A primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro Ana Botafogo inaugura uma nova fase, na qual deseja dançar e viver personagens maduras e fortes emocionalmente. É o caso de Marguerite, da coreografia Marguerite e Armand, que Frederick Ashton criou para Margot Fonteyn em 1963 e que Ana estreia hoje no Guairão, em Curitiba. A turnê nacional subsequente comemora seus 35 anos de carreira, iniciados aqui mesmo, quando conheceu Eleonora Greca, que se despede dos palcos no mesmo espetáculo com o duo "Beatriz" de O Grande Circo Místico (leia o perfil da artista curitibana na edição de domingo da Gazeta do Povo). No palco do teatro e aflita com a chegada do cenário, vindo do Colón, de Buenos Aires, Ana conversou com a reportagem:
Por que escolheu Marguerite e Armand para a comemoração?Eu estava atrás de uma personagem que eu nunca tivesse feito, uma bailarina mais madura. A Dama das Camélias [do romance original de Alexandre Dumas] era uma em que eu já pensava havia anos. Várias pessoas me estimularam, dizendo que esse era um papel muito bom para mim. Então consegui os direitos autorais o que foi difícil porque só uma outra bailarina francesa havia dançado depois da Margot Fonteyn, para quem a coreografia foi feita. Essa é uma versão muito bonita da obra, que conta toda a história de Marguerite e Armand com uma sonata de Liszt. Neste ano comemoram-se os 200 anos de seu nascimento.
Duas comemorações...Um destaque da nossa montagem é o pianista Iván Rutkauskas, artista talentosíssimo de 22 anos, expert em Liszt, compositor que outros músicos mais velhos recusam executar. Marguerite tem sido muito boa, porque é uma personagem por inteiro. Em 35 minutos, contamos toda a história. Estou trazendo a produção do Teatro Colón, onde meu par Federico Fernandez já dançou essa peça. Os desenhos de cenário e figurino são do Royal Ballet de Londres.
Como está sendo viver a dramaticidade do papel?Um grande trabalho. Faço aulas de teatro, então, antes de aprender a coreografia, trabalhei com A Dama das Camélias para entrar no espírito, tanto as cenas com Armand quanto com o pai dele, que é muito importante. Depois coloquei isso dentro do balé, que começa alegre para acabar numa grande tragédia. Gosto de desafios de interpretação de personagem, como a Giselle camponesa e morta, o cisne branco e o negro. A diferença é que, no teatro, tudo é mais lento, e no balé você tem de dar conta das nuances de interpretação. E estamos começando por Curitiba porque iniciei minha carreira no Teatro Guaíra.
Como você chegou ao Guaíra?Meu início profissional aconteceu na França, onde fui estudar e acabei fechando um contrato com a companhia de Roland Petit [coreógrafo morto em julho]. Quando voltei ao Brasil, um sonho era trabalhar no Theatro Municipal do Rio, mas ele estava fechado para obras. E aqui no Guaíra estavam precisando de uma bailarina para dançar Giselle, em 1977. O coreógrafo soube que eu tinha chegado da Europa e me chamou para um teste: acabei fechando contrato por dois anos. Quando houve uma troca de direção do Balé Guaíra aproveitei para voltar para o Rio, e em 1981 entrei para o Theatro Municipal. Mas minha primeira turnê nacional foi com o Guaíra, que me lançou no país, fez as pessoas saberem de mim.
O Balé Guaíra, desde o começo, produziu também peças contemporâneas. Qual é sua relação com esse gênero?Fiz Faculdade de Licenciatura em Dança há dois anos, numa turma só de bailarinos do Theatro Municipal que queria estudar anatomia, fisiologia, biologia, que são muito importantes para o ensino da dança. E a faculdade é muito orientada para a dança contemporânea, então pude aprender a vivenciar no meu corpo de bailarina clássica todas as suas técnicas, com coreógrafos como Paulo Caldas, Ana Vitória e Márcia Rubin. Como foi um intercâmbio, as aulas começavam depois do fim dos ensaios. E finalmente tenho um diploma de Terceiro Grau.
Que peças marcaram sua carreira?Por Giselle tenho um carinho imenso, apresentei em Londres e Havana. Ele tem dois atos muitos diferentes, e gosto do desafio de interpretação que propõe. Gosto também de O Lago dos Cisnes, que tem essa dualidade difícil; de Dom Quixote, porque é muito vigoroso, tem muita técnica; e Coppélia, que mostra um lado mais engraçado da bailarina. As heroínas mais jovenzinhas como a de La Fille Mal Gardée já eliminei da minha vida. Quero fazer histórias mais emocionantes.
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Serviço:
Treze Gestos de Um Corpo / Beatriz /Marguerite e Armand. Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/n.º), (41) 3304-7900 Dia 17 de setembro, às 21 horas. R$ 80 e R$ 40 (meia-entrada válida para estudantes e pessoas acima dos 60 anos). 20% de desconto no preço de inteira e não cumulativo com outras promoções para Cartão Fidelidade Teatro Guaíra e/ou cartão do Clube do Assinante da Gazeta do Povo, na compra de até dois ingressos válido somente para o titular do cartão.
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