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De sandália, vestido branco e com um copo de uísque à sua frente, Bruna Surfistinha sentou-se nesta sexta-feira no estande da Siciliano na 19ª Bienal do Livro de São Paulo para autografar seu livro "O doce veneno do escorpião" (Panda Books), que já vendeu mais de 80 mil cópias e esta há 16 semanas na lista de mais vendidos.

Em mais um dia de movimento fraco na Bienal (choveu muito durante a tarde, o que pode explicar, em parte, o público pequeno), o lançamento quebrou o clima de marasmo, com dezenas de adolescentes pedindo fotos e autógrafos à escritora.

Bruna, cujo nome verdadeiro é Raquel Pacheco, chegou à Bienal por volta das 17h30m. Passou meia hora numa salinha refrigerada atendendo jornalistas. Através do vidro, meninos com a cara cheia de espinhas se empurravam para observá-la e tentavam chamar sua atenção.

- Agora é assim, em todo lugar que ela vai a gente que andar rápido porque logo começa a juntar gente - comentava a assessora da editora.

A maioria das pessoas que esperavam na fila com o livro debaixo do braço eram jovens. Cristina Roman, de 48 anos, acompanhava a filha Renata, de 18, que é fã de Bruna.

- Eu não aprovo que ela leia esse livro. O primeiro que ela comprou eu joguei fora, mas aí ela me fez comprar outro. Vim aqui quase obrigada - explicou, depois de tirar uma foto da filha abraçada com a autora.

- Minha mãe não aprova, mas eu me identifico com ela, porque ela brigava muito com os pais e buscou independência - disse Renata.

Embora os grupinhos de garotas predominassem, também havia homens na fila, e eles, como elas, pediam fotos com Bruna. Um tascou um beijo na bochecha da escritora, que, talvez por diplomacia, talvez por ter mesmo achado graça, abriu um sorriso.

Alguns homens em volta soltavam umas cafajestadas, que ela fingia não ouvir. Bruna diz que tem recebido mensagens de leitores que dizem que "O doce veneno do escorpião" melhorou suas vidas.

- Vários casais comentam que ajudei a vida sexual deles, com as dicas do livro. Outras pessoas falam que passaram a ver as prostitutas de um jeito menos preconceituoso - afirma.

Ela diz não ser uma leitora voraz. O último livro que leu foi "Anjos e demônios", de Dan Brown. Um repórter pergunta com que parte da história ela se identificou.

- Com os anjos - responde, rindo.

Bruna está escrevendo outro livro, que será uma continuação do primeiro. "O doce veneno do escorpião" conta histórias dos três anos em que Bruna, filha de uma família de classe média, se prostituiu.

Aos 17 anos, depois de várias brigas com os pais, ela resolveu sair de casa. Depois de planejar a fuga, concluiu que o jeito mais fácil de manter seu padrão de vida era se prostituir. Em janeiro de 2004 ela criou um blog, onde falava sobre sua vida. Em pouco tempo, a página recebia milhares de visitias diárias, o que fez com que ela se tornasse conhecida.

Até hoje, a família não fala com Bruna. Oscilando entre simpática e levemente entediada durante as entrevistas, ela muda o tom de voz ao falar da relação com os pais e as duas irmãs mais velhas.

- Tem tanta mãe com filho bandido que vai visitar na prisão. Queria que minha mãe visse que não matei nem roubei ninguém, que não cometi nenhum crime - diz.

Ela está namorando há nove meses, e diz que já planeja o casamento.

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