda de safra de uva. Os indícios são bons”, aponta o gerente técnico estadual adjunto da Emater/RS-Ascar, Luís Bohn.

Segundo o especialista, o Rio Grande do Sul apresenta características que aumentam a imprevisibilidade do clima, principalmente com mais chuvas e temperaturas mais altas no inverno. Não por acaso há pesquisas, incluindo da Embrapa, para criar variedades mais resistentes às intempéries.

“Precisamos estar preparados para isso [impactos do clima] e o segredo está nos trabalhos de manejo, adubação, especificação de local e variedades de uvas. Isso tudo define também a qualidade do vinho”, acrescenta Bohn.

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