Vídeo| Foto: RPC TV

Com o intuito de repetir o sucesso das duas temporadas de Hoje É Dia de Maria, adaptação da obra do dramaturgo santista Carlos Alberto Soffredini, realizada em 2005 pelo núcleo do diretor Luiz Fernando Carvalho (do filme Lavoura Arcaica), a Rede Globo estréia hoje, após o humorístico Casseta & Planeta, mais uma produção televisiva em que a linguagem literária é transportada para a telinha com tratamento poético e estética cinematográfica.

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Dividida em cinco capítulos, a microssérie A Pedra do Reino, dirigida por Carvalho e roteirizada por ele em parceria com o escritor Braulio Tavares, mesmo antes de ir ao ar, já inova e marca a história da televisão brasileira por, simultaneamente, homenagear um dos maiores escritores do país e inaugurar um projeto de incentivo à literatura, à cultura e aos talentos regionais do imenso e variado território tupiniquim.

Repetindo as sintonizadas parcerias dos especiais A Mulher Vestida de Sol (1994) e A Farsa da Boa Preguiça (1995), Carvalho comanda outra adaptação de uma obra do paraibano (radicado em Permambuco) Ariano Suassuna: Romance D’a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971). A nova microssérie segue os moldes da bem-sucedida O Auto da Compadecida, peça de autoria de Suassuna levada à tevê e ao cinema por Guel Arraes em 1999 e 2000, respectivamente.

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A Pedra do Reino serve como uma espécie de presente de aniversário ao escritor, que completa 80 anos no próximo sábado, quando será exibido o último capítulo da microssérie.

Além da especial e merecida homenagem a Suassuna, A Pedra do Reino representa o pontapé inicial do projeto Quadrante, iniciativa de Luiz Fernando Carvalho, com produção da Rede Globo e da Academia de Filmes de São Paulo, que pretende levar à televisão duas microsséries por ano, inspiradas em obras de talentos regionais da literatura brasileira, e realizadas exclusivamente com elencos e equipes de produção formadas por profissionais desconhecidos dos respectivos estados de origem dos escritores cujas obras serão adaptadas.

"Quadrante é um projeto que trago há mais de 20 anos comigo. Trata-se de uma tentativa de um modelo de comunicação, mas também de educação, em que a ética e a estética andam juntas. Estou propondo, através da transposição de textos literários, uma pequena reflexão sobre o nosso país", explica o diretor, em um dos cadernos de anotações escritos durante as filmagens, realizadas em uma cidade cenográfica construída em Taperoá, sertão da Paraíba, onde Suassuna viveu parte de sua infância.

Formado por cinco volumes, que incluem um diário do elenco e da equipe de trabalho, os Cadernos de Filmagem estão sendo lançados em um estojo especial pela editora Globo, juntamente com o livro de fotos A Pedra do Reino, que destaca imagens da série registradas por Renato Rocha Miranda.

Novos talentos

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O espectador não deve estranhar quando sintonizar a Rede Globo hoje à noite e não reconhecer nenhum dos atores de A Pedra do Reino – cujo enredo narra a saga e os caleidoscópicos pensamentos do herói sertanejo Quaderna, contador de histórias, poeta, charadista e redator de almanaques, que acredita ter encontrado traços reais ao investigar a fundo suas raízes genealógicas. Todos os 50 atores do elenco da microssérie são nordestinos, descobertos em grupos teatrais e circenses da região, entre eles o que interpreta o protagonista da trama.

Após a elogiada atuação no filme Baixio das Bestas (de Cláudio Assis) – ainda inédito nas salas de exibição curitibanas –, papel que rendeu o prêmio de melhor ator coadjuvante na última edição do Festival de Cinema de Brasília, o pernambucano Irandhir Santos, faz sua estréia na televisão, assim como os demais colegas de trabalho.

Antes do início das filmagens, pouco antes dos ensaios gerais, a equipe selecionada pelo projeto através de oficinas – que além de atores, reuniram músicos, costureiras, bordadeiras, artesãos, marceneiros, técnicos de som e iluminação, todos nordestinos – pôde contar com os sábios conselhos da veterana atriz Fernanda Montenegro, que ministrou uma palestra a todos os envolvidos na realização da série.

Com pouco mais de 13 mil habitantes, a pequena Taperoá teve seu cotidiano virado de pernas para o ar durante os três meses de trabalho necessários para a produção de A Pedra do Reino, o que, longe de significar transtorno e mau-humor aos moradores, trouxe oportunidades de trabalho – apenas a figurinista Luciana Buarque, empregou 22 pessoas para sua equipe – e alegria às vidas de sertanejos para quem a televisão, até então, era algo impalpável. "Eu vivia isolada", confirma a secretária aposentada Adelina, que teve a fachada de sua casa transformada em um dos cenários da série.

Encantada com o desfile de atores caracterizados pelo set de filmagem, a senhora mal conseguia apontar o que achava de mais bonito. "Tudo", responde, com olhos vidrados e um jeito um pouco triste, de quem sabia que aquilo tudo ia acabar.

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