Secretário Wilson Pollara ficou afastado do cargo por 90 dias e foi convidado por Pablo Marçal para cargo em São Paulo.| Foto: Gustavo Mendes/Câmara Municipal de Goiânia
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O secretário municipal de Saúde de Goiânia (GO), o médico Wilson Pollara, foi preso na última quarta-feira (27) durante a operação Comorbidade, que cumpriu três mandados de prisão temporária e oito de busca e apreensão por suspeita de associação criminosa e irregularidades no pagamento de contratos de serviços.

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Segundo a investigação do Grupo de Atuação Especializada no Patrimônio Público (Gaepp), do Ministério Público de Goiás (MP-GO), as vantagens indevidas oferecidas em contratos provocaram prejuízo aos cofres públicos e no atendimento da população na capital goiana, que atravessa uma crise estrutural na rede de saúde.

Entre as irregularidades apontadas pelos promotores estão divergências na ordem cronológica entre serviços e pagamentos. Além do secretário de Saúde, o diretor financeiro da pasta e o secretário executivo foram detidos. Nas residências dos alvos dos mandados de prisão e de um empresário foram encontrados R$ 20 mil em dinheiro, de acordo com o MP-GO.

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Pollara assumiu o cargo de secretário da Saúde na gestão do prefeito goianiense Rogério Cruz (Solidariedade) em setembro de 2023, quando chegou à capital com o status de ex-secretário paulistano nas gestões tucanas de João Doria e Bruno Covas entre 2017 e 2018. Ele deixou o cargo para coordenar o plano de governo de Doria na área da saúde durante a campanha ao governo paulista, vencida pelo tucano naquele ano.

Apesar do currículo, Pollara foi afastado por três meses do cargo pelo Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO), em julho deste ano, sob suspeita de má-fé na tentativa de contratar funcionários e ambulâncias para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Goiânia.

Paralelamente à atuação do esquema criminoso, a rede pública de saúde da capital enfrenta uma crise de gestão multifatorial sem precedentes.

Apontamento que integra a investigação do Ministério Público de Goiás

Antes do afastamento, o deputado estadual Clécio Alves (Republicanos) apresentou um projeto de lei, em março, para conceder o Título de Cidadania Goiana a Wilson Pollara. Após as primeiras denúncias contra o secretário da Saúde, o projeto de lei foi arquivado. 

Após a prisão do médico, o prefeito Rogério Cruz anunciou o nome de Cynara Mathias Costa como nova secretária da Saúde. Ela e outros dois servidores de carreira assumem os cargos ocupados pelos alvos da operação Comorbidade. “A prefeitura reforça que está colaborando plenamente com as investigações e tomará todas as medidas administrativas cabíveis conforme desdobramento das apurações”, afirma a atual gestão.

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Wilson Pollara foi convidado por Pablo Marçal para assumir Secretaria da Saúde

Durante a campanha eleitoral 2024, Pollara voltou aos holofotes na capital paulista no primeiro turno. Então candidato a prefeito de São Paulo, o empresário e influenciador Pablo Marçal anunciou o médico como o possível secretário municipal de Saúde, se fosse eleito.

Questionado sobre desgastes gerados pela indicação de Pollara, Marçal respondeu que “para quem quer governar, desgaste é café da manhã, almoço e jantar”. O candidato reforçou que se fossem comprovadas quaisquer irregularidades durante a gestão de Pollara em Goiânia, o nome dele seria retirado da equipe numa eventual gestão paulistana.

MP aponta crise de gestão na saúde e violação de direito fundamental

Segundo a investigação do MP-GO, os supostos envolvidos no esquema deixaram de repassar as verbas públicas previstas em convênios e recursos destinados às entidades terceirizadas responsáveis pela gestão de unidades hospitalares e maternidades. Entre elas, está a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) que, conforme os promotores, atingiu o passivo de R$ 121,8 milhões junto a fornecedores, sem condições de manter o funcionamento de forma regular.

“Paralelamente à atuação do esquema criminoso, a rede pública de saúde da capital enfrenta uma crise de gestão multifatorial sem precedentes, caracterizada pela desestruturação progressiva da assistência hospitalar, restrição ao acesso a leitos de enfermaria e UTI, falta de inúmeros itens básicos, interrupção de serviços essenciais, graves deficiências em políticas públicas de assistência básica, descumprimento reiterado de decisões judiciais, frustração e burla deliberada à atuação dos órgãos de controle externo, além de indícios de irregularidades em diversas contratações”, aponta o MP-GO.

O órgão acrescenta que “essa situação resulta em violação massiva de direitos fundamentais, especialmente dos direitos à vida e à saúde da população dependente do Sistema Único de Saúde [SUS]”.

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Em nota enviada à Gazeta do Povo, o advogado Thiago Peres disse que entrou com o pedido de habeas corpus em favor do médico sob a justificativa de que ele não representa risco à investigação. Além disso, Peres argumenta que a própria decisão judicial prevê “medidas suficientes” para assegurar o curso do processo.

“Dentre as medidas adotadas destacam-se o afastamento do cargo, a suspensão do exercício de suas funções, a proibição de sua entrada em prédios relacionados à prestação de serviços de saúde e a restrição de contato com testemunhas ou outros investigados. Portanto, a defesa entende que a prisão temporária de Pollara é desnecessária”, defende.

O advogado ainda informa que aguarda a realização da audiência de custódia, assim como a análise do pedido de habeas corpus. “A defesa reitera sua convicção de que, ao longo do processo, será comprovada a inocência de seu cliente em relação às acusações levantadas de forma precipitada pelo Ministério Público de Goiás”, comenta.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]